segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Deixa quieto

Deixa eu ver
Qual é mesmo o gesto?
Qual é a frase que eu devo dizer antes disso tudo?

Sabe?
Fique aqui
Pode ficar com tudo
Sou eu que quero correr
Eu quero é pular o muro
É foder com esse papel de parede

Deixa quieto
É minha culpa
É minha
A paz que eu deixei pendurada na lua
Pra caber no teu terno
Nesse terno
E o que é terno entre os infames homens sérios?

Deixa quieto
Deixa quieto
Já deu a hora da missa de domingo
E eu vou estragar a festa

No fim das contas Deus tem um carinho secreto para com os seus perdidos

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Samba Enredo

E te agrada a frase pronta
Mas esquece do que dá forma à tinta
Do que controla a mão
Do que motiva a idéia
Da aflição explosiva sem etiqueta
Da depressão solitária
Muitas vezes secreta
Da euforia que escancara a alma
A mania absurda

Acha estranho
Das coisinhas do mundo que mastiga
Nem apetite meu coração sente
Pois sente fome do que dele mesmo se estende
Até onde a vista comum nunca alcança
Até onde será meu coração venenoso pras tuas certezas

Do amor travestido saberá todas as letras
Feito um samba enredo

Do meu amor capenga prefiro mesmo é saber do gosto

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Tequila Baby

Foi quando o mundo era mais lento
Ninguém oferecia um copo de água esperando um Nobel
Foi bem ali
Quando vi a melhor seleção de todos os tempos perder para a Itália
E foi tanta coisa
Atiraram no John Lennon
Meu pai chorou pela Elis
Meu avô soltou os pássaros do viveiro
Minha avó fez seus pães caseiros

Eu e meu irmão
Éramos índios
Astronautas
Náufragos de um bairro novo e desabitado
Lembra disso, Tuttão?
As iças numa caixa de bombons
A Chula numa caixa de sapatos
Nossas coxas rasgadas pelo mato colonião
Quando a dente de leite se afastava

Ali na luz que a janela permitia
Eu era algo
Eu era feliz e triste
Um universo inteiro contido num corpo de criança

Lembra, Tuttão?
A nossa dança na música das abelhas
A Arca de Noé
A nossa fé nas estrelas

Lembra do céu ensolarado de um domingo?
O lago e o escorregador
Nossos corpos
Torpedos de alegria
A ducha fria

Lembra do frio em Santos
O sono no banco de trás de uma brasília

As latas de cervejas dos adultos
Não era alumínio
E isso?
Será que é poesia
Ou bebedeira?
Tequila, baby?

Tequila a noite inteira