quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Cruz

Vá dormir agora
Escape sem medo daqui
O tempo é só um véu que iremos arrancar dos nossos olhos um dia
Juntos... solitariamente unidos

Vá agora
Estampe um sorriso no rosto
Eu preciso saber que mesmo errando tanto eu ainda te faço feliz
Triste... estranhamente bonito

Vá agora
Guarde para o meu nome um castigo
E me mostre a cruz que eu não pude evitar no teu pulso esquerdo
E eu vou chorar...
E eu vou sentir de novo tudo aquilo que você pensa que eu não sinto

Vá dormir agora
Me abençoe com um pensamento
E me perdoe
Eu sou a criança que ainda não entendo


terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Parabéns

Pegue a sua poesia de chazinho das cinco
Vista-a com a roupinha da estação
Acomode essa titiquinha na poltrona
Chame a tchurma
E fiquem assim...

Com carinha de merda por mais duas décadas... Puta que pariu!

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Pijama

A madrugada veste seu pijama
As luzes dormem nas sacadas
Na xícara o café e a hora atrasada
Na cidade o silêncio se deita na calçada
Na cidade o silêncio se deita na calçada

A madrugada veste seu pijama
As saudades repousam no peito
No papel uma verdade não contada
O amor bêbado já derrete pela cama
O amor bêbado já derrete pela cama

E eu testemunha de tudo isso
Abro meu sorriso pra aquele resto de lua
Meu sono já chegou da rua
Meu sono já chegou da rua

A madrugada veste seu pijama
A música boa já ronca numa boa
Naquele balcão só a poeira se amontoa
A solidão não escolhe pessoa

A solidão não escolhe pessoa

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Na porta da sua casa

Quando eu te busquei não sabia o que eu procurava
Queria o riso
Queria a espera
Queria o pedaço meu que me faltava

Quando eu te busquei minha alma estava confusa
Queria o berro
Queria o sono
Queria ouvir New Order outra vez na porta da sua casa

Me evita agora tão dona de si
Toda irritada
Zóinho de esmeralda
Zóinho de esmeralda

Me aperta agora tão dona de tudo
Toda dedicada
Zóinho de esmeralda
Zóinho de esmeralda
Vãobora pra casa

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Explicando

Não me peça a falsa euforia do salão
Se quando eu chorava verdadeiramente você nem me dava a mão

Não me obrigue ao fácil grito de campeão
Se na derrota você banhava em naftalina o seu brasão

Meu riso é meu
Não teu
É ordem do meu coração

Meu grito é meu
Não teu
É ordem do meu coração

Não me peça uma frase pouco viril
Se num poema doce e qualquer minha alma você nem viu

Não me peça o afago de uma fotografia
Se atrás das luzes um carinho seu nunca existia

É meu
Meu jeito é meu
É a força do meu coração

É meu
Meu jeito é meu
Eu não lhe devo nenhuma explicação

segunda-feira, 18 de julho de 2016

É CEDO AINDA

Hoje enfim tomei a decisão
Depois de tanto tranco, gole seco e bituca no escuro
Fui franco
Despedi meu coração
Hoje enfim peguei minha contramão
Quando desumana a noite caiu sobre o meu peito
Fui pra minha cama
Não saí com a solidão
E quando ouço as linhas bêbadas de um poema
Digo sem pena:
Quero mais não
Quero mais não
E quando ouço as notas loucas de uma canção
Digo sem pena:
Não canto mais não
Não canto mais não
Hoje por fim você me disse não
Veio a noite e te chamei pra sair por esse mundo
Fez cara de açoite
Não segurou na minha mão
Amanhã você recobra minha razão
Eu bato forte e você dá a sua cara pra bater
Pede-me um norte
Te faço chorar
Te faço rir
Sou só um louco coração
Sou só o teu coração
E quando a música calar num boteco da vida
Dirá sem medo:
É cedo ainda
É cedo ainda
E quando minha voz te apertar antes do dia
Rabiscará numa esquina:
É tanto que tenho que não cabe apertado aqui comigo

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Neném

Não, neném
Não perco meu tempo em saber de você
Se teus dias são de rir ou são de sofrer
Não anseio dizer-te bom dia nem vá te foder

Essa coisa é minha
E essa coisa eu não ponho a perder
É meu peito que passeia sorrindo outra vez
Esqueça de mim
Faça como eu
Cuide mais de você

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Minha Chave

Já deu, criança
Não se ocupe tanto assim
Não se preocupe em tirar toda a alegria de mim


Teu tempo passou e você nem viu
Tua voz não tem som pra mim
Teu rosto enrugou com a chuva que caiu
Pegue a tua estrada e ficamos assim


Eu te limpei das cobras
Lavei teus pés da lama
Eu já joguei tuas sobras
Vê se nunca mais me chama


Já deu, criança
Não se machuque tanto assim
Já troquei a chave do coração que bate em mim

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Teu Conto

Você aperta os olhos quando o relógio grita
Agarra sua coberta feito uma amante
Aceita a norma que a engrenagem dita
E no gole do seu café percebe-se um errante

Você fuma o seu no manto dócil da garoa
Vê um nome em tua boca virar vapor
Pensa que bebe sua cachaça numa boa
Mas só engole a pornografia do seu torto amor

Você entende que não entende o que é viver
Espera o farol deixar você passar
Diz doces sacanagens pra uma bela mulher
E desabita do teu corpo quando ela vem te beijar

E se os dedos esquecerem da vitrine apontando para o sol?
E se o medo for enfim bem menor que a coragem da dor?
Os sérios ainda contariam o seu dinheiro
E os bêbados cantariam por eles tanta falta de amor

E se o plano é de toda tristeza parir teu ser melhor
Na história da tua vida não seria Deus seu favorito autor?

terça-feira, 17 de maio de 2016

Anjo irritado

Você, meu anjo de olhos de esmeralda
Meu anjo irritado
A esperança nas minhas trincheiras
Minha guerreira
Meu gol do campeonato

Eu, tolo, te entrego meus tortos poemas sem rima

Pois não há rima digna da tua beleza

Eu, que nunca te levo a minha casa

Visto que a minha casa jaz dentro de você mesma

quarta-feira, 11 de maio de 2016

O niilista

Não, hoje não
Não me fale do que há pra comprar
Da potência ou de quanto irá brilhar
Não me olhe através das coisas
Você fica tão feia… tão igual

Não aplauda o discurso bobo de bar
O abuso de quem pode pagar
Não me diga que é preciso aguentar
Você fica tão feia… e eu vou

Me conta
Quem segura a tua onda quando a farra acaba?
Quem conta a tua história quando você se cala?
E o tempo nos olha da esquina

Não, hoje não
Não me venda as tuas bugigangas
Tua ferrugem pra olhar as pessoas
Não me pese através das coisas
Você fica tão feia… tão igual

Não repita meu nome em tua cama
Minha culpa quando você não ama
Não me implore a tua tosca fama
Você fica tão feia… e eu vou

Me conta, me conta
Quem ainda apronta no céu?
Tua carteira ou as estrelas?

Te pego lá fora

Você me espera além da soleira da porta
Além da segurança do meu bloco
Arma a sua jogada
Prepara a sua armadilha

Mas se descuida
E se lambuza com a lama da sua própria bota

Você me espreita onde termina a minha frase
Onde respiro na minha pausa
Espalha o seu veneno
Cozinha o seu julgamento

Mas se descuida
E se lambuza com a lama da sua própria bota

E faz tempo que te espero
Faz tempo que incentivo qualquer coragem sua
Faz tempo que anseio pelo seu desafio
Pelo seu convite para que me enfrentes

É tão chato esperar pra quebrar a cara da tua falácia

Mas você recua
E se lambuza com a lama da sua própria bota
E se borra
E se borra
Mas espero
Eu te espero pra qualquer hora

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Vamos Vamos

Vamos recuar o abraço
Vamos ficar só num aperto de mãos
E dominar o nosso peito
Adestrar qualquer sentimento que combata a calculadora


Vamos recolher o riso
Vamos odiar com uma boa educação
E afogar o perdão
Assassinar a ponderação que desafia o gráfico percentual


Vamos desmaiar num susto fingido
Numa lágrima registrada
Enquanto no infinito deserto lucrativo
Dormem os ossos dos nossos irmãos


Vamos comprar o discurso
Vamos ficar calados no meio do pranto
Pois haverá o espólio podre
Haverá o hálito de ferrugem das hienas da corporação


Vamos desmaiar num susto tingido
Numa repulsa ensaiada
Enquanto limpamos dos nossos dentes

Os sonhos mortos dos nossos irmãos

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Moleque

Ninguém dali dava nada pra ele
Ninguém sabia do mundo dentro dele
Pra toda a gente
Pra toda a paróquia
Só um moleque riscando parede

Ninguém olhava além do retrato
Ninguém ouvia além da sirene
Quando era guerra
Quando era feriado
Só o moleque brilhando pra gente

Mas veja que chove
E depois vem o sol
Veja que dorme
E depois corre o mundo
Essa coisa que o adulto já esqueceu
Aquilo que era tudo e também era eu

Moleque, moleque
Como a gente se perdeu?
Moleque, moleque
Agora o tolo sou eu
Agora o tolo sou eu

sexta-feira, 8 de abril de 2016

Irmão

Eu me guardo
E te guardo uma estória
A insônia da parede que te devora
A fenda risonha
Onde escapamos livres para a noite
Para o sol noturno
Para a pluralidade da rua soturna
Deserta mas jamais absurda

Eu me guardo
E te guardo numa história
A bebedeira inapta que nos espera na curva
O coração intacto
Pronto pra ser esmurrado por quem ele guarda
Pois tudo é antigo
Pois tudo hoje é novo e tem pressa
Aprender tudo é uma festa

Eu me guardo
E te guardo noutra história
Não dá mais pra moer aquelas noites agora
Até a saudade já foi embora
Eu me guardo
Eu te guardo
Pra toda hora

“Venha ver como dão mel as abelhas do céu”...

segunda-feira, 4 de abril de 2016

De lado

Está aqui e ali
Mas ninguém vê
O dedo em riste de tanto temer
Beber demais o café conveniente
E nem ligar se o que está por baixo
É chão
É lama
Ou é gente

Parti eu daqui
E a minha fé
Escolhi a escola que é se perder
Cavar um poço dentro de si
E separar dos meus pedaços
O que é meu
E o que é do mundo

E é logo ali
É tão ao lado
Como o ré do mi
Tão encostado
Mas desde sempre fomos educados
E ao esbarrar com a nossa alma

Sempre viramos de lado

domingo, 3 de abril de 2016

Estupidologia

Agora sim
É desta vez
Papai dizia:
O mundo é de vocês!

No meu tempo a gente sofria
No meu tempo não havia tempo
Pra dizer bom dia
Pra ficar atento à quadrilha hereditária

Mas espere um pouco?
Que porra é essa?
Quem entregou a chave do mundo aos abutres?

Agora vi
É outra vez
A tv saliva:
Eu canto com vocês!

No hemisfério a gente se espreme
No hemisfério a descarga liberal
Mas todos felizes
Todos empenhados em se lambuzar

Mas espero um pouco?
Que porra é essa?

É a cruz bugada que chega sem vibrar

terça-feira, 29 de março de 2016

De volta

Voltaria
Sim, voltaria
Encontraria de novo, pela primeira vez
Meus grandes amigos
Vizinhos
Cantos e botecos
Os barulhos da noite
O sol forte
O skate
O açoite que era segurar um riso
O piso frio da sala
A porta destrancada
A coragem

Voltaria
Sim, voltaria
Conheceria de novo, pela primeira vez
O primeiro acorde
O vinho
Livros e bêbados
A canção forte
O copo
O meu rosto arrombado com um riso
O caso do amigo
A porta destrancada
Pai e mãe dormindo sob o mesmo teto

Voltaria,
Sim, voltaria
Avistaria de novo, pela primeira vez
O quadro negro
O giz
Desenhos e silêncio
A zona na cabeça
O futebol
O meu coração espatifado
Que cuidadosamente eu fui colando...
Átomo por átomo