terça-feira, 17 de maio de 2016

Anjo irritado

Você, meu anjo de olhos de esmeralda
Meu anjo irritado
A esperança nas minhas trincheiras
Minha guerreira
Meu gol do campeonato

Eu, tolo, te entrego meus tortos poemas sem rima

Pois não há rima digna da tua beleza

Eu, que nunca te levo a minha casa

Visto que a minha casa jaz dentro de você mesma

quarta-feira, 11 de maio de 2016

O niilista

Não, hoje não
Não me fale do que há pra comprar
Da potência ou de quanto irá brilhar
Não me olhe através das coisas
Você fica tão feia… tão igual

Não aplauda o discurso bobo de bar
O abuso de quem pode pagar
Não me diga que é preciso aguentar
Você fica tão feia… e eu vou

Me conta
Quem segura a tua onda quando a farra acaba?
Quem conta a tua história quando você se cala?
E o tempo nos olha da esquina

Não, hoje não
Não me venda as tuas bugigangas
Tua ferrugem pra olhar as pessoas
Não me pese através das coisas
Você fica tão feia… tão igual

Não repita meu nome em tua cama
Minha culpa quando você não ama
Não me implore a tua tosca fama
Você fica tão feia… e eu vou

Me conta, me conta
Quem ainda apronta no céu?
Tua carteira ou as estrelas?

Te pego lá fora

Você me espera além da soleira da porta
Além da segurança do meu bloco
Arma a sua jogada
Prepara a sua armadilha

Mas se descuida
E se lambuza com a lama da sua própria bota

Você me espreita onde termina a minha frase
Onde respiro na minha pausa
Espalha o seu veneno
Cozinha o seu julgamento

Mas se descuida
E se lambuza com a lama da sua própria bota

E faz tempo que te espero
Faz tempo que incentivo qualquer coragem sua
Faz tempo que anseio pelo seu desafio
Pelo seu convite para que me enfrentes

É tão chato esperar pra quebrar a cara da tua falácia

Mas você recua
E se lambuza com a lama da sua própria bota
E se borra
E se borra
Mas espero
Eu te espero pra qualquer hora

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Vamos Vamos

Vamos recuar o abraço
Vamos ficar só num aperto de mãos
E dominar o nosso peito
Adestrar qualquer sentimento que combata a calculadora


Vamos recolher o riso
Vamos odiar com uma boa educação
E afogar o perdão
Assassinar a ponderação que desafia o gráfico percentual


Vamos desmaiar num susto fingido
Numa lágrima registrada
Enquanto no infinito deserto lucrativo
Dormem os ossos dos nossos irmãos


Vamos comprar o discurso
Vamos ficar calados no meio do pranto
Pois haverá o espólio podre
Haverá o hálito de ferrugem das hienas da corporação


Vamos desmaiar num susto tingido
Numa repulsa ensaiada
Enquanto limpamos dos nossos dentes

Os sonhos mortos dos nossos irmãos

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Moleque

Ninguém dali dava nada pra ele
Ninguém sabia do mundo dentro dele
Pra toda a gente
Pra toda a paróquia
Só um moleque riscando parede

Ninguém olhava além do retrato
Ninguém ouvia além da sirene
Quando era guerra
Quando era feriado
Só o moleque brilhando pra gente

Mas veja que chove
E depois vem o sol
Veja que dorme
E depois corre o mundo
Essa coisa que o adulto já esqueceu
Aquilo que era tudo e também era eu

Moleque, moleque
Como a gente se perdeu?
Moleque, moleque
Agora o tolo sou eu
Agora o tolo sou eu