sexta-feira, 31 de julho de 2009

UMA VISITA

Olhei
Janela órfã
Luz azul
Acho que é televisão
Um espectro a sapatear aqui dentro de casa
No rótulo da cachaça uma boa pequenina
Uma esquina perdida no teto
Eu lá em cima olhava a visita
E o espectro se esticava no colchonete da sala
_Ei! Esse é o meu lugar!

HOJE EU VOU DORMIR

Hoje eu vou dormir com o sol sem tua mão irascível
Soprando baixo uma marchinha de carnaval

Descansa o pingado no balcão do botequim
Eu vou, eu juro, eu sei que é assim

Você vigia os copos que amanheceram na pia
Na frívola manhã do teu cansado dia

Frio
Um bocado

Eu à solta por aí na torrente das veias desta vida
Eu vou, eu juro, eu sei que você me respira

Eu guardo de você uma dança a dois na Xavier de Toledo
Eu guardo de você uma dança a dois quando a gente não tinha medo

Hoje eu vou dormir com a tua teimosia me beijando
Ainda tenho a fotografia que ainda não tiramos

Você não tinge com esmalte colorido as suas unhas
Espalha o cheiro do teu cabelo pelas avenidas

Eu
Um coitado

Hoje eu vou dormir com aquela mesma pergunta
Eu vou, eu juro, eu sei que é você

Eu guardo de você uma dança a dois na Xavier de Toledo
Eu guardo de você uma dança a dois quando a gente não tinha medo

quinta-feira, 30 de julho de 2009

AQUELES DIAS

Pensava que havia uma vela
Na curva onde eu devia entrar

Teimava na febre do sonho
Deixava o mundo todo pra lá

Feria minha alegria
A tinta guache que derretia quando chovia no quintal

Nem existia o meu bem
Nem existia um boteco e tal
Eu nem sabia que você vinha pra depois dizer tchau

Pensava o céu numa avenida
Enquanto não tocava o sinal

Tingia o fel da sala quieta
Nos meus fantasmas a diversão

Guardava minha alegria
Pra tarde inteira que me esperava do outro lado do portão

Nem existia você, meu bem
Eu sorria sem preço algum
Eu nem sabia que você vinha pra depois a solidão

Era um dia sem pressa alguma
Do muro de casa eu general

Então do outro lado do mundo da minha rua
Você afinal

Meus olhos disfarçavam no céu
Meu coração te olhava
E voava
Voava e então aqueles dias partiram dentro de mim

terça-feira, 28 de julho de 2009

MADRUGADA ME CAI BEM


Madrugada
E a insônia já se faz
A saudade nem dorme mais

Dedo no interruptor
Finda a luz
A quietude me conduz pra ancorar no fundo de mim
Esse amor
Náufrago da tormenta dentro de nós dois

Madrugada
E a insônia já me cai
Coração já pegou um trem

Pra lá
Pra cá
Pra onde a gente não se encontra mais

Dedo no interruptor
Nasce a luz
A feiúra reluz no branco que segue o resto das cartas
Esse amor
Louco da bagunça dentro de nós dois

Madrugada já se faz
Madrugada já se faz
Madrugada já te traz
Madrugada já me cai tão bem

quinta-feira, 23 de julho de 2009

CHUVA E OLHOS


E depois que choveu
Só os dorsos dobrados se protegendo do frio
Como quem carrega um sonho no peito
Um segredo nos seios

Depois que choveu
Atravessam a paulista
Rijos na faixa mas fora de fila
Como uma enxurrada de almas viúvas
Um cemitério de estrelas

Quem permite a si mesmo um pouco do seu próprio tempo?

Só que no caminho dos olhos
O fim do túnel somos nós mesmos

E depois que choveu
Só os telefones vibrando no fundo dos bolsos
Pra avisar que o congestionamento é agora o nosso bem comum

Depois que choveu
Enquanto o frio na calçada distribui seus beijos
A gente inventa uma desculpa pra se perder
A gente bem que tenta

Mas como é que se escapa da vontade que nos acorrenta?
Menina, como a gente escapa do amor que nos esquenta?

E no caminho dos olhos
O fim do túnel somos nós mesmos

quinta-feira, 16 de julho de 2009

AQUILO ISTO

Que envelheça
Desbote e desça do alto das falsas certezas
O mundo automático das coisas
Do caráter medido no limite do cartão de crédito
Da catapulta que arremessa o peito contra os espinhos
O mundo gigante e fraco das mentiras com selo de garantia

Ali pensam que vivem os mortos-vivos
Tão bem nutridos de toda essa porcaria

Tiram da gaveta e vestem um sorriso antes de sair de casa
E juram que são aquilo que nada sabem
Aquilo que não os encontra de braços abertos quando voltam pra casa
Aquilo que se conquista ao entender-se conquistado
Aquilo que o dinheiro não paga
Aquilo que o sucesso desconhece o gosto
A fala

Aquilo
Isto que eu sinto
Quando teu coração acelera esperando que eu passe

quarta-feira, 15 de julho de 2009

CHOVE BEM

O mundo segue feito um trem vazio
Aqui onde não pertenço a ninguém
O que se passa dentro de mim
Não escapa até você
Não é visível à tua retina

E pra você eu desapareço em algum lugar
Nem vê que vivo passeando dentro de você

Fez sol ou fez frio?
O que divide a linha dos copos de cerveja onde o silêncio é a certeza
Do muito que eu quero te dizer?

E o mundo segue feito um triste trem
Aqui onde não sou de ninguém
O que se consagra dentro de mim
É uma beleza que teu coração nem conseguia prever

Pensa que isso pode morrer?

Olha ali... Além da cortina do salão do teu bem estar de isopor

Sou eu a chuva que vem