quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Uma música

Eu nem sei
É meu jeito
Meu defeito
Ou medo
Ou espanto
Ou costume

Eu nem sei
É minha jura
Minha loucura
Ou desvio
Ou amargura
Ou solidão

Você vai por aí sem saber
O que eu sinto
O que eu penso
A saudade que nunca confesso

Lá em casa
Depois de um tempo
Só você não notou
Desde o dia
Desde você
Uma música do Legião foi a mais tocou

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Lá no fundo

Vendia um afago
Depois lavava a mão com detergente
A pele lisa de qualquer cicatriz
O peito intacto de qualquer paixão doente

Fervia a água
Bebia só duas xícaras de café por dia
A cama pronta na marca das oito
O sono isento de qualquer doce rebeldia

Mas lá no fundo um coração
E ele nem sabia
Que lá no fundo um coração fazia seus planos
Dos sonos perdidos
Dos porres e risos
Dos desencontros
Do amor doído
Dos amigos bobos e lindos

Tramava os tombos
Tramava as voltas por cima
A solidão dos poemas
A multidão das piadas
A confusão da existência
A Alma
A Alma
A Alma

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Olá Lavínia

Olá, Lavínia
Olá
Deixe eu me apresentar
Eu conheço você pela moça que te trouxe pra esse lugar

Não sei bem mas era dia
Era noite também
Você sabe
Na alegria a gente cresce por dentro feroz feito um trêm

Nas bocas a notícia era você
Na lua a notícia era você
Lembro bem
Lá no fundo dos olhos verdes da moça era você

Cuidado, Lavínia
Cuidado
Deixa eu te contar
A pose é uma mentira que todo mundo finge acreditar

Nas rodas da gente importante
Na tolice importante
Vê lá
O terno é pornográfico mas a gente segue adiante

Olá, Lavínia
Olá
Eu já vou por aí
Mas fica esperta criança que a moça é doida por ti

A moça é doida por ti

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Os teus

Você não tem que soprar minha tristeza pra lá
Não é isso que quero de você
É meu peito entre o abandono e a leveza de cá
E é mais solitário do que se vê

Você não tem que burlar meu silêncio assim
Ele não é um muro pra você
É meu olhar sobre o mundo fora de mim
Enquanto você se ocupa com a tv

Mas quando ele se vende e dói se entregar
Ele diz que é só mais essa vez
E ele se vende por uma foto de frente pro mar
Diz que é só mais essa vez

E seus filhos sempre irão esperar até tarde
Seus amigos ficarão sempre pra mais tarde
Ele diz que é só mais essa vez
Ele diz que é só mais essa vez
Até o adeus derradeiro

Você não tem que dar um sorriso educado
Isso nunca fica bem em você
Eu não quero as coisas do teu mercado
Eu mastigo o que você lê

Mas quando ele se vende e dói se deitar
Ele diz que é só mais essa vez
E ele se vende por uma foto naquele jantar
Diz que é só mais esse vez

E o seus olhos sempre irão embaçar
Feito um sonho sempre a deriva num mar
Ele diz que é só mais essa vez
Ele diz que é só mais essa vez
Sem perceber que um dia a multidão tem que passar... levando os seus

Barro

Quando já adulto eu vi o dilúvio nos olhos de meu pai
Vi a ordem com hálito de gás de pimenta e esterco de cavalo
Os cacos rangendo o asfalto da cidade
Como se fosse permitido apenas aceitar
Como se fosse digno não sonhar com porra nenhuma

Senti a destreza dos covardes com suas desculpas
Suas músicas cheias de rima fácil
Pois algo precisa parecer belo
Mesmo que elo entre o ser e sua alma seja proibido

Quando já adulto eu vi que a moda é vestir um muro
Vi o abraço ser algo absurdo quando o abraço for o remédio
Pois é preciso ter ordem
É preciso ter o sorriso de barro
Mas sou apenas um homem e faço isso tudo errado