quarta-feira, 25 de maio de 2011

DE GRAÇA

Deite teus olhos sobre a cidade
Da janela que te abre pra mim
Essa tua negada verdade
Essa ladainha que não tem mais fim

Quanto vale aquele papel?
Quanto vale o automóvel que vai?
O branco bordado de um véu
A solidão com gelo num hi-fi

O que sonha a alma e a gente não vê?
Quanto vale as bobas rimas que faço pra você?

Deite teus olhos sobre meu coração
Toda senhora em sua torre de cristal
Meu nome feito tua oração
Minha falta feito teu maior mal

Quanta foi aquele anel?
Quanto foi a lamborghini?
O mundo todo seu
O vazio e um dry martini

O que sonha a alma e a gente nem vê?
Quanto vale o pedaço meu que eu dou de graça pra você?

segunda-feira, 9 de maio de 2011

AS LUAS DA MEIRA JUNIOR

E isso acontecia bem ali quando os olhos se fechavam
O anjo vagabundo avisava quando suas asas já balançavam:
Cuidado com a falta de ar, meninos e meninas!
Cuidado com a falta de vida que irão te oferecer em tantas esquinas!

Assim começava aquilo que fez do meu peito um sol de torrar ilusão
Aquilo que fez-me esquecer o caminho de volta ao chão
E foram tantos tombos
E foram tantos rombos nos bolsos de minha alma
Mas as moedas de luz brotavam feito gotas de chuva que desciam do meu céu

Havia eu
O réu maior do mundo
O pupilo febril daquele anjo vagabundo
Selvagem e sem dó
Derrubava as cercas do olhar do caduco vigia
As noites quando a Meira Junior engolia todos os lugares possíveis
O cheiro de papelão queimado
O silêncio desacanhado
A ciranda dos fantasmas:
Beto! Beto! Não esqueça da nossa história.
Não perca a doçura da fúria
Não endureça a alma como eles fazem sorrindo.

E foram tantos tombos
E foram tantos rombos no país dos meus olhos
Mas no jardim cresciam as minhas rosas
Que voavam como um presente
Sempre e sempre pra certa e futura pessoa errada

Havia eu
E um véu que cobria as perguntas
As placas
As faces ocas
Pare! Não ultrapasse!

O réu maior do mundo
O quintal fundo das minhas saudades
Onde diante da boca de concreto que vivia de mastigar idéias
Meu amor vinha
Com sua capa e sua insígnia
A lua
A rua onde eu esperava alguém me alcançar um dia.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

JOSEFA

Na grama que é feito um tapete
Ela leva suas crianças com cuidado
A tarde de sol e as noites de confete
A lua e nela o mundo todo pendurado

Na sala quando jaz o jantar estende
Ela tem na face os dias da enxada
E quem a desvenda não entende
A fundura dessa luz alienada

Quem sou eu então nesse conto que me acelera
Eu estava lá
E mesmo assim nunca estive a ponto de ver que ali estava dona tão rara

Quem seria eu sem a raspa desta estrela que me cuidava?
Me deu olhos pra ver além do breu
E disse:
Agora pegue o peito teu e me invente alguma palavra

segunda-feira, 2 de maio de 2011

A VARANDA DAS ALMAS

Onde vai você com o meu sono?
Onde vai com teu cheiro de abandono?
Eu fico aqui
Tá tudo bem
Eu fico em ti pra ser tão triste como você é também...

Onde vai a vida com a gente por aí?
Onde vou eu pela rua se ainda nem saí?
Eu durmo em ti
Tá tudo bem
Eu te guardo daí de onde só as nossas almas se vêem...

Ali na varanda de luz
Onde os olhos falam e o peito traduz:

Desculpa, tá?
Desculpa tudo aquilo que eu nunca te falei