terça-feira, 25 de novembro de 2014

Maquiagem

Ela nem sabe enquanto passeio no seu mundo fácil
Enquanto sorri dolorosamente o ensaio
Quando eu rondo a noite atrás da vida plena
Quando eu queimo as folhas da etiqueta

Eu torro os olhos nas coxas bem feitas
Deixo meu coração em mãos desengonçadas
Que não sabem segurar uma alma alheia
Só sabem guardar a ferrugem das moedas

Ela nem sabe enquanto compra o sonho da prateleira
Enquanto pinta no rosto a mulher certa
Quando eu me acabo no ringue das perguntas
Quando eu sangro a teimosia dos poetas

Eu danço e choro uma alegria mais sincera
Entrego aos homens a lataria perene e seca
E a Deus reservo minha melhor conversa

Ela nem sabe enquanto se ocupa com o alvo dos meus olhos
Quem é a raposa
Quem é a Cinderela

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Mercado

Há algo e eu sei
Que eles não vêem
Há algo e é o meu bem
Há algo

Há algo e eu sei
Que o dono é ninguém
Há algo nosso, meu bem
Há algo

Na cara de quem aceita
O contracheque fácil
Pra ficar calado
Diante do estrondo

Que varre a madrugada
Quando as almas são quebradas
Na máquina do mercado
Há algo  e está errado

No hálito de quem reza
A propina assombrada
Enquanto ali na esquina
O sonho se ferra

E varre a madrugada
A alma espedaçada
E a máquina do mercado
Sempre atenta

Mas aguenta, meu bem
Há algo que nos espera
E há de ser o algoz da máquina

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Aqui entre nós

Aqui entre nós
Entre os restos da nossa batalha
Entre as pedras que me caçam pelo ar
Você sabe que eu não vou parar
Você sabe


Aqui entre nós
Enquanto os olhos não nos vêem
Enquanto o mundo se ocupa com o futebol
Você sabe que eu não vou tombar
Você sabe


A cada golpe seu contra o meu riso
A cada amor meu que você sufoca
Eu permaneço de sonho ileso
Eu sigo com as palavras da minha própria boca


A cada insônia sem qualquer amigo
A cada estranheza diante da vida
Continuo a ser meu próprio abrigo
Continuo a driblar tua tristeza foda


Aqui entre nós
Você sabe, você sabe

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Antes

Antes de dar um carrinho na tristeza
Eu faço de mim um retalho das vidas que tive
Como a leveza de uma brisa sem nome
Como a destreza que nos impera quando choramos sem culpa


E um carnaval me alcança
Um amigo e sua saia branca
O riso sem juros
O coração sem furos
Antes de qualquer paixão


Eu fiz uma reza sem rima
Deixei o meu nome numa esquina
E se um dos meus por ali passar
Eu sei que ele vai cantar:


Salve a vida intensa
Salve o mistério das novenas
Que ali se passavam tão sérias
Enquanto eu me bastava com minhas idéias


Salve a marcha feliz
A alma livre de qualquer cicatriz
Não dou minha arte pra essa platéia
Eu amo tanto e você nem faz idéia
Eu amo tanto e você nem faz idéia

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Fica Esperta

Essa tua cara de concreto
Olho pra cima e esse teu dorso reto
Seus vidros belos
Cheirando a terno e gravata

Essa tua gente cronometrada
Essa tua noite hoje adestrada
Psiu, psiu
Nem tua garoa vai mais pra rua

Fica espeta, menina
Tão dizendo que você já foi de vanguarda
Mas agora só reza emburrada

A cartilha dos que vivem só com hora marcada