quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Escotilha

Parei um pouco a caminhada
Foi falta do que fazer
Foi falta de sono
Foi mesmo a vontade de olhar a estrada

Parei aqui pra lembrar de você
Foi falta de algo novo
Foi pra esquecer
Foi uma flor fedorenta perdida na gaveta

Lá fora a lâmpada fluorescente
A esquina
A madrugada pálida
Lá fora o mar profundo fora da gente

Aqui o silêncio que só um aguenta
Solidão
Soluço
O submarino que alma frequenta

Pele, músculo, olho e cabelo
Mas nenhum sorriso na escotilha do espelho

Roupa, tique, conhaque e gelo

E nenhum sorriso na escotilha do espelho

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Desperdício (Dois)

Endurecer a alma é um desperdício de tempo
Do tempo que nos cabe aqui
Mesmo que te assolem os dedos apontados
Os sermões burros ensaiados
Mesmo que a solidão seja a tua única morada
Ante a gente dura
As faces duras
As palavras duras
O coração duro e virgem de si mesmo

Endurecer a alma é um desperdício

Então o deserto não esquece sua aridez quando anoitece?
O mar não recolhe sua amargura quando alimenta os rios?
Então nisso eu quero ser leve
Eu quero ter meu riso na memória dos meus amigos depois do meu ato final

Depois que chegar a hora de eu brincar noutro quintal