sexta-feira, 28 de agosto de 2009

LADO A LADO


Correr para o trabalho
Chegar em casa

Vida prática
Sonhar outro mundo

Aceitar a tempestade
Capa de chuva

Sol e azul
Lua e estrelas

Cama quentinha
Garoa, garoa!

Suco de uva
Café sem açúcar

Vestido azul
Calça surrada

Amor! Amor!

Lista do supermercado
Poema no guardanapo

Lado direito da cama
Qualquer lado

Cor do esmalte
Brilho dos olhos

Roupa suja
Apenas roupa

Festa de casamento
Envelhecer juntos

Lixo reciclável
Violão

Amor! Amor!

Sumir pra lá
Sumir pra cá

Saudade! Saudade!

Quando?

CINZAS

Vá lá
Desgruda o cimento do teu hálito
Eu quero ver você ali
Onde é terno qualquer cômico gosto de inverno

Desusa a gravidade que carrega o coração para o fundo
Um fundo
Sufoco abissal
Língua de veneno que diz coisas sobre você

Mas o que importa a placa de pare dos peitos ocos?

Vá lá
Enfeita de sol o caminho menos usado
Eu quero levá-lo por aí
Onde é anêmico o brilho da mandíbula de aço

Como é sobrevoar o mundo?

Destampar o fundo da gente com sua boca?

Como é que acomoda o adeus dentro de você?

Eles querem saber
Mas é tão difícil o que fazes tão fácil

Vá lá
Guarde a febre
Das cinzas daqueles abraços que hoje pairam ao teu redor

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

ÁBACO

O CEP pra carta chegar
O total a se pagar
A data que dói
A validade do já foi

O código de assinante
O placar do jogo de ontem
A placa do automóvel
O que falta do aluguel

O CPF que não escolhi
O tempo que eu esqueci
O segredo do cadeado
O desconto do supermercado

O ID do usuário
Os códigos do mostruário
A senha do email
O telefone que me veio
E que eu doidamente deixei partir

Quantas calorias pra sorrir?
Quantas risadas pra mentir?
Quantos milheiros pro muro que me divide entre a paz e o que sou aqui?

Quantos dígitos na conta corrente?
Quão branco o teatro dos dentes?
Quantas bocas pra que eu me machuque mais e mais
Até me casar com a tristeza daqui?

Eu errante em algum lugar de mim
Eu errante em algum lugar de mim

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

JÁ FUI

A lua hoje se mandou daqui
Nem esperou por mim
A rua despida é quem me sorri
Enquanto se cobre com a garoa fina

E eu? Onde eu?

Quem sabe um ticket consolação
Quem sabe um dia desses
A pílula de prender as asas no chão
Imaginação chinfrim

Será que eu tomo?
Será que eu esqueço de mim?

A lua hoje desprendeu do alto
Jurei colar com cuidado
Na janela o céu é o mesmo retrato
Que eu sufoco nos copos de café

Um breu...
Sem tristeza pra nós no cardápio de hoje

Tosse um sorriso
Gira em seu eixo
Nessa eu não caio não
Compra um sonho com o cartão de crédito
Eu tchau!

A lua hoje se mandou daqui
Fui eu quem a levou pra lá
Abre a gaveta
O porta-maluquices

Já fui... Já fui

Um breu...
Sem tristeza pra nós no cardápio de hoje
Sem um abraço também
Agora o sono se pendura no feixe de luz do televisor
E vou