segunda-feira, 28 de abril de 2014

Um teco de mim

Fui até o teu lugar favorito
Fingi sorrir da tua pior piada
Pisei nas pedras da catedral lacrada
Pisei nos vidros da tua estrada

Fui pra ser mais um dos teus
Li o livro que você escolheu
Usei a roupa que você me deu
Usei a droga que você vendeu

E não
E não sabia algo de mim…
Velei tanta tristeza sem ninguém saber
E assim eu era um teco de mim

E só há um no corpo angélico
E só me perdi nas tuas mentiras
E só apaguei no teu hálito lisérgico

Fui até o seu lugar secreto
Segui pra escola sem pestanejar
Cantei o hino quando quis chorar
Cantei a dor por não poder amar

Fui pra longe e não sou dos teus
Cuspi a droga que você mentiu
Fugi de tudo e ninguém me viu
Fugi do mundo e ninguém sorriu

E fui
E fui saber algo de mim
Velei tanta tristeza sem ninguém saber
E assim eu era um teco de mim

quarta-feira, 23 de abril de 2014

É Isso Mesmo

Busquei teu colo feito alguém perdido
Um exilado do mundo
Um violão sem canção
Quando derrapei nessa estrada confusa chamada coração


Fiz dos teus olhos o meu único vigia
Um soltado lacônico
Um analgésico proibido
Pra essa dor caprichosa que eu roubei feito um bandido  


Você escreveu
Talvez sorrindo
Talvez mentindo
Que a vida segue e é isso mesmo
É isso mesmo


E eu só te joguei meu sorriso
Como quem joga as poucas moedas que leva no bolso


Chorei sobre o balcão de um boteco
Nem era feriado
Nem era fim de festa
Era minha alma esquisita que você diz que não presta


Você nem viu
Talvez dormindo
Talvez sonhando
Que eu vivo e é isso mesmo


Pois há nessa lágrima um abraço
Há nos meus cacos algo intacto
Há no meu luto sempre um recomeço

Pois eu vivo e é isso mesmo

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Consumo

Teremos tudo
Toda grana e toda glória
Todos os louváveis títulos acadêmicos
A taça do campeonato
Teremos os filhos encomendados
Na língua o hálito metálico
O peito vazado pela lâmina da modernidade
Consumiremos tudo do lodo intoxicante
E nada da nossa humanidade


Teremos tudo
Toda fama e toda razão
Todo o som moribundo da casa vazia
A dor do riso forçado
Teremos os amigos digitalizados
No beijo a alma intocada
O olhar voltado para o futuro plástico
Consumiremos tudo do lixo vaidoso
E nada da nossa humanidade


Teremos tudo

E enfim seremos bastardos de nós mesmos