quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Por Hoje

Quero te olhar sem pressa
Pedir desculpas por não saber quem eu sou
Quando ando solo pelo mundo transfuso do meu coração
Quando navego perdido as tempestades da minha confusão
Perdão

Quero te olhar sem pressa
E um dia hei te encontrar no meu olhar
Quando este estiver ébrio da imensidão

Estaremos todo esse tempo distantes depois de tudo o que foi bom
Mas nos encontraremos de novo
Teremos a reprise bendita da nossa estranha condição

Por hoje, perdão

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Sobre Ontem

De noite fitei o mundo com meus olhos de água ardente
Meu sorriso confidente tatuado pelo salão
Eu era amplo e só então
Eu era só minha contramão

De manhã fitei o mundo com meus olhos de água tônica
Minha sombra lacônica derramada sobre o chão
Eu era pleno e só então
Eu era enfim o meu perdão

Criança, minha criança
Me tire os pés do chão
Me faz morrer pro mundo
Morrer de ti

De rir tão fundo até chorar
De uma paz ao se calar
Feito quando eu vi o mar pela primeira vez
Quando perdi o sono pela primeira vez

Quem é que sabe de mim pra me julgar?

Quem é que são vocês?

sábado, 6 de dezembro de 2014

Papo de criança

Ei
Queria contar do sonho que eu planejei
Quando a insônia me leva pelo mundo
Você me diz que o mundo é grande, eu sei
Meu coração é um furacão sem dono


Lá em cima a lua é só a lua e é tudo
Lá em cima a lua é a lua e tudo é fundo
Saudade me tira o medo do escuro
Saudade me tira o medo do escuro


Ei
Queria contar do amor que eu inventei
Quando me faltou o amor do mundo
Você me diz que sou estranho, eu sei
Meu coração é um furacão sem dono


Lá em cima a lua é só a lua e pronto
Lá em cima a lua é a lua e tudo é fundo
Saudade me diz adeus sem culpa
Saudade me diz que a minha alma tá solta

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Maquiagem

Ela nem sabe enquanto passeio no seu mundo fácil
Enquanto sorri dolorosamente o ensaio
Quando eu rondo a noite atrás da vida plena
Quando eu queimo as folhas da etiqueta

Eu torro os olhos nas coxas bem feitas
Deixo meu coração em mãos desengonçadas
Que não sabem segurar uma alma alheia
Só sabem guardar a ferrugem das moedas

Ela nem sabe enquanto compra o sonho da prateleira
Enquanto pinta no rosto a mulher certa
Quando eu me acabo no ringue das perguntas
Quando eu sangro a teimosia dos poetas

Eu danço e choro uma alegria mais sincera
Entrego aos homens a lataria perene e seca
E a Deus reservo minha melhor conversa

Ela nem sabe enquanto se ocupa com o alvo dos meus olhos
Quem é a raposa
Quem é a Cinderela

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Mercado

Há algo e eu sei
Que eles não vêem
Há algo e é o meu bem
Há algo

Há algo e eu sei
Que o dono é ninguém
Há algo nosso, meu bem
Há algo

Na cara de quem aceita
O contracheque fácil
Pra ficar calado
Diante do estrondo

Que varre a madrugada
Quando as almas são quebradas
Na máquina do mercado
Há algo  e está errado

No hálito de quem reza
A propina assombrada
Enquanto ali na esquina
O sonho se ferra

E varre a madrugada
A alma espedaçada
E a máquina do mercado
Sempre atenta

Mas aguenta, meu bem
Há algo que nos espera
E há de ser o algoz da máquina

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Aqui entre nós

Aqui entre nós
Entre os restos da nossa batalha
Entre as pedras que me caçam pelo ar
Você sabe que eu não vou parar
Você sabe


Aqui entre nós
Enquanto os olhos não nos vêem
Enquanto o mundo se ocupa com o futebol
Você sabe que eu não vou tombar
Você sabe


A cada golpe seu contra o meu riso
A cada amor meu que você sufoca
Eu permaneço de sonho ileso
Eu sigo com as palavras da minha própria boca


A cada insônia sem qualquer amigo
A cada estranheza diante da vida
Continuo a ser meu próprio abrigo
Continuo a driblar tua tristeza foda


Aqui entre nós
Você sabe, você sabe

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Antes

Antes de dar um carrinho na tristeza
Eu faço de mim um retalho das vidas que tive
Como a leveza de uma brisa sem nome
Como a destreza que nos impera quando choramos sem culpa


E um carnaval me alcança
Um amigo e sua saia branca
O riso sem juros
O coração sem furos
Antes de qualquer paixão


Eu fiz uma reza sem rima
Deixei o meu nome numa esquina
E se um dos meus por ali passar
Eu sei que ele vai cantar:


Salve a vida intensa
Salve o mistério das novenas
Que ali se passavam tão sérias
Enquanto eu me bastava com minhas idéias


Salve a marcha feliz
A alma livre de qualquer cicatriz
Não dou minha arte pra essa platéia
Eu amo tanto e você nem faz idéia
Eu amo tanto e você nem faz idéia

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Fica Esperta

Essa tua cara de concreto
Olho pra cima e esse teu dorso reto
Seus vidros belos
Cheirando a terno e gravata

Essa tua gente cronometrada
Essa tua noite hoje adestrada
Psiu, psiu
Nem tua garoa vai mais pra rua

Fica espeta, menina
Tão dizendo que você já foi de vanguarda
Mas agora só reza emburrada

A cartilha dos que vivem só com hora marcada

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Prisioneiro de mim

Abri a janela do quarto
Já era tarde
Já era fundo
E eu juntava os meu pedaços que você espalhou por todo lugar

Rezei de um jeito leve
Nem fui sorrir
Nem fui deitar
Eu me guardei do mundo e da janela você fez o meu coração voar

Então eu vi meu fantasma chorar
Eu vi meu fantasma chorar
Eu vi meu fantasma chorar toda dor que você me deu pra queimar

Abri a janela do quarto
Já era libra
Já era foda
Você me sorri do espelho dizendo que sabe do que eu sou capaz

Fechei os meus olhos
Sem adeus
e sem olá
Da minha boca eu fotografava a vida mas era a tua voz lá

Então eu vi o meu fantasma tombar
Eu vi o meu fantasma tombar
Eu vi meu fantasma tombar toda vez que eu deixava você por perto

Agora sei que você já está onde eu ainda vou chegar
Agora sei que de você eu nem quero escapar

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Pilequinho

Ah, solidão
Meu monstro favorito
Meu quadro negro preciso
O que foi que aconteceu?
Onde foi parar a bússola do meu tosco coração?

Ah, solidão
Meu doce predileto
Minha tara mais sacana
Quando foi que o sol morreu?
Quando foi que noite me abandonou pra dormir mais cedo?

Nesses que medem a cor da minha loucura
Nesses que me observam
Que lambem as letras venenosas das canções
Pra saber como é ser perdido de tudo
E não apenas estar nalgum canto quieto
Esperando por um belo sorriso
Que feito um dilúvio te leve para alguma cômoda vida
E ali
A dois
Se afogar no mar das pessoas de bem
Enquanto na esquina a morte espera que você tenha mais coragem
Pra que você esteja sorrindo quando ela tocar a sua campainha

Ah, solidão
Minha religião tranquila
Onde estão os meus amigos?

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Tempo virou

O tempo virou, hein?
O tempo nos olha
Maninho vem cá
Que do escuro eu te escondo
Nosso mundo é um conto que faz Deus sorrir
Nossos fantasmas não são de assombrar

O tempo voltou, hein?
O tempo de lá
Maninho vem cá
Que os piratas esperam no quintal
Eu fiz um pipa que o vento levou pelo céu
Eu vi que a vida nos leva feito um vendaval

Ontem éramos nós
Ontem era carnaval
Hoje é o despertador
A pressa
E a saudade de nós que eu guardei pra chorar depois

Maninho vem cá, Maninho vem cá

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Clausura

Deixei minha fotografia em teus olhos
E fui
Não por raiva ou por medo
Fui atrasado
Pois meu coração já estava solto na estrada


Deixei minha ausência em teus braços
E fui
Não por vendeta ou culpa
Fui atrasado
Pois meu coração já estava solto na estrada


Ali no meio de tudo
Do temporal feio
Da solidão esfomeada que tentava me mastigar


Será que lá na clausura das tuas idéias você um dia vai perceber?
Que eu nunca fui santo
Nunca quis ser santo
Também não fui o mal que você pregou às tuas paredes
Fui só eu… um cara…


Será que agora você entende?
Quando me maltratava
Quando me detestava

Tua alma estava de olhos fechados enquanto você me vigiava

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Finalmente

Quando eu parei de resistir
Quando eu parei de lutar comigo
Soltei meus cavalos doidos pelo mundo
Fiquei nu de tudo
Fiquei como sou
O que sou
Vi meu lado raivoso pegar um trêm pra nunca mais
Mas não sem antes olhar pra mim
E me sorrir levemente

Finalmente

sábado, 16 de agosto de 2014

Piscina Rasa

Quando tento dormir cedo e fico pelo caminho
Fico entre o mundo e o sono
Debruçado em mim
Na luz que dribla as frestas da velha janela vejo grades
E lembro de todas as que por mim passaram


Sorrisos e seios como cartão de boas vindas
Coxas onde eu me refugiava da monotonia dos escritórios
Ali, numa hora a minha casa
Noutras a cela onde o delito era a minha natureza solitária


Meu mal para todas era o canto de minha alma
Era o pedaço meu onde eu me abandonava
Pois era preciso me perder de tudo
É preciso me perder por algumas horas do dia
Pra que a alegria seja renovada


Não importam os olhos
Se eram verdes, castanhas ou raiva
Todas elas naufragaram
Procuravam a calmaria da piscina rasa

E eu sou o mar de ressaca

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Quebra-cabeça

Sei que você não entende nada
Sei da zona que eu sou
Você sempre tão bagunçada
Com o trabalho que eu dou

O dia até que é bom pra mim
Até que é bacana fingir não ter dor
Mas quando me arde o peito assim
A noite sempre é meu amor

Eu tenho uma insônia que é de sonhar
Um teco de alma que não sabe dormir
Meu coração triste só sabe cantar
Meu coração triste só sabe sorrir

Eu sou distraído se a moça passar
Um lobo sem casa se a lua subir
Meu coração alegre só sabe chorar
Meu coração alegre só sabe cingir

Sou feito da sobra do amor que passou
Sou o amor numa esquina esperando um sinal
Eu sou a timidez que me maltratou
Hoje eu sou é só carnaval