segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

QUINQUILHARIAS

Se eu fosse mais moço que a lua
Eu saberia do mundo
Eu saberia alimentar todo o mar
Com isso do meu rosto

Se eu fosse tão louco quanto o céu
Eu viveria no teu armário
Eu esconderia os encantos do dia
Embaixo do meu chapéu azul

Vou girar enquanto esqueço
Até cair de bêbado
Até que eu obedeça meu coração

Até lá a gente se vê
Para um sim ou para um não

Se eu fosse mais moço que a lua
Eu guardaria as ruas
Eu guardaria essa doce estima
No bolso do meu paletó

Vou girar enquanto esqueço
Até voar de bêbado
Das quinquilharias do meu coração

Até lá a gente se vê
Pra um sim
O que mais então?

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

E DEPOIS


Vem sem medo de doer
Está tão longe de nós qualquer falsa razão
A noite chegou
Vamos nos engolir dentro da escuridão

Vem sem medo de acabar
Está tão bom agora que estamos à vontade
A lua brotou
Eu só quero te dar o meu coração

E depois...

Vem sem medo de rir
Já ventou sobre o nosso colchão
A porta fechou
Vamos caber num só lado da cama

Vem sem medo de amanhã
Está tão lúcido o sonho que nos estende a mão
O olho fechou
Eu só quero te dar o meu coração

E depois...
E depois...

JAMAIS ESQUECER

Um dia lá onde eu sempre vou
O gosto então vai clarear
O riso então vai levantar da cama e passear em mim

Um dia lá onde eu sempre vou
O choro vai sossegar
Vai sentar-se ao céu pra sonhar o que vem de bom amanhã

E descida nesta cidade
Você vai se perguntar por que dobram o dorso das flores quando o vento passa
Você vai arriar tua alma das pernas pra assim me buscar

Aqui onde eu sempre vou
Eu vou te esperar

Um dia lá onde eu sempre vou
A mão então vai equalizar
A juventude e a idade sentarão juntas no mesmo lugar

Um dia lá onde eu sempre vou
A chuva vai sossegar
Deixa brotar o que eu guardei no teu coração
Deixa brotar o que eu guardei no teu coração

E descida nesta cidade
Você vai saber do que eu vivia louco pra confessar naqueles dias de confusão
Você vai arriar tua alma das pernas pra assim me lembrar

E eu jamais vou esquecer

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

QUANDO EU POSSO COMEÇAR


Mais um sorriso ao fim do dia
Mais uma luz pra se apagar
Mais um filme bem baixinho
Mais uma pílula pra dormir

E amanhã também
Amanhã também

Mais uma noite de quinta
Mais um trago de pinga
Mais uma bossa pra cantar
Mais uma saudade pra chorar

Mais uma festa pra fingir
Mais uma menina pra beijar
Mais uma vez voltar pra casa
Mais uma pílula antes de deitar

E amanhã também
Amanhã também

Mais um feriado e estamos aí
Mais um trago noutro bar
Mais um porre no carnaval
Mais uma quarta-feira pra dormir

Mais um dia numa sala qualquer
Mais um tapinha nas minhas costas
Mais um café às nove da manhã
Mais uma vontade de cair no colo dela

E amanhã também
Amanhã também

Se um riso pode resolver
Me conta quando é que eu posso começar

TÉDIO


O que te emenda
O que te tira o sono
O que te liberta da mesquinhez do anúncio?

O que te acalma
O que te ganha
O que te falta quando o dia acaba na tua cama?

O mundo todo dopado da luz da TV
Vagalumes parados esperando a licença pra morrer

O polegar para um amigo
O anular para aquele anel
O indicador primeiro
E o médio pra dizer adeus de tudo isso

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

QUALQUER DIA


Qualquer dia um pedaço de riso
Um sopro de alívio logo após a placa de aviso

Qualquer dia um espasmo num livro
Um comprimido pra sorrir na canção que eu lavro

Qualquer dia um centavo esquecido
Um abraço guardado no armário e o seu juízo ácido

Qualquer dia eu lhe digo o que o seu peito já sabe
Qualquer hora eu minto menos do que eu preciso neste lugar

Qualquer dia um sonho lotado
Um vapor que vai subindo de um copo cansado

Qualquer dia um olá sem convite
Uma parede tatuada com meu nome em grafite

Qualquer dia um sereno abandono
Um cobertor onde a manhã esquece de seu dono

Qualquer dia eu lhe digo o que o seu peito já sabe
Qualquer hora eu minto menos do que eu preciso neste lugar

Qualquer dia eu nos teus olhos
Um pouco da chuva passada pendurada nuns galhos

Qualquer dia a gente podia
O pulmão do vento bombeando o que já não doía

Qualquer dia quem diria
No final de dezembro alguém nos sorria

Qualquer dia eu penso se pra isso tem jeito
Qualquer dia eu penso se pra gente tem jeito

EU QUERO SABER


Passeava ali
Sem nada pra querer
No céu eu via um fim
O mundo era pra mim
Mas o que foi você fazer?

Passeava ali
Sem nada pra perder
De dia eu cantava
De noite eu gargalhava
Mas o que foi você fazer?

Passeava ali
Dormia feito um nenê
O sol pra mim sorria
A lua não me conhecia
Mas o que foi você fazer?

O céu nem tem mais fim
O mundo roubaste de mim
O dia me esqueceu
A noite me bebeu
O sol nem mais me vê
A lua só fala de você

Por que é que você foi isso fazer?
Conta que eu quero saber

FESTA NO CEMITÉRIO

E assim
Meu corpo em pé
Rígido no meio desta ruidosa sala
Essa gente morta que pensa estar vivendo
O coração se jogando no abismo
Todo dia
Na hora certa
Com cinco minutos de perdão para qualquer atraso

E assim
Meu olhar aqui
Disperso nos olhos deles
Esperando que um dia acordem da pane
O pesadelo cheiroso e sereno
No talão
No shopping
Enquanto pagam a alma com seus cartões de crédito

domingo, 13 de dezembro de 2009

TUDO

A brisa que te beija
O olhar das estrelas
Nem perto pra gente pegar
Nem longe pra gente esquecer

O café de um agora
O tecido sem calor do sofá da sala
Uma bala
Uma fala que a gente ainda pode usar

O mar quieto
O caramujo que lambe a rocha
Nada que eu diga agora
E tudo
E longe
E muito
E tudo que os que dormem talvez levem embora

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

NESTA MANHÃ


Fechou o tempo
As gotas flutuam com o vento
Molham os cabelos
Os ombros
Os segredos que a praça escutou
O tempo fechou

As crianças não mais em fila na escola
As mentiras brilham em pixels
A solidão ludibria em tela plana

E onde foi rolar aquele anel de ouro?
O tempo fechou
O peito espreita seu dono antes de dar-lhe o devido socorro

Fechou o tempo
As gotas passeiam feito borboletas
Enferrujam os portões
Os faróis
Os pensamentos que o balcão guardou
O tempo fechou

A saudade viaja o centro numa sacola
As mentiras afiam seus pentes
A solidão habita um teco de silício

E onde foi parar aquele anel de ouro?
Foi o anel
Ou nossos dedos que se perderam?

UM FINO


Ah que nem sabe de mim
Essa sim que me quer mas esconde
Guarda bem quieta esse onde
Onde? Onde?
Quando?

Sobre a sua cabeça eu me deixo voando
Num fino
Num canto só meu onde eu atino com Deus

Ah que nem sabe mim
Há que me levar assim
Sempre bem posto doido e esquecido dentro do seu peito

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

ELA SORRIA

Afogo os olhos num fundo preto de café
Do tempo agora eu perco a chave
A vida é sempre a mesma tarde de oitenta e nove
A vida é sempre a festa nos teus olhos tristes

Atolo o peito num cheiro verde de cloro
Do chão agora eu perco o passo
A vida é só a mesma risada perto das onze horas
A vida é só toda a saudade que não cabe nas cartas

Isso aí vai passar
Feito as costas do sol
Feito os seios da lua
Feito essa luz calma e muda
Que sopra o machucado sem a gente perceber
Vai passar

Avanço a mão sobre um pensamento
A maciez nula de quem partiu
A vida é sempre a mesma chave perto da porta
A vida é sempre a nitidez no teu barulho

Adianto a alma pra depois das onze horas
O coração queimando gasolina
A vida é sempre tanta hora antes do fim
A vida é sempre o que está entre o não e o sim

E se mesmo assim faltava algo dentro de mim
Naquela hora Ela sorria