segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

NÁUFRAGO

A tarde descompromissada
A sola do tênis tocando a calçada
A rotina turva do bairro
Na vitrine dos meus olhos um mar
O pensamento
Um mar
A tormenta
Eu e o canto da Sereia
Um náufrago do mundo
A solidão
A nefasta vaidade de tudo
Eu subindo no fundo de mim
Onde repousa sem fim o baú de minha alma

Da janela de sua vida ela procura
Seu mar
As minhas alturas
A fundura da saudade
A novidade alegre que demora
A ressaca agora
A ressaca no copo americano
Seu canto eu respondo
Eu subo
Sim, eu subo já bem pro fundo de mim

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

BANQUETE

Se quer saber eu confesso sim
Não sou imune ao teu descaso
A tua raiva que te cega de mim
A bruma odiosa que dita pra ti as minhas podres dívidas

Segue você sempre firme nisso aí
Sempre determinada em ter a certeza de que caí
Quando numa esquina me deparei com teu nome

Se quer saber eu morro sim
Na cama que amanhece muda
A curva analgésica que a vida não toma
A borda doida de onde o coração se joga
E nunca encontra o fundo
Nunca se perde de tudo
Nem de mim e nem de você
Nem do nosso bobo mundo

Se quer saber eu confesso sim
Nesse banquete que é o mundo
Eu sou livre o bastante pra ter fome só de você

domingo, 12 de fevereiro de 2012

22-03-2009

Quem diria
Naquilo que seria a minha alegria
Naquela noite
A música que eu esperava pra cantar sorrindo
Rolava pra todos
Cuidava de todos
Eu ficava quieto
Sufocado
Vendo o nó da minha vida bem ali
Dançando como se o meu mundo tivesse acabado

Quem diria
No tombo que enfim me salvaria
No foço de tudo
Eu mergulhado onde minha alma me escapava
Pulava os muros
Quebrava os ritos
Aliviada
Tendo o nó como uma ave quebrada
Que se retorcia de solidão pensando que dançava

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

COISA ALGUMA

Alguma coisa
Que não cala
Que não cansa
Que no tempo não se gasta
Que teima
Que reina além da tirania cotidiana
Que brilha como se dentro de mim queimasse alguma coisa

Alguma coisa
Que me conhece
Que me decora
Que voa acima das minhas palavras
Que manda
Que narra as preces da minha insônia
Que assombra o copo americano da minha cerveja de quinta-feira
Como se o copo soubesse do meu coração alguma coisa
E todo o resto tão normal lá de fora de mim fosse coisa alguma