domingo, 14 de janeiro de 2024

Você Escolhe o Dia

 Reviro o passado

Alguma lembrança que me mostre a curva que nos mudou

Onde antes o mesmo horizonte

Agora o rosto do outro

E a intenção de passos que recuam



O que era pior?

A distância física

Ou os corpos no mesmo quarto vazios de corações?


É bonito te ver socorrendo o mundo

Pintando o mundo com o teu amor

E tudo bem pra mim

Ser pintado com qualquer outra cor


Eu quero chorar

Eu quero fugir da calculadora que me adotou

Será que hoje tenho a sua permissão?

E as folhas da tua vida estão aí

Eu sou apenas aquilo que você rascunho


segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Crescer

Meu adulto é uma criança que esqueceu

Uma criança apartada de pai e mãe... de irmão

Confiscada dos sonhos

Acorrentada no cotidiano inventado

Na invenção fútil e passageira das coisas sérias

Uma criança triste

Solitária e fantasmagórica

Que dá suas horas em troca de farpas

Bilhões de tardes mortas em troca de dores de cabeça

Troca a paz por ataques de raiva e medo

Receio de tudo

Desconfiança de todos

Que maravilhoso escárnio que é crescer


quarta-feira, 29 de junho de 2022

Pau no cu

 

Morrer do mundo

Não de mim

Morrer do nome… do cpf

Morrer da responsabilidade vazia

Do comprometimento com essa futilidade efêmera

O que você, na sua ignorância, pensa que é para o Sol… para a Lua?

Qual é a sua importância para qualquer estrela?

Nenhuma

Nada…

Tu és apenas um riso… um riso de pena.

Dois passos de formiga para o tempo das estrelas

Você é só um pau no cu


Morrer do mundo

Não de mim

Morrer das paredes

Das instituições

Das mesas e dos talheres

Morrer das maledicências…

Da mesquinharia

Da moda… do legal…

Do refinado e do brega

Morrer do cozido da panela social


Tá surdo para o único e verdadeiro ponteiro?

O ponteiro derradeiro

Você é só um otário, pau no cu


segunda-feira, 11 de abril de 2022

Comigo

 Quem é você cruel assim?

Que me mastiga devagar, anos sem fim

Que sabor a minha tristeza tem pra você?

Essa tv em meu coração

Onde quem eu amo se contorce em desespero

E minha mão nunca alcança

Minha inteligência fica muda

Minha razão afunda num aquário profundo

Lamacento


Deixe disso

Deixe de mexer com eles

Venha ter isso direto comigo

Venha acertar isso comigo


segunda-feira, 4 de abril de 2022

Ribeirão

Sabe

Algumas vezes

Nas vezes longe daqui

Quando volto para os braços do que era novo

Eu quase sinto revolta

Por perder-te assim em silêncio

Vagarosamente imperceptível

Como os meus passos no teu calçadão


Ali

Quando minha consciência desmaia aqui

E acorda sobrenaturalmente

Nas tuas tardes quentes

Nas noites longas e agitadas

O som dos cabos do trólebus

O Luciano no gol

O mesmo disco de vinil

Os fantasmas do estádio do Comercial

O Tutty no beliche de cima

Os lanches do Amauri

A Treze

As preces secretas

A risada do Juninho

A Meira Junior

O tabuleiro do Eli

O Barmania

A Praça Quinze

Paulistânia

Skate, Rede Netbios e Doom

Da Sé, shape do Thronn, Zoom

Pai e Mãe

O Evandro pra me ouvir

As viagens do Cocão

Mas eu volto

Abro os olhos

Solidão, Solidão




sexta-feira, 18 de março de 2022

Idiota

 Aprenda isso idiota

Você é só

Aí dentro, nessa ilha fantasma

Rodeado por esses muros

Você é só


Não procure que o entendam

Não busque consolo

Guarde a tua hora privada pra chorar

Dê ao mundo apenas alguma calma

Feito uma brisa cansada e fraca

A tormenta é tua

Ela vai alimentar tua alma

Vai te dar força e olhos

E você verá essa merda toda com desprezo e pena


Ninguém se torna íntimo do mar navegando só os dias claros

A tormanta, idiota

A tormenta é tua

E você deve bebê-la em silêncio


sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Esvaziando a Bagagem

 Você pensa que vê sangue

Pensa que é lágrima

Confunde com fraqueza quando em mim explode a minha alma


Nesta cidade de gente morta eu passeio pra não ser notado

Eu permaneço firme em minha dor

E em minha alegria silenciosamente gigante


Quantas flores minhas já morreram na tua boca?

Teu hálito ácido engravatado

E isso importa?

Eu jamais me canso de plantar

Por aí… no amor que dou em segredo

Alimento com partes de mim...

Com partes do meu infinito coração… mordiscado e sempre inteiro


Posso aguentar todos os murros de quem tem medo do que represento

Pois enquanto eles correm para os seus guarda-chuvas

Eu beijo cada gota sagrada

Molho a minha cara nesse óbvio segredo


Escolho morrer sem ter os olhos para a vitrine

Mas para a próxima estrada

A que preparo agora esvaziando a bagagem

terça-feira, 24 de setembro de 2019

Um café no Califórnia

Triste… você é triste
Nem adianta desconversar
Triste…
Teu olhar triste desmancha o riso que você dá


Ali na sombra da tua esquina
Na pedra fria
Onde a garoa vem descansar


Ali na chuva
Na assombração da arquibancada do Pacaembu


Vem, vem, vem no meu peito se deitar
E assim me faz chorar

Triste… você tá triste
Há uma montanha no teu pisar
Triste
Teus carros tristes brilham os olhos no mesmo lugar


Ali na tua boa educação
No gesto contido
Onde o palavrão foi estrangulado


Ali na turma
Na consciência turva…
Os zumbis, os zumbis, os zumbis sem alma


Vem, vem
Vem no meu peito se deitar
Vem e me diz:

Por que eu não consigo te abandonar?

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Eu

Te usei como pedra
Te usei como flor
Como capa de chuva
Como rumo
Te usei, sim senhor

Te usei como culpa
Te usei com amor
Como a fuga secreta
Como droga
Te usei sem pudor

Agora você volta batendo minha porta
Me deixa, me deixa
Eu quero dormir
Só dormir e não saber de porra nenhuma

Te chamei de querida
Te chamei de meu mal
Fui feliz ao teu lado
Fui meu dono
E também meu senhor

Te chamei de prisão
Te chamei liberdade
Foste a minha virtude
Meu defeito
E também solidão

Agora você volta tremendo minha cama
Me deixa, me deixa
Eu quero dormir
Só dormir um sono comum…
Sem loucura alguma
Sem loucura... nenhuma

Mas vê se não me abandona

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Cicatriz

É garoa ou é choro?
É a vontade da tua noite me levar?
Não respondo mais
Não te namoro mais... faz tempo...
Ah, que saudade eu vou deixar

É garoa ou é choro?
É a tua alma querendo me adotar?
Não me entrego mais
Não te aproveito mais... faz tempo...
Ah, que saudade eu vou deixar

E se um dia alguém olhar cada átomo teu
Tristeza, alegria...
Madrugada, correria e concreto
Onde estará a cicatriz que eu vou deixar no seu peito?