quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

E UM POUCO DE SOM

Um céu nublado nos olhos
Um sol na fotografia
Uma pilha de contas antigas
A semana retrasada impressa num jornal

Pupilas acessas
Férias desta vida
Um instante apenas
O carinho agora sou eu sozinho e o lençol

Um café
Uma anfetamina
E um pouco de som

E o melhor de mim eu não soube te mostrar
O melhor de mim eu deixei você levar
Pra abrir depois

Um céu nublado bem ali
Um farol solteiro
Uma esquina bêbada
Aquele jardim agora viúvo de nós

Vertigem do reto
A casa bem vazia
Um instante apenas
A ciranda de estrelas com seu cachecol

Um café
Uma anfetamina
E um pouco de som

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O RESTO É FILME


Bem que acreditava em estórias de amor
Jurava um dia viver uma
A minha
Balela da baixeza estética das pessoas ocas
Não existem estórias de amor
Existe o amor

Vezes tosco
Corcunda
Dorso de um terreno pantanoso

Vezes gostoso
Sim
Vezes em paz

Ou mar revolto de dedos e vozes
Desenhando os defeitos do outro ao mundo
Aos vizinhos
Aos amigos e inimigos

Vezes um doce
Olhos da criança vigiando o pai

Crescer maior que mundo
E morar apertado no peito de seu dono

Vezes sábio
Passo tranqüilo de mãos dados com o tempo
Sem pressa ou receito de deixar de existir aos poucos
A face limpa de uma manhã sem correria

Vezes um tolo
Ansioso em saber o que não vale a pena
O que não vale queimar com a linha da vida

Estória de amor
Só estética dos ocos

Amor
Vistoso e desengonçado
Riso e choro
Choro
Riso

Isso que é bom ou ruim
Nos faz renascer um pouquinho diferente
Dia seguido dia
O resto é filme

sábado, 17 de janeiro de 2009

NO SEM SAÍDA


Meu coração foi passear
Do lado de lá do sol
O teu farol de grana não via
Não sabia o que Deus sonhou pra nós


E se doía quando eu fazia
Com a verdade uma carta pro tempo guardar
Pra você ler depois

Nem sufoco eu sentia pois
Eu já estava livre quando ia me deitar

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

TINTA NO PAPEL


Sufocado
De uma tristeza sem certeza
De ser triste por estar certo o bem que eu deixo de lado
Ou errado por não guardá-lo só pra mim

E vai assim
Feito um barco flutuando o céu
Devagar se perde da minha vista
Pra depois eu deixar alguma lágrima
Com a tinta no papel

É pra você, meu bem
É pra você que deixo o meu bem
Pode levar, vai

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

COMIGO

Deixa isso aqui comigo
Feito um bebê a ser guardado
Feito um espaço de tempo a ser velado
Quando passarem os dias
As tuas risadas
Dirá tranquilamente ao mundo
Que fui apenas uma tarde
Fui apenas e nem mais que isso
E mais nada

Quanto da nossa voz
Gastaremos com o que a gente não fala?
Quanto é que eu te devo
Da minha alma rica e solitária?

Então deixa isso comigo
Que eu tomo conta
Como quem cuida de uma lágrima quando a vida quase nos escapa

Deixa isso aqui comigo
Feito um lembrete na porta da geladeira
Feito um brinquedo que a criança só olha
Quando seguirem os dias
As tuas lombadas
Dirá abertamente ao mundo
Que fui apenas uma tarde do lado de fora
Mas em teu peito uma tarde que nunca mais foi embora

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

HOJE É DIA

Você pode estrebuchar em tua cama
Esparramar os pensamentos pela casa
Navegar com o ponteiro do relógio
Segundo após segundo
Pode chorar
Rir
Depois chorar outra vez

Se a tristeza não dá sono
Deixa-a em casa
E vá passear
Por isso
Hoje é dia

Você pode vasculhar a caixa de cartas
Bisbilhotar as entranhas digitais atrás de um vestígio de amor
Mas o que foi que você ainda não percebeu?

Pena de si mesmo é um auto-desprezo

Se a tristeza não dá sono
Deixa-a em casa
E vá se procurar por aí
Por isso
Essa noite é dia
Hoje é dia

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

COMO POSSO DIZER?

Como posso dizer o que vejo?

O despojo que eu era para os teus olhos
Rejeitou
Nem fez questão
Agora então quer me falar de dor?

Nenhum rancor ficou
Nem uma fagulha daquele amor
Foi como você plantou
Ventou, ventou
Ventou-me pra onde agora estou

Surpresa?
Que nada!
Olha pra lua
Lá eu escrevi a lápide do que você matou

Como posso dizer como foi?
O esbulho que tua mão não ousou
Esqueceu
Nem guardou uma frase
Agora diz que me descobre naquela canção?

Nenhuma noite restou
Nem uma lágrima sobrou pra hoje
Dei-te quase todas
Nem viu, nem viu
Nem viu-me expelindo o amor

Dei-te quase todas
Só guardei umas poucas
Para o Vininha levar depois