terça-feira, 24 de setembro de 2019

Um café no Califórnia

Triste… você é triste
Nem adianta desconversar
Triste…
Teu olhar triste desmancha o riso que você dá


Ali na sombra da tua esquina
Na pedra fria
Onde a garoa vem descansar


Ali na chuva
Na assombração da arquibancada do Pacaembu


Vem, vem, vem no meu peito se deitar
E assim me faz chorar

Triste… você tá triste
Há uma montanha no teu pisar
Triste
Teus carros tristes brilham os olhos no mesmo lugar


Ali na tua boa educação
No gesto contido
Onde o palavrão foi estrangulado


Ali na turma
Na consciência turva…
Os zumbis, os zumbis, os zumbis sem alma


Vem, vem
Vem no meu peito se deitar
Vem e me diz:

Por que eu não consigo te abandonar?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Eu

Te usei como pedra
Te usei como flor
Como capa de chuva
Como rumo
Te usei, sim senhor

Te usei como culpa
Te usei com amor
Como a fuga secreta
Como droga
Te usei sem pudor

Agora você volta batendo minha porta
Me deixa, me deixa
Eu quero dormir
Só dormir e não saber de porra nenhuma

Te chamei de querida
Te chamei de meu mal
Fui feliz ao teu lado
Fui meu dono
E também meu senhor

Te chamei de prisão
Te chamei liberdade
Foste a minha virtude
Meu defeito
E também solidão

Agora você volta tremendo minha cama
Me deixa, me deixa
Eu quero dormir
Só dormir um sono comum…
Sem loucura alguma
Sem loucura... nenhuma

Mas vê se não me abandona