sábado, 9 de dezembro de 2017

Labirinto (versão 2)

Percebo que ainda não é a hora
Mesmo agora que a bomba acordou
Derrubou as paredes com suas palavras
Transbordou aquilo que eu jurava ter esvaziado

Debruço ainda sobre esses ombros
Tenho apenas um sussurro pra gastar
Abuso da noite guardado dentro de casa
Mas lá fora deixei o meu recado por toda parte

Pois ainda não é a hora
Ainda não é a hora
Ainda não é a minha hora de voltar

Recebo esse desprezo com um sorriso
Bem agora que a bomba acordou
Descarrilou a felicidade planejada
Esparramou meus pedaços no olhar de quem não mais me vê chegar

Mas ainda não é a hora
Ainda não é a hora
Ainda não é a minha hora de voltar

E como isso me dói
E como isso me chama... esse caminho torto...
O labirinto das minhas palavras
E ainda tenho tanto
ainda tenho tanto aqui dentro... guardado

quarta-feira, 29 de novembro de 2017

Aqui em Marte não tenho vizinhos

Aquele era o louco apontado
Todos ali cochichavam sua aparência...
Sua risada e principalmente os seus lamentos
Todos ali esputavam mal daquele...

Mas poucos sabiam que a estrada confortável que trilhavam havia sido desbravada por ele

terça-feira, 12 de setembro de 2017

Aceno

Deslizo os meus olhos
Deslizo o meu desejo pra fora do teu altar
Desfaço o teu mistério
Desando o caldeirão onde colocava minha vontade pra nadar

Agora onde passo tudo teu já é antigo
Tudo teu já é bobo demais
E não mais me afoga o teu jeito de me faltar
Se com só uma mão eu te machuco

Com uma mão pra eu me mandar
Com uma mão pra eu me mandar

Deslizo as minhas mãos
Deslizo o meu corpo pra fora do teu lugar
Desarmo a tua armadilha
Desando pela vida sem tua permissão pra me abençoar

Agora onde passo tudo teu já é vencido
Tudo teu já é simples demais
E não mais me aperta o teu jeito de me olhar
Se com só uma mão eu te assusto

Com uma mão pra eu me mandar
Com uma mão pra eu me mandar

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Farra

Eu me preparo
É quando percebo
É quando me deixo livre
Enquanto você expulsa todos os meus sonhos da sala
Tranca a porta e se arruma pra minha hora assombrada

E lá nos cantos da cidade a minha voz despedaçada
As crianças tocando fogo na vil papelada
As gravatas murchas ao chão
A nova ordem enfim minguando pelo ralo da história

E eu me preparo... pra toda essa divina farra.

Eu me aquieto
É quando percebo
É quando me torno forte
Enquanto você espreme meu amor em latas de supermercado
Tranca a porta e cospe tua fome sobre a minha estrada

E lá nos cantos de cada alma a sorte diluída
A ar desacorrentado solto pelas ruas
O sol visitando qualquer janela
O déspota enfim minguando pelo ralo da história

E eu me preparo...

Ah, como eu me preparo... pra essa nossa divina farra.

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Olhe a hora

Olhe a hora
Atravesse a porta
Apresse o passo
Acalme a alma
Encoste os ouvidos na estrada
Como quem espera ouvir um trêm se aproximando
Mas você sabe mais do que ontem
O mundo está girando
O mundo está girando

Olhe a hora
Escancare a sorte
Tome um caminho
Torne-se o teu norte
Abandone a farra burlesca das nove
Como quem finalmente bagunçou a vida pronta
Pois você vê a caricatura boba
O mundo está girando
O mundo está girando

Os lobos foram castrados
Quem toca o puteiro são as ovelhas
Quem toca o puteiro são as ovelhas
Como o planejado
Como o planejado
Como o planejado
Como o planejado
Só que não...

Olhe a hora
Atravesse a sombra
Apresse o grito
Alcance a alma
Encoste os olhos no que dura
Como quem perdeu o trêm por escolha própria
Pois você sabe mais do que ontem
E o mundo está girando
O mundo está girando

Os lobos foram adestrados
Quem toca o puteiro são as ovelhas
Quem toca o puteiro são as ovelhas
Como o planejado
Como o planejado
Só que não...

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Asfalto

Já me procura e nem é tão tarde
Estou no ar
Estou no jardim das pedras
Tossindo meu primeiro cigarro
Assoprando o que sonho da sala para um lugar mais privado

Já me procura e nem é tão tarde
Estou na rua
Estou no asfalto que ferve em janeiro
Escolhendo as primeiras palavras
Encolhendo o quanto posso pra caber dentro do mundo

Já me tortura e nem te dei um nome
Estou na sol
Estou no mapa de minha pele descascada
Regressando ao encontro inevitável
Desconstruindo a maldade pra chegar com a alma mais calma

Estou na lua
Estou no barulho do fantasma que desceu a rua
Estou na saudade disso
Daquilo e de tudo
Eu sou a saudade nesse intervalo de vida

O teu asfalto

terça-feira, 11 de julho de 2017

O dono de nada

Desça daí e atenda a porta
Feche as janelas
Tenha cuidado... o vento tira as coisas do lugar
E eu quero você livre
Livre pra fazer o que eu mando você fazer
Livre pra viver como eu mando você viver
Só sorria quando for a hora da fotografia
Chore quando eu não estiver por perto
Não aguento o seu jeito de se espatifar

Desça daí e atenda a norma
Tranque os olhos
Tenha cuidado... o sonho tira as coisas do lugar
E eu quero você solto
Solto pois apenas eu posso te encarcerar
Solto pois serei eu a te capturar
Guarde na pele as lacunas do meu discurso
Morra sem fazer bagunça na minha sala de estar
Não suporto o seu jeito de respirar

E bem depois
Bem depois mas não o bastante pra que eu esqueça
Venha me assombrar
Venha me ensinar o teu desconforto
Com o terror que eu mesmo alimentei

E bem depois
Bem depois mas não antes de que este sol escureça
Venha me assombrar
Venha me ensinar o teu calvário
Esse que eu mesmo inventei
E quem sabe um dia
Quem sabe eu suba também
E seja tão puro e forte quanto você

terça-feira, 27 de junho de 2017

Meu monstro

Chegue agora
Não demore que a noite é foda
Chegue antes do silêncio
Chegue na nossa hora

Apotecário da minha alma
Desde sempre
Desde o meu berço
Até antes do sol e da lua
Antes mesmo do relógio...
Quando eu ainda imaginava os rosto
Quando eu ainda imaginava o mundo
Botava o nome nas coisas
Rabiscava o riso e o choro
Vem agora
Socorro

Chegue agora
Não vacile que o coice é foda
Chegue antes dos calmantes
Chegue quebrando as portas

Apotecário da minha alma
Desde sempre
Desde o meu berço
Até antes do meu próprio nome
Antes mesmo desse tempo...
Quando eu ainda nem sentia fome
Quando eu ainda nem tinha um corpo
Inventava as cores de tudo
Calculava o riso e o choro
Vem agora
Socorro

Chegue agora
Não demore que vida é foda
Nem cairei com a cara de karoshi
Nem me afogarei no fútil ócio

Meu monstro
Tu és só meu e não és dócil
Tu és só meu e não és dócil
Mastigue essa dor
Cuspa
E me leve embora

quinta-feira, 8 de junho de 2017

Ditador

Ah, querido
Hoje eu não vou te responder
Fica bem
Fique assim
Sempre em dia com o vazio que é só de você

Sempre aflito em saber de mim
Coisa que nem eu mesmo sei
Chute a tua pelota
Seja o dono do apito
Mas disfarce pois ninguém veio aqui pra te ver

Ah, querido
Hoje eu quero é te desobedecer
Fica zen
Fique sim
Sempre ocupado em saber o que eu sei de você

Sempre com fome do amor que te evita
Coisa que sempre me visita
Manche teus olhos tristes
Encha teu copo sem fundo
Desse trono me chame de vagabundo
Há muito já pulei esse muro
Há muito eu já fui pelo mundo...

segunda-feira, 15 de maio de 2017

Nem medalha nem a canalha

Pinte a parede com o que digo
Guarde o que eu calo
Não me julgue com tua régua
Não me entenda
Nem tente
Não vim pra ser uma foto num catálogo
Eu me ajeito e te escapo

Conte uma piada a meu respeito
Guarde o teu desejo
Não me vença no veludo trêmulo
Não me aceite
Nem tente
Não vim pra um passeio no parque
Eu me sujo pois eu quero

Eu apanho quando eu quero
Eu te apanho quando eu quero
E tchau…

Espalhe por aí os meus defeitos
Guarde o meu coração
Numa varanda para o esquecimento
Numa cripta breve
Nenhum presente
Nem medalha nem a canalha
Eu morro e sigo…
Eu morro e sigo sendo o teu descontentamento

segunda-feira, 8 de maio de 2017

Linha 22

Não te entendo
A chuva já desceu
Gastou toda a gota no cálcio dos meus ossos
E mesmo assim
Teimosamente... escondes tua lua


Não te entendo
O foco já nublou
Gastou sua pureza na aspereza dos boletos
E mesmo assim
Caprichosamente... escondes tua lua


E eu fico sem ter onde correr
Sem ter onde rir
Sem ter onde escapar da rigidez que hoje assola o meu coração
Sem ter onde morrer desse ponto onde eu desci... e me vi adulto e chato

quinta-feira, 30 de março de 2017

Garrafa

Tampe a garrafa, menino
E se você escapa? Como eu fico?
Não é isso que te pediram
Não é isso que te ordenam

Há um segredo tenebroso no meio do concreto
Há um silêncio obtuso quando o assunto é o peito

Deixa disso
Tome jeito
O jeito que eu te peço
Peço, peço… mando
Mando!

E eu com isso?
Se dói o som do rádio num taxi às três da manhã
Se é bom o abraço de um amigo bobo mas puro
Se tem saudade do carinho que calou teu ronco
Eu pouco me importo
Eu pouco sinto
Eu sou o máquina
Eu minto e minto e minto
E boto o pau na mesa pra foder com tudo

Eu mato o sonho de amanhã
Eu mordo o mundo
Mas me cago de medo da tua alma

Tenha calma
Tampe a garrafa, menino

quinta-feira, 9 de março de 2017

O eco contrário

Estica as mãos pois sente medo de não ter nada
A árvore da porcaria imaculada
Amoras de estanho
Amoras
Aranhas
Veneno
A gente toda se debatendo


A teia do homem é ele mesmo
A teia do homem é ele mesmo


Você no fundo sabe
Gasolina adulterada
Felicidade adulterada
Qual é a verdade inventada pra esta semana?
A dor é insana
Mas a gana vale teu sono
E uma foto sorrindo no jornal


Estica os goles pois sente medo de não sentir nada
O conta-gotas de caráter
Amores de estanho
Amores
Roedores
Veneno
A gente toda se debatendo


A minha febre está fora de moda
A minha febre está fora de moda


Você no fundo afoga
Gasolina adulterada
A vida adulterada
Qual é a desculpa profetizada pra esta semana?
A dor é insana
Mas dropei de alma noutro rolé
Você não quer porque não vê
A febre
A febre… a febre

sábado, 4 de março de 2017

A quarta e as cinzas

Eu mergulho meu tempo nesse terno cinzento
E me apego ao que possuo e que já perco
O pranto da vela endurecida nos meus dedos
A febre do som
Do vento
A taquara que não mais me atrai com algum segredo
As mordaças que tanto rompi
Ali
Estiradas no asfalto soturno
Banhadas pela lua
Veladas pelo sino rouco da mesma igreja


Eu mergulho meu tempo num café amargo
E arremesso meu corpo para as costas do jornal velho
O riso tolo engarrafado no atual silêncio
As noites de vida
De luz
A lembrança descabida que perturba o sono covarde
As janelas que eu perturbava
Aqui
Fechadas para todo o sempre
Lacradas por nós mesmos
Quando erroneamente pensamos que a vida não guardava mais segredos

domingo, 19 de fevereiro de 2017

A estação das novenas

Teus olhos devoram o mundo
Teu sonho engole tudo
Eu sei quem é você
Eu sofro do teu abandono

Teu choro aquieta o mundo
Teu riso perfuma a casa
Eu sei do teu sono aflito
Eu sei do teu febril juízo

Cantiga na rua e você se arruma
Estanca a tristeza no rosto da lua
Me diz quando eu vou embora
Quantas vidas demora... pra eu te acompanhar de novo?

Meus olhos destroem o mundo
Meu sono é um alçapão fundo
Você conhece minha alma
Você me ensina com calma

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Certezas

Eu sei que te irrito
Mas é você quem se engasga comigo
Não sou adepto do teu paraíso
Meu monstro não tem o hálito dos teus bons meninos

Ele mastiga as mentiras que você tanto valoriza
Ele estraga a sua brincadeira
E você fica fodido

Eu sei que te irrito
Mas é você quem tenta brincar comigo
Não me interessa o dono da bola
Meu fantasma te traz calafrios quando te faz uma visita

Ele assombra a consciência que você tanto blinda
Ele estraga tua paisagem bonita
E você fica fodido

Mas te deixo aqui uma dica
Sabe, não importa o rótulo onde você se agarra
Na minha e na sua estrada
A derradeira certeza é que não sabemos de nada