quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

0 X 0


Queria que fosse
O que quero e que foge
E que se desisto e paro de correr
Pára também
E me olha
E me espera
E me pede desesperadamente que volte a persegui-lo

Queria que fosse
O que quero e que me esquece
E que se eu esqueço numa hora
Bate à minha porta
E reclama
E chora
E vai embora só depois que juro jamais jogá-lo fora

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

CINCO MINUTOS

Fogo de palavra
Bolsa junto ao corpo
Pernas que passavam
Rostos sem sim nem não
Era ali na esquina
Na ponte Octavio Frias
Na linha azul
Na idéia que não abrias ao mundo
Teu absurdo doce
Doce e puro

O silêncio fosso
Banco de couro
Amor de aço

O osso que um cão sonha
Pra amanhã
Pra agora o nunca é nunca

Luz de olho calmo
Guarda-chuva aberto
Braços esticados
Um sonho é a contra-mão
Era ali na Sé
No edifício Itália
Num isopor que voa a marginal
Com água quase fria
Quase pura
Quase sua

O silêncio manco
Marca de cigarro
As câmeras do banco

O quero-quero vendo o jogo
Das gramas do Pacaembu
O coração full

Bala de saudade
Azul no céu da boca
Cinco minutos no nada
Cinco minutos é uma vida
No meio da tarde o amor é uma idéia louca
Que come concreto e aço

E agora?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

SEI BEM


Um sorriso ou a verdade
Um amor ou vaidade
No final do dia a cama é onde a gente confessa o que tem vontade

Um abraço ou a benção
Um cargo ou o coração
No final do dia a cama é onde a gente tira a roupa de toda ilusão

Sei bem de você
É tudo agora e é só o que eu sei fazer
Passa então
O tempo é bom
O que me dói é teu retrato em minha mão

Uma sala ou o mar
Uma bolsa ou o ar
No fundo da gente é onde ainda passam as tardes daquele lugar

Sei bem de você
É tudo agora e é só o que eu sei querer
Espera então
O tempo é são
Uma hora dessas eu me esparramo no seu colchão

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O SEU TAMBÉM


Tem razão
Dentro do seu metro quadrado de realidade analgésica
Tem razão
Eu sou dos loucos que não cabem no teu armário
Eu sou daqueles que não decoraram o calendário

Nem voa para o sul no inverno o meu coração
Tem razão então

Sabe que vai me amar só o tempo que durar a canção
Confortável então?

Esquece quantas canções eu posso inventar
Pra deixar doido também o seu coração

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ALMOFADA


Onde vamos depois que o led se apagar?
Onde vamos?
Quando o amp esfriar
Quando o hálito de cana permear a boca
Suave e doce
Uma puta sem sexo que faz nosso peito descansar

Onde vamos quando o relógio bocejar?
Onde vamos?
Quando acaba o lá fora
E a vida acontece aqui dentro e agora
Gentil e pura
A aventura sem fama que só a gente pode provar

Agora onde não há toalha sobre a cama
Sandália
Vestido
Pão dormido

Onde vamos depois que o dia acordar?
Onde vamos?
Quando a sala esfriar
E guardar ainda o resto da noite que passou
Certo e fértil
A almofada onde agora a minha cabeça vai descansar

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

CONVITE


Pegue tudo que te faz tão letal
Eu quero ver você assim
Sem disfarce
Sem sutileza pra mim
Só deixe o batom
Pra eu saber o quanto teu veneno é bom

Pegue tudo que te faz tão letal
Eu quero te ganhar assim
Esse nada
Essa cortina sem fim
Teu perfume de sol
Espalhado pelo meu gasto lençol

Anda logo
Eu nem tenho pressa
Mas meu peito é uma festa
Que passa convidando só quem pode me acompanhar

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

FOSSE

Que fosse um doce
Perdido do outro lado do vidro de um bar
Em oitenta e alguma coisa
Em janeiro
O dia ensolarado
O sol todo ensopado da água que eu espalhava
Quando meu corpo
De alegre se debatia

Que fosse a missa
Que de longe acontecia sem me causar náuseas
Em oitenta e aquela coisa
Em janeiro
O dia acabado
A noite chegando do fundo de um sábado
Quando minha alma
Passeava pela vida toda despreocupada

Fosse aquela hora
O passo que viria
A página que chegaria
Com letras grandes
Finalmente me revelando o teu nome

Amor primeiro, sorvete depois...