terça-feira, 27 de setembro de 2011

ORFANATO



Pra onde vai você agora que eu já beijei a tua lona?
Já me despi de toda essa zona que a tua escola me cobrou
Já me perdi da mão gelada e dura que esse tempo só me apertou


Sabe o que eu sou
Sabe onde eu estou
E onde eu não estou é o que mais te incomoda
Eu não giro em tua roda de moer corações
Eu sou assim, o vagabundo que o teu mundo não devorou


Pra onde vai você agora que eu já parti do teu juízo
Já me vali de toda a santa tempestade que me molhou
Já me vi intacto feito que o meu pranto sempre rolou sem culpa


Desculpa minha alegria
Desculpa, eu sou enfim
Uma criança mal educada no teu orfanato chinfrim
Uma criança que zomba do teu venenoso jardim


Eu brinco em frente aos teus monstros
Eu danço a minha lama


Se acalma e não me chama
Eu perdoo a tua falta de asas

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

TANTO ASSIM

Quando me aponta o dedo
Quando me soca a cara
Quando ri do meu som tosco
Quando me esquece lá fora

Quando me toma por tolo
Quando meu corpo ignoras
Quando me solta teus cachorros
Quando nunca me acolhe

Quando me mastiga sem dó
Quando me cospe no chão
Quando mata meu sonho calmo
Quando calma me ignoras

Quando me rouba o sono
Quando me beija sem tesão
Quando rasga meus poemas
Quando põe fogo no meu violão

Quando você foi embora
Quando você foi embota
E quando for embora
Não se atrevas a ir antes de mim

Deita rígida e inóspita de qualquer tranquilidade
Engole tanto peso com teus olhos endurecidos da tua secreta saudade
Sim, és covarde
Mas eu te carrego leve por todo esse meu tempo
Limpo tua consciência dos entulhos das tuas certezas bombardeadas
Não terás o meu tapa em retorno
Terás no meu peito a tua casa

Eu teria em minha lápide não o meu nome por fim:
Apenas aquele que amou Fulana tanto assim.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

SEM PACIÊNCIA

Quase noite de mim já
Eles assim amontoados com os punhos fechados
Os donos de tudo que amanhã nem existe mais
As faces com a mesma incerteza
Os corações murchos
O cadeado das desculpas confortáveis
O medo de ser gente que está em moda
A alma trancada
Onde sou um ladrão a desfrutar do frio desse cofre

Sou um vadio na boca dessas futilidades

Quase noite de mim já
Alguém assim sem jeito como dizem as marionetes
As folhas doentes que o jornal podre tosse
A multidão de crentes que pequeninamente se envaidece

Uma salva à sala das copas lustradas
A vida como um esporte
O sexo como um esporte
A família como um esporte
A informação como um esporte
O amor como um esporte

Seria uma lápide dourada o prêmio pra tanta falta de humanidade?
Seria a fortuna tão leve de se levar pra lá?
Lá... logo lá.

Eu me despeço
Meu pranto e meu riso
Quando sou tragédia
Quando sou piada

Sem paciência pra quem nunca diz realmente nada
E já é quase noite de mim

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

COMO FICA?

Doutor me falou de uma pílula porreta
Que faz até Deus tirar soneca com a Vinte e Três lotada

Eu bem que penso em me valer dessa pequena
Visto que toda a gente me aponta o dedo: Esse aí se acabou na madrugada!

Mas se eu durmo como fica todo o resto?
As estrelas e os botecos
A morena e os olhos ávidos
O coro dos bêbados irresistíveis
As piadas alcoólicas
As risadas sem sentido e tão vivas

O abraço cambaleante dos amigos
As paixões de uma noite
A noite tão comprida
A garoa e a minha saudade?
O coração pelado pelos ares

Como fica a possibilidade de que o meu amor venha me buscar?
Com cara de poucos amigos
Mulher de frases ardidas
Puta comigo
E doida pra me tirar dos braços do mundo onde eu existo
Como fica?

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

NOS SEGUNDOS


Rasgo o meu céu
O esbarro, o estrondo e a febre
Os meus anjos desandam a despencar por aí

O monstro e réu
A canalha, a mentira e o martelo
A minha alma sorrindo a morrer livre assim

Quando enfim num descuido
Teu juízo desprovido de balas
Casamata do teu peito escancarada pra mim
Não serei um ladrão dos teus sentidos
Serei teu cão de guarda
Vigia disso que eu acho tão bonito

Rasgo a cartilha
A vingança, a desculpa e a mágoa
Essas coisas que eu afogo em minha lata de lixo

Um bicho do mundo
A insônia, o silêncio e o descaso
A minha voz sem vergonha trepando nos teus ouvidos

Quando assim num cochilo
Tua desculpa sem chão
Muralha do teu desejo de pernas abertas pra mim
Não seria um cigarro precoce de fogo
Serei teu puto escravo
Até que me encontre nos segundos onde o mundo se perde da nossa vista
Logo ali, logo ali

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

VOLTE SEMPRE

Já que tá sempre certa
Já que é tão madura
Tão dona de toda razão
Tão correta e dura

Já que tá com essa cara de viola sem lua
Eu abro hoje uma exceção

Pra você, que coisa bela
Já fui um anjo
Já fui o tolo
O traste maior
O vagabundo que não tem jeito
Já fui o filho da puta
Já fui o dono das tuas ancas
E depois aquele que não merecia dormir na tua cama

Já que tá sempre reta
Já que é tão segura
Tão bela e profunda
Tão gostosa e pura

Já que tá com essa cara de puta da vida
Eu abro hoje o meu coração

Pra você, que coisa linda
Já fui bom partido
Já fui sujidade
Um louco absurdo
Um bêbado que não faz falta no mundo
Já fui o amigo odioso
Já fui o dono do teu gozo
E agora sou todo solto...
Volte sempre
Até logo!