segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

PAPEL DE OITENTA E OITO

E depois de ser comportado
Um gosto de velório na boca
O silêncio incomodado pelo excesso de gente enterrada nesse peito

Recado em papel de oitenta e oito
Enrugado de serpentear as rosas fechadas daquela madrugada

Vamos sorrir a modernidade
Com a visita ao dentista em dia
Esconder o rosto
E vestir outro com a palidez da estação

_É você quem define o que vai comprar
_É você quem define o que vai comprar, mas compre alguma coisa!

E depois de ser deportado
Da mesa caduca do boteco
O silêncio veio enfim me perdoar
E este peito pôs-se àquela gente toda ressuscitar

Agora há um riso lá fora a flutuar
E eu não estou aqui

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

UM POUCO DE SOL

Só vapor do café
Só resto de garoa
Desperte assim toda manhã
Escolha a marca da sua escova dental
Estenda os braços pra se esticar
A alma vê que é dia de escapar
Mas nem pense nisso
Pense que sempre existe um bem
Que sempre vão tentar
Que sempre vão mudar
A cor do lixo civilizado
Mas o cheiro é o mesmo

Só vapor do café
Só resto de garoa
Deixe um tempo pra você
Quando a água do chuveiro cair
Feche os olhos e respire devagar
Resista devagar
E seja acusado de bêbado
Acusado de vagabundo
Seja acusado de sonhar
De não ter o pé no chão onde eles gostam tanto de se arrastar

E vá passear por uma folha de papel
Vá passear por onde te faz lembrar
Que um dia não havia nada pra se comprar

E durma tarde esta noite
Durma bem tarde esta noite
Pra ter um pouco de Sol

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

IMAGINA

Imagina como sou
Enquanto escapo ileso da tua percepção entrevada
Teu coração platinado desafortunado de imaginação
Entende que ventou nas tuas gavetas?

Imagina como sou agora que sou
Meu pranto hoje raro
Meu riso quilométrico
Meu silêncio que te esquece
E desse esquecimento faz-se tua noite às claras
Insônia profunda