quinta-feira, 25 de novembro de 2010

HOJE EU TE PERDOO


Ah rapaz
O que faz enquanto passeia por aí?
Por onde anda quando tem que esquecer que da tua vida eu saí?

Faz tua casa esses lugares
Calçadas, rodas e bares
Abraços, risos e olhares que nunca te levam muito além dali

Ah rapaz
O que traz nesse peito que dói?
Por que não tomba aos convites que te faço quando a noite já foi?

Faz tua fala esse silêncio
Um samba, um copo, teu vício
Outubro e algum artifício pra que não te vejam chorar

Ah rapaz
O que faz enquanto mastigo tua fé?
Por onde carrega meu corpo quando eu não estou com você?

Faz dessas outras um remédio
Bocas, seios e um doce assédio
Coxas, mãos e no clarear da escuridão o mesmo tédio

Vem cá
Vem cá
Hoje eu te perdoo

Olha que agora a noite já desceu daquela altura
Se sou teu mistério
Se sou tua pergunta
se sou teu veneno serei hoje também a tua cura
Vem

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

TOLICE

Ali na curva
Onde a ciranda da cabeça cantarolava
Girava tirando do meu peito com tua mão delicada mas justa
Cada passo atrás de minhas costas que hoje desenham a cama em que me deito

Ali comigo
Onde ontem do incerto eu duvidava
Tombava agora qualquer certeza que na lágrima fora forjada
E num compasso um riso novo floria de luz todo o jardim da minha mesma cara

E fique surpresa
Numa forte simplicidade exata
Neste secreto conforto eu não teria porque te esconder
Mesmo depois do teu murro na boca do estômago dos meus sonhos
Eu sou ainda capaz de dizer-te: Te amo... mesmo que tua tolice queira te levar embora.

sábado, 18 de setembro de 2010

QUE SEJA

É tão perto e tão secreto
No tempo chuvoso
No quieto do quarto
O relâmpago
Deus dizendo meu nome
Falando comigo
Contando o que eu guardo
E que não te confesso
Mas é sempre o teu rebelde juízo
O cabelo, a voz, a boca num arco
Teu sorriso

É tão perto e tão secreto
Na manhã absurda
Na lágrima catapulta
A vigília
O barulho do sol subindo
Falando comigo
Cobrando o que eu não digo
E que não te confesso
Mas é sempre o gozo de tua mão
Os olhos, as ancas, as sardas
Teu coração

É tão perto e tão secreto
Na tarde que boceja
No céu que amarela
O crepúsculo
O céu perdido comigo
Falando pra mim
Lembrando o que eu não esqueço
E que não te confesso
Mas é sempre teu doce deserto
O colo, o peito, o quero
Teu busto

É tão perto e tão secreto
Na lua pendurada
A amiga madrugada
A cachaça
Deus me puxando do tombo
Falando comigo
Cuidando do que eu vivo
E que não te confesso
Mas é sempre o que minha alma vê
Um nome, o nome, o nome
Você

Palavra desafogada da minha solidão
Que seja amor então

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

ENQUANTO ISSO


Mesmo que pareça sem jeito
Mesmo que padeça aquele nosso tempo numa memória amarelada
Esse desejo sem explicação
Essa peito na contra-mão da lógica ditada
A voz acanhada
O amor espremido em nossas gargantas terá sua hora de voar
Terá sua vez de arrombar todo o coração

Mesmo que a chave se perca
Mesmo que suave seja a prisão onde a gente despenca da gente
Essa única graça
Esse fenômeno que caça o sono nosso
O medo nosso
O amor marginal que jogamos no fundo da vida terá justiça
Terá sua vez de perdoar nossas mentiras

Mesmo que pareça sem jeito
Mesmo que seja impossível nesse segundo apenas onde penso
Mesmo que a minha desculpa agora pareça vadia
Minha boca e tua
Nossos olhos colados e bom dia

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

QUANTO TEMPO

Quanto tempo
Quanto tempo

Que te guardem sempre forte
Sempre povo
Sempre imenso
Sentimento grandioso
Nosso todo poderoso

Longe do plástico conforto
Da bajulação da sala de prêmios

Tuas taças não são as que brilham em exposição
Mas a singularidade que teus filhos carregam neste nosso imenso coração

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

E PRONTO

Voltei rindo
Depois da chuva feia que tua boca soprou
Onde na estrada da vida meu coração capotou
Derrapou em tuas mentiras
Estraçalhou quem eu sou no muro dos teus olhos

Voltei rindo
Depois da seca dura que tua boca pariu
Onde no chão da vida meu coração morreu
Bebeu da tua lágrima de cicuta
Endureceu quem eu sou no solo árido dos teus olhos

Nem te condeno à semelhante absurdo
Nem dilúvio
Nem veneno
Nisso tudo
Quem sabe até um...
Não, isso não
Ainda não

Apenas quero o que já tenho
Agora ganho a estrada e já vou indo
Até que descubras por que tenho andado rindo
E pronto.

terça-feira, 20 de julho de 2010

E QUE O MUNDO ME OUÇA

Sem cadeados para os meu olhos hoje
Sem tempo para inventar minha culpa
Que seja sempre feito um começo
A janela nova
O dia novo
Novo mundo
Nova aurora
Novo planeta
Que seja sempre esse meu único possível sentimento
O universo todo o quintal de minha casa

Fracasso com a ditadura das almas
Fracasso no sermão hipócrita de quem não tem marcas
Não tem os joelhos machucados por não se arriscar fora da fria segurança
Falsa segurança dos sempre certos
Dos corações enferrujados que vivem agarrados ao peito de seus donos
Quando na verdade seriam livres se ardessem bêbados nas mãos de outra pessoa
E que o mundo me ouça
Há tempos deixei o meu nas mãos daquela moça

quarta-feira, 14 de julho de 2010

NA RUA


Na rua uma gente formigueiro a se cutucar
Queixo preso aos pés nem percebe o luar
Que eu finjo que foi presente meu pra nós
Quando você finge que está muito longe pra eu te apanhar

Na rua hora só buzina a se masturbar
Hora o silêncio a cantarolar
Todos os segredos que cada um esconde de si
Bem que podia abrir a porta e ser você a rir

Um terno amargo fedendo lorota
O pneu opaco lambendo a poça
Nossa...
Olha a casca banguela daquele estrela caída sorrindo pra nós!

O céu de nós
O véu que cerca toda a tua boca flor
Meu céu de luz
Meu copo americano
Abajur cruz do meu amor!

Na rua vento lança cega a me acertar
Olho de porta fechada para o meu olhar
Nem percebe todo meu ouro do lado direito
E eu penso que é meu defeito não querer explicar

Treme a calçada o metrô embaixo
Treme na calçada a pele descalça de algum abraço

O céu de nós
O véu que tranca todo teu corpo calor
Meu céu depois
Meu copo americano
Confessionário do meu amor!

terça-feira, 13 de julho de 2010

JOGO

Eu sempre escapo de não saber de você
Eu sempre teimo em contar tudo enquanto olho
Enquanto calo a minha boca e deixo pedaços do que sonho decorando a sala
Soprando pelo ar do mundo
Por aí
E eles sempre alcançam teus poros
Bagunçam teu colo
Tua boca gasta de tanto usar a palavra duvido

Onde eu mataria isso se isso nem sabe que um lado triste meu existe?
Onde eu viveria secreto e imune à mim mesmo?

Então eu sempre escapo de não saber de você
E você finge que escapa de mim
Até a hora de você escapar comigo

domingo, 11 de julho de 2010

FEITO VOCÊ

Sabe aquilo?
Uma euforia sem pergunta alguma
Feito quem gritou o gol em 58 sem nem ter visto o chapéu
Feito a voz que chega pelo corredor anunciando: Nasceu!

Então sou eu mais fraco por acreditar em alguém?
Então sou eu quem perde tempo por chorar a rebeldia do meu coração?
Sei

E agora sobra só a voz da tua covarde razão?
Tua alma de pés no chão
É como você se deita no seu colchão
E como você se esconde do frio se cobre teu olhos com toda essa escuridão?
Como você se esconde de mim se eu vivo correndo nu pelo teu coração?

Sabe aquilo?
Uma alegria sem vergonha alguma
Feito quem girou com os olhos cheios de riso fora dessa gente
Feito quem me lembrou que já era a hora de perder meu coração
Feito você

Mas onde você guardou você então?

quarta-feira, 30 de junho de 2010

A CAMA E O SALÃO

Suba então
Suba agora
Do dia que definhou lá fora
Da noite que morre do outro lado de tua pele

Teus olhos com sede de fogo
Filmando só esse brinquedo bobo
Esse velado sufoco
Dessa gente que aceita tão educadamente tamanho desconforto

Teu grito!
E agora?
Já nem pedem tua presença à mesa
Rabiscam teu rosto na foto
Apagam tua voz dessa estranha música que voa
E que tanto os incomoda
Pois sabem que nem podem mais pegar tua selvagem alma

No salão despenca suave a poeria agora
Os tacos nem mais tremem à pressão das solas
O balcão está seco
O ar descarrega-se do hálito de pinga

Em tua cama tudo morno e quieto
Tudo ontem e sempre
Um século atrás e amanhã também
E ainda tem
Depois de tantos giros do teu coração ao redor da lua
No teu pensamento mais fundo
Aquela mulher quando dorme toda tua
Faz você perdoar as mancadas inevitáveis deste mundo

sexta-feira, 25 de junho de 2010

SONHO VIGARISTA

Amarrei minha sorte à saia de um sonho leve
Eu sabia do riso
Sabia dos olhares da lua
Meu corpo entregue e meu peito sempre na rua esperando o fogo daquela hora

Num nome a febre mais deliciosa
No peito o que nem a morte devora

Mas veja só como se dar é mesmo algo tão singular
O sonho nem era sonho
Fez-me um estranho à minha própria vista
Um fantasma vigarista
Que disse do fundo do seu coração vermelho me amar
Mas quando acreditei nunca mais tive coração para dar

terça-feira, 22 de junho de 2010

CARECER

Nestas que me ofereces eu vou me manter em paz
Silêncio e distância
Careço, careço sim
Mas não do que julgam teus números na ponta de uma caneta
Teu peito de pés inchados e asas atrofiadas
Teu infame discurso de soprar veneno
Tuas frases fedorentas

Careço do que não se inventa
Do que não se atentam os dedos enquanto trepam com as cédulas
Do que não existe na particular comodidate de uma vida muito bem avaliada
O descaso com culpa para o vento
A âncora onde se amarram os beijos... as noites verdadeiras...
Pra que morram nessa geleira escura que adorna teu peito

Careço do que tu careces
E que apesar das minhas chulas preces
Negamos um ao outro com a tranquilidade dos mortos

segunda-feira, 21 de junho de 2010

DANADA

Fique quieto em tua saudade
Fique quieto e calmo
Não gaste farpas de palavras com esses
Nem querem saber de você na casa das almas engomadas
Nem querem saber de você na prisão onde a canção escapa
Linda e viva
Pois já é livre feito que é a roupa de tua alma
Nem podem saber de você pois eles nem sabem que existe tanto mais que dos olhos escapa
E que existe uma beleza fértil e sem preço
Sem desconto de 10%
Então calma
Nem querem saber de você
E isso é uma puta sorte danada!

terça-feira, 15 de junho de 2010

NOSSO TEMPO

O que será que pensam de nós os bilhetes esquecidos pelas gavetas?
Será que dança sobre a pia o copo quando eu ainda não voltei pra casa?
Quando a minha estrada é o nível amarelo de um copo de cachaça
Que uso feito uma borracha pra apagar teu nome dentro de mim

Será que riem ou que choram as estrelas quando falo sozinho minhas doideiras?
Quando eu canto baixinho essa tristeza
Quando eu subo pelas escadas os andares do meu peito
Andar por andar
Tantas portas fechadas e apenas a mesma chave
E você sabe
Ah, você sabe

O que será que pensam de nós os confetes amanhecidos da quarta-feira?
Será que sussuram a nossa vida às serpentinas aterrizadas na sarjeta?
Quando a minha casa é teu sorriso fotografado naquele tempo
Picado em pedaços soltos nalgum vento mas todo inteiro aqui dentro

Será que você me vigia pra garantir que eu não escapo do teu esquecimento
Ou me guarda com afinco pra lembrar que deve me esquecer um dia desses...
Antes do fim do nosso tempo?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

AS COISAS NO LUGAR


Chego inteiro em teu olhar

Chego pra pôr as coisas no lugar

Chego e de tanto eu te sacar você aperta teus olhos

Pra saber que estou em teu quadril

Em tua nuca nua

Na rodovia de tuas costas

O conforto de tuas ancas

Tuas nádegas se debatendo em mim

Você aperta teus olhos pra saber que do teu coração eu jamais fugi

segunda-feira, 31 de maio de 2010

ASSIM SERENO

Aqui e hoje
Um espectro vivo
Vagando naquela noite
Naquelas horas onde se calaram os ruídos
Onde testemunharam as estrelas e o concreto suado de garoa
Cada olhar e cada sorriso
Lembra você também disso?

Da mão chamando a outra pela primeira vez a correr pela vida
E a desculpa lacrimogênea
E a vontade de mais
E tão mais do que cabia dentro da gente

Aqui e hoje
E amanhã quando?
Que bom que eu ainda acredito
Assim tão secretamente ávido
Assim sereno
Assim contra o mundo todo
Assim de bem comigo

quarta-feira, 19 de maio de 2010

NÃO MANDO FLORES


Não mando flores
Não telefono
Não te abraço se a noite é fria
Não abro a porta
Nem olho torto
O tamanho curto da tua saia

Do que então reclamo?
O que então eu quero se o que te dou você nem vê?

Meu sono tosco
Noites em claro
Olhos parados numa xícara de café
O meu silêncio
Aquela lágrima
Quando a canção me faz lembrar de você

Não trago agrados
Nem mesmo percebo
Do teu cabelo se perguntas pra mim
Não comprei o anel
Fiquei calado
Quando aqui dentro eu dizia sim

Do que então reclamo?
Sei que nem faz ideia do que você carrega por aí

Meu peito todo
Meu peito quase
Meu peito solto que vai sem eu pedir
Meu peito tolo
Meu peito viúvo
Meu peito triste já que você não está mais por aqui

domingo, 2 de maio de 2010

INTENÇÃO


Não tenho a intenção de viver mais do que me caiba viver
Não quero mais do que preciso
Não tenho medo do ponto exato
Da alegria exata sem exagero

Não tenho a intenção de agradar fora do meu jeito
Não quero nada além do que mereço
Não tenho anseio pelo demais
Pela bajulação cheia de dedos

Não tenho a intenção de viver pelo dinheiro
Não quero nada além do que preciso
Não tenho a febre do ouro bêbado
Da solidão taciturna de um diamante no porta-jóias

Não tenho a intenção de te esquecer
Mesmo que doa em mim e só em mim
Pois a você desejo que a vida a tenha como a filha preferida
Uma loteria de alegria todinha pra você

Não tenho a intenção de desaparecer do teu pensamento
Não vou desabitar teu peito ranheta
Não me acanho com tua teimosia
Tua mania de guardar o que eu já peguei pra mim

Não tenho a intenção de ser o homem que você sonhava
Mas tenho a certeza de ser o homem que você nem imaginava

sexta-feira, 30 de abril de 2010

ME DEIXE

Não passe a tempo de me guardar da chuva enquanto sol
Do frio enquanto calor
Do jeito falso indiferente com que cruzo as pessoas na rua

Pode ser esse brilho em mim a tua assinatura?

Não passe a tempo de me salvar da solidão enquanto escola
Do silêncio enquanto música
Da chama dura que se guarda pra aquecer a tua vida

Pode ser esse brilho em mim a tua assinatura?

Não passe a tempo de me salvar do choro enquanto vida
Da saudade enquanto aceite
Do que foi a minha vida ali há pouco... ainda meu maior tesouro

Nem se preocupe com o que se ocupa em tentar me cercar
São fios de vozes caquéticos
Assombros capengas
Fantasmas farrapos de uma raiva covarde que jamais me assusta

Pra você, mesmo que reste um nunca à nossas mãos noutra hora juntas
O meu profundo Amor, meu Bem

quinta-feira, 8 de abril de 2010

NEM VEM QUE EU NEM SEI


Nem vem você
Que hoje eu nem vou me dar assim tão cego
Eu pego meus cacos e vou pra lá
O que dizer
Se o que queres resgatar de mim hoje eu nego?
Eu sigo a estrada que acaba em tua língua
Eu rio a melancolia da tua pinga

Nem vem você
Que hoje eu nem tenho uma mentira pra dizer
Fui benzer umas datas do calendário
O que perder
Se deixei tudo que é de mim em teu peito?
Eu vivo a prévia da ressaca que te espera
Eu morro a mentira que você berra

Que flor assim tão singular
Vive tanto tempo sem alguém pra vigiar?
Que dor assim tão devagar
Passa tão serena sem alguém pra consolar?

Nem vem você
Que hoje eu vou me lambuzar do teu veneno
Eu dano a lógica da canalha
O que dizer?
O que jogar fora do porão das nossas coisas?
Eu vendo caro duas sílabas semi-usadas
Eu deixo meu nome murmurando em tuas calçadas

sexta-feira, 19 de março de 2010

ATÉ LÁ


Até lá ainda vai acontecer no meu rosto
Uma chuva qualquer num outono
O músculo engrenado num pranto ou num riso
A cor da saudade daquela menina
A calmaria dos sonos desordenados com o relógio do dia

Até lá ainda vai me acompanhar por aí
Uma lua que sopra o que os loucos ouvem
A doçura que falta no que os covardes escolhem
O ponto final de toda mentira
O descaso afinal que flutua acima dessa vida impostora

Até lá
Eu serei menos o que nem sou
O que nunca fui
O que nunca estou
Quando na curva de um conselho eu me abasteço de outro valor
Até lá um dia dirão tudo que eu ousei dizer
Dirão que eu morri de tanto o meu coração bater

segunda-feira, 15 de março de 2010

TUDO É BOM


Não
Você não vai rolar pelas escadas do teu coração
Você não vai sempre passear de mãos dadas à essa solidão
Beber sempre esse copo de Não... não

E se o melhor foi a hora perdida?
O vagão lotado
Um desencontro na saída
O trânsito parado
O telefone mudo
O abraço absurdo que a campainha não berrou

E se o melhor foi a data esquecida?
O caminho trocado
Uma outra avenida
O celular roubado
O endereço trocado
O email apagado que alguém um dia enviou

Um dia
Que dia?
Quem diria haver tanta vontade em quatro letras unidas?

Não
Você não vai rolar pelas escadas do teu coração
Alguma hora da vida tudo é bom

quarta-feira, 10 de março de 2010

O ALCOUCE DAS BRUXAS


Cantam afinadas deitadas sobre o meu peito
As bruxas que me adotam
Que me aceitam sem fantasia
Belas e gostosas
Visitam minha vida
Minha alma e minha história
Quando a cachaça doce e fluorescente
Beija a minha boca afiada mas calma

Vão elas tão lindas
Tão soltas e sábias
Sem roupa
Sem profissão
Sem cartão de crédito
Sem o carimbo medonho do falso sucesso

Me dão seus peitos fartos
Suas coxas vivas
Suas bundas certas
Seus braços aflitos
E eu aqui
Vivo e descanso
Na secreta e suculenta paz desses lábios

terça-feira, 9 de março de 2010

TEM MAIS


Vou para o meu lugar
Afastado agora de você
Vencido pela tua revoada de não
Vou sair daqui
Do teu chão comportado
Subsolo da minha alegria
Aquela que te dei aquele dia
De mãos dadas
Enquanto nossas passadas venciam a multidão
Venciam as distâncias das nossas possibilidades

Vou para o meu lugar
Alto como meu coração gosta de respirar
Ar rarefeito de vozes matemáticas
De contas e anúncios da televisão
Onde eu sonho o que vivo
Pois a minha vida é a minha maior invenção

Tem mais de nós por aí
Tem mais de mim em você do que só o espaço que eu ocupava naquele colchão

segunda-feira, 1 de março de 2010

PERCEPÇÃO


Hoje desapareci dos espelhos
Dos olhos e das vitrines
O vento não me achou
A chuva não me molhou
O sol... onde mesmo eu fui deixar

Quem é esse que vive do outro lado do meu olhar?
O lado de dentro
Quem é esse que não consigo medir com as réguas de que se valem toda a canalha?

Esse que quando vai eu sigo
Esse que quando dói eu choro
Que quando cai eu me machuco

Que quando ama eu flutuo sobre esse mesmo mundo anunciando que meu coração já tirou o sol do castigo
E hoje ele já vai brincar fora de casa

E SE


E se fosse loucura?
Isso aqui
Bem aqui comigo
Levitando meu corpo ao redor do mundo
Tornando o meu peito um lugar distante
Brilhante e fundo

E se fosse loucura deixar assim ir embora?
Sem espernear
Sem berrar
Tão triste e tão calmo

E se fosse loucura eu teria o seu perdão
Mas é amor
E amor você não perdoa

domingo, 28 de fevereiro de 2010

SONHO NOVO


Hoje e só por hoje
Aposento você de mim
Do quarto íntimo da minha alma
Apago teu nome das cartas
Das horas sem sono
Desarmo tuas vigarices de orgulho
Entendo que te falta o alívio do perdão
Esse teu medo de entender que sou o dono do teu coração

Que parta agora o meu olhar
Longe e sem dona
Sem memória
Sem a história
Os papéis rasgados feito meu peito
Os segundos inchados feito meus olhos
Hoje
Amanhã eu reservo de você um sonho novo

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

CANÇÃO DE NINAR DO PEITO OCO



Como alguém que caminha pelo ar
Tendo o telhado como o asfalto
E o céu como o teto do quarto

Será que sabe o que vai acontecer?
Será que sabe o que temos que perder pra ganhar o próprio coração?

Deixo o pedaço melhor do meu só pra você
Na vitrola que você não pôde ouvir
No sol da tarde de mil novecentos e oitenta e oito

O que procura em meu bolso?
Procure nos meus olhos


Como quem desvia de um olhar
Fazendo uma piada à mesa dos amigos
E guardando a lágrima pra hora de dormir

Será que me viu desgrudar as calçadas?
Será que me viu rabiscar uma casa com o tijolo que sobrava no quintal?

Abro mão do meu coração e te dou
Pra que preencha esse oco no seu peito
Pra que ele bata por nós dois... por mais um tempo

domingo, 21 de fevereiro de 2010

BOTA O CHINELO (MARCHINHA)


Bota o chinelo Vininha
Que a gente vai passear
A lua diz que quase era minha
A tristeza que acabei de jogar

Bota o chinelo Vininha
Bota a voz pra cantar
Mesmo que a lágrima venha
A gente vai botar pra quebrar

Amor não é só ilusão
Meu peito não é só contra-mão

Bota o chinelo Vininha
Que a gente vai se esbaldar
Todo o céu dessa noite se assanha
Pois já foi o tempo de chorar

sábado, 20 de fevereiro de 2010

AQUELE SONO


Tenho no bolso as portas de casa
E no peito uma fotografia
No riso uma saudade difusa
Nas mãos aquela alegria

Tenho nos olhos um baita abraço
E na boca o banquete da tua vontade
No corpo o teu alvoroço
Na voz a nossa saudade

E como é que me escapa?
Como é que você me escapa?

Devolva-me aquele sono.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

APANHAR É PRECISO

Está aqui e ali
Tão perto com seu odor de vida
Tão certo com seu sabor de bem
Mas essa gente faz que nem sente
Faz que nem desaprende das tortas palavras no manual dos tristes
Numa artrite de sentimentos que primeiro gela a alma
E depois mostra os dentes

Seguem elegantes e sorrindo
Numa revoada capenga
Que mergulha em câmera lenta
Até esborrachar cada um em si mesmo

Eu aqui e ali
Só apanho
Apanho pela coragem que ofereço
Pela risada de que me atrevo
Pelo amor fora de contexto que eu busco e juro um dia alcançar
Apanho
O coração remendado
Trapo de farrapo de meus batimentos
Mas todo alma
Intacta e bela
E assim
Fora dessa panela de medo
Ei de herdar enfim o meu simples e merecido aconchego

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

AGUENTA


Aguenta que já vai amanhecer a quarta-feira
A gente se judiou a noite inteira
Eu tive até a tua mão
Eu tive até o teu olhar
Quando você partiu faltou também me levar

Aguenta
Aguenta que não demora mais
O beijo que a gente teimou em deixar pra depois

NEM FICO

Já é a dobra da madrugada
Agora o que sobra daquele sol
É o cheiro de fel que levo no meu coração

Segue o seu jogo vão
Sua sacola cheia de não
Tudo pra mim
Tudo que um dia eu ei de botar um fim

Já é a sola das palavras
A gente fala agora o que a boca nega
E o olho pega e confessa o que a alma quer

Segue o seu jogo de doer
Seu abraço na contra-mão
Tudo pra mim
Tudo que um dia eu ei de botar um fim

Nem fico
Vou embora por aí se esse é o único jeito que tenho
Pra dizer que não esqueci

Já é a quina da vontade
Agora a saudade saiu pra cantar
Que o sol é o altar onde deixo flores pra você

Segue o que a gente vê
O que a gente prevê
Tudo pra mim
Tudo que um dia eu ei de botar um fim

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

UM SANTO QUALQUER


Não perca o seu tempo em me esquecer
Siga quase bem
Diga bem alto que tudo é tão melhor
Que o sol dos teus dias ficou maior
E quando a noite chegar procure lá
E peça segredo aos teus olhos

Não gaste o seu tempo pra me esquecer
Seja quase alegre
Conte que a minha febre te deixou
Que minha imagem fluorescente te abandonou
E quando a noite chegar procure lá
E peça segredo aos teus olhos

Mas peça a um santo qualquer
Pra não me ver por aí
Pois nessa hora
Teus olhos hão de te trair

Teu peito há de sucumbir
E tremer
E querer
Tudo aquilo
Isso que você inventou ter fim

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

É POR ISSO


O amor é maior que você
Maior que a tua casa
Que a tua rua
Que o teu bairro

É maior que a lua
Que o sistema solar

E teima só em morar no coração
Que cabe dentro de você

É por isso que dói
E é também por isso que algumas vezes somos pessoas melhores

Algumas vezes

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

SURPRESA


Vi você
Estúpido e com medo
Estático e sem jeito
Contido num frasco de analgésico
Incabível dentro do seu peito
Sem a possibilidade de um dia morrer
Pois não estava vivendo

Vi você
Chorando tuas besteiras
Mimado de esmolas
Ilhado de olhos cheios de pólvora
Correto para o abate
Um sorriso de trocados

Mas pra minha surpresa
Em você o escuro que já quase parece posto
É digerido por uma nova manhã
Uma nova
Com ranhuras de respeito
Mas nova e bela
Que da janela do sol a vida atira-se para o teu colo
Teu novo peito confortado e confortável
E você deixa de ser algo
Esquece de ser alguém
E passa a ser alma

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

0 X 0


Queria que fosse
O que quero e que foge
E que se desisto e paro de correr
Pára também
E me olha
E me espera
E me pede desesperadamente que volte a persegui-lo

Queria que fosse
O que quero e que me esquece
E que se eu esqueço numa hora
Bate à minha porta
E reclama
E chora
E vai embora só depois que juro jamais jogá-lo fora

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

CINCO MINUTOS

Fogo de palavra
Bolsa junto ao corpo
Pernas que passavam
Rostos sem sim nem não
Era ali na esquina
Na ponte Octavio Frias
Na linha azul
Na idéia que não abrias ao mundo
Teu absurdo doce
Doce e puro

O silêncio fosso
Banco de couro
Amor de aço

O osso que um cão sonha
Pra amanhã
Pra agora o nunca é nunca

Luz de olho calmo
Guarda-chuva aberto
Braços esticados
Um sonho é a contra-mão
Era ali na Sé
No edifício Itália
Num isopor que voa a marginal
Com água quase fria
Quase pura
Quase sua

O silêncio manco
Marca de cigarro
As câmeras do banco

O quero-quero vendo o jogo
Das gramas do Pacaembu
O coração full

Bala de saudade
Azul no céu da boca
Cinco minutos no nada
Cinco minutos é uma vida
No meio da tarde o amor é uma idéia louca
Que come concreto e aço

E agora?

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

SEI BEM


Um sorriso ou a verdade
Um amor ou vaidade
No final do dia a cama é onde a gente confessa o que tem vontade

Um abraço ou a benção
Um cargo ou o coração
No final do dia a cama é onde a gente tira a roupa de toda ilusão

Sei bem de você
É tudo agora e é só o que eu sei fazer
Passa então
O tempo é bom
O que me dói é teu retrato em minha mão

Uma sala ou o mar
Uma bolsa ou o ar
No fundo da gente é onde ainda passam as tardes daquele lugar

Sei bem de você
É tudo agora e é só o que eu sei querer
Espera então
O tempo é são
Uma hora dessas eu me esparramo no seu colchão

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O SEU TAMBÉM


Tem razão
Dentro do seu metro quadrado de realidade analgésica
Tem razão
Eu sou dos loucos que não cabem no teu armário
Eu sou daqueles que não decoraram o calendário

Nem voa para o sul no inverno o meu coração
Tem razão então

Sabe que vai me amar só o tempo que durar a canção
Confortável então?

Esquece quantas canções eu posso inventar
Pra deixar doido também o seu coração

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

ALMOFADA


Onde vamos depois que o led se apagar?
Onde vamos?
Quando o amp esfriar
Quando o hálito de cana permear a boca
Suave e doce
Uma puta sem sexo que faz nosso peito descansar

Onde vamos quando o relógio bocejar?
Onde vamos?
Quando acaba o lá fora
E a vida acontece aqui dentro e agora
Gentil e pura
A aventura sem fama que só a gente pode provar

Agora onde não há toalha sobre a cama
Sandália
Vestido
Pão dormido

Onde vamos depois que o dia acordar?
Onde vamos?
Quando a sala esfriar
E guardar ainda o resto da noite que passou
Certo e fértil
A almofada onde agora a minha cabeça vai descansar

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

CONVITE


Pegue tudo que te faz tão letal
Eu quero ver você assim
Sem disfarce
Sem sutileza pra mim
Só deixe o batom
Pra eu saber o quanto teu veneno é bom

Pegue tudo que te faz tão letal
Eu quero te ganhar assim
Esse nada
Essa cortina sem fim
Teu perfume de sol
Espalhado pelo meu gasto lençol

Anda logo
Eu nem tenho pressa
Mas meu peito é uma festa
Que passa convidando só quem pode me acompanhar

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

FOSSE

Que fosse um doce
Perdido do outro lado do vidro de um bar
Em oitenta e alguma coisa
Em janeiro
O dia ensolarado
O sol todo ensopado da água que eu espalhava
Quando meu corpo
De alegre se debatia

Que fosse a missa
Que de longe acontecia sem me causar náuseas
Em oitenta e aquela coisa
Em janeiro
O dia acabado
A noite chegando do fundo de um sábado
Quando minha alma
Passeava pela vida toda despreocupada

Fosse aquela hora
O passo que viria
A página que chegaria
Com letras grandes
Finalmente me revelando o teu nome

Amor primeiro, sorvete depois...