sábado, 12 de novembro de 2011

QUANTO

Quanto tempo
Eu hoje quase quis perguntar
Você diluída no mundo
Eu nem sei onde te imaginar

Morro teimoso
É meu defeito achar direito meu coração nunca te enterrar

Voo sem jeito
Desengonçado
Sempre bem quieto
Vou te esquecendo de leve e com cuidado
Vou te esquecendo sem pressa
Teu corpo é só um retrato
Teu corpo é só um retrato

Quanto tempo
Eu hoje fui me tocar
Você pulverizada no mundo
Em que universo você foi morar?

Acordo teimoso
É meu consolo inventar um nome pro filho que eu ia te dar

Caio sem jeito
Espatifado
Sempre bem quieto
Vou te esquecendo de leve e com cuidado
Hoje já é tarde
Meu sono é zoado
Meu sono é zoado

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

POETAS NÃO VALEM NADA

Poetas não valem nada
Não acordam na hora certa
Não dormem durante a madrugada
Não sabem se comportar na ocasião exata

Falam o que pensam
São solitariamente mimados
Os anos não lhes pesam
Possuem corações desorbitados

Detestam relógios
Sonham com a mágica do acaso
Amam pra perder
Perdem pra saber se foi amor ou tempo jogado

Poetas não valem nada
Bebem demais
Habitam a sombra dos bares
O silêncio de suas ex-mulheres

Contam suas piadas alcoólicas
Rezam numa língua secreta
Dormem farrapos pela rua
Desnorteiam a séria vizinhança

São sonoros enquanto o bairro dorme
São quietos enquanto a engrenagem range
Sempre aqui e distantes
Sempre aqui e distantes

Poetas não valem nada
Não há como trancá-los dentro de casa
Não há como pôr suas almas na linha
Não há como domá-los

São precisos no que olham
São desagradáveis no que notam
E mesmo assim tão abomináveis
Algo em você adora não evitá-los

Poetas são corações acessos
E corações assim não se guardam numa gaiola

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

ACABO

Esvazio o que é agora este lugar
Desmonto as paredes desta casa
Desmonto os edifícios
As ruas e viadutos

Apago os postes da rua
Calo o semáforo
Arranco toda a cidade da epiderme do mundo

Esvazio quem eu sou neste lugar
Desmonto o corpo pelo ar
Desmonto as células
Átomo por átomo

Apago meus olhos
Acabo com calma
Arranco todo o medo da epiderme desta alma

E assim já fui tão longe só pra te encontrar
Tão longe só pra que te lembres de escrever o meu nome
No teu livro dos filhos que você ainda há de perdoar

Esvazio o que é agora meu amor
Esqueço suas vaidades
Esqueço suas vontades primitivas
Sua ditadura

Apago as palavras lançadas
Esqueço os poemas
Esqueço que um dia haviam as canções

E assim já fui tão longe e miúde só pra te encontrar
Tão longe só pra que te lembres de escrever o meu nome
No teu livro dos erros que tivestes o verdadeiro amor pra errar