segunda-feira, 16 de julho de 2012

QUARTO ESCURO


E se a insônia é a escola de uma alma andarilha?
E se a gargalhada é a pedrada na etiqueta de vidro?
E se mesmo depois de assassinado o sonho respira?
Se o gosto solitário não tem o sabor que a canalha acredita?

E se a lua é um retrato nos olhos dos bêbados?
E se o riso é a saudade que negam os que se dizem perfeitos?
E se a indiferença é a maquiagem dos abraços viúvos?
Se a solidão é estrada dos poetas?

E se a pressa for a desculpa dos tristes?
E se a falsidade for a puta dos ocos?
E se a comodidade for a mãe dos covardes?
Se o choro for a força dos santos?

E se eu fosse menos maluco
Se eu fosse menos distante
Teria o gosto nu das mulheres de estanho
Teria a vida pequena
Uma foto numa estante

E se a música é uma prece desavergonhada?
E se a alegria é o dom dos desajustados?
E se a compaixão é o segredo dos sábios?
Se o céu é o quintal de todas as crianças?

E se eu fosse como tantos outros?
Você ainda me detestaria com tanto carinho?
Se a minha calçada é essa tão distante da sua
Por que teus olhos ainda fazem berrar os meus sinos?

E se este meu amor que carrego
Surrado pelo mundo
Pisado no fundo
For o analgésico do meu coração sem parafusos?

Mesmo assim eu não prestaria?
A luz é um absurdo no universo de um quarto escuro