sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Pilequinho

Ah, solidão
Meu monstro favorito
Meu quadro negro preciso
O que foi que aconteceu?
Onde foi parar a bússola do meu tosco coração?

Ah, solidão
Meu doce predileto
Minha tara mais sacana
Quando foi que o sol morreu?
Quando foi que noite me abandonou pra dormir mais cedo?

Nesses que medem a cor da minha loucura
Nesses que me observam
Que lambem as letras venenosas das canções
Pra saber como é ser perdido de tudo
E não apenas estar nalgum canto quieto
Esperando por um belo sorriso
Que feito um dilúvio te leve para alguma cômoda vida
E ali
A dois
Se afogar no mar das pessoas de bem
Enquanto na esquina a morte espera que você tenha mais coragem
Pra que você esteja sorrindo quando ela tocar a sua campainha

Ah, solidão
Minha religião tranquila
Onde estão os meus amigos?

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

O Tempo virou

O tempo virou, hein?
O tempo nos olha
Maninho vem cá
Que do escuro eu te escondo
Nosso mundo é um conto que faz Deus sorrir
Nossos fantasmas não são de assombrar

O tempo voltou, hein?
O tempo de lá
Maninho vem cá
Que os piratas esperam no quintal
Eu fiz um pipa que o vento levou pelo céu
Eu vi que a vida nos leva feito um vendaval

Ontem éramos nós
Ontem era carnaval
Hoje é o despertador
A pressa
E a saudade de nós que eu guardei pra chorar depois

Maninho vem cá, Maninho vem cá

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Clausura

Deixei minha fotografia em teus olhos
E fui
Não por raiva ou por medo
Fui atrasado
Pois meu coração já estava solto na estrada


Deixei minha ausência em teus braços
E fui
Não por vendeta ou culpa
Fui atrasado
Pois meu coração já estava solto na estrada


Ali no meio de tudo
Do temporal feio
Da solidão esfomeada que tentava me mastigar


Será que lá na clausura das tuas idéias você um dia vai perceber?
Que eu nunca fui santo
Nunca quis ser santo
Também não fui o mal que você pregou às tuas paredes
Fui só eu… um cara…


Será que agora você entende?
Quando me maltratava
Quando me detestava

Tua alma estava de olhos fechados enquanto você me vigiava

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Finalmente

Quando eu parei de resistir
Quando eu parei de lutar comigo
Soltei meus cavalos doidos pelo mundo
Fiquei nu de tudo
Fiquei como sou
O que sou
Vi meu lado raivoso pegar um trêm pra nunca mais
Mas não sem antes olhar pra mim
E me sorrir levemente

Finalmente

sábado, 16 de agosto de 2014

Piscina Rasa

Quando tento dormir cedo e fico pelo caminho
Fico entre o mundo e o sono
Debruçado em mim
Na luz que dribla as frestas da velha janela vejo grades
E lembro de todas as que por mim passaram


Sorrisos e seios como cartão de boas vindas
Coxas onde eu me refugiava da monotonia dos escritórios
Ali, numa hora a minha casa
Noutras a cela onde o delito era a minha natureza solitária


Meu mal para todas era o canto de minha alma
Era o pedaço meu onde eu me abandonava
Pois era preciso me perder de tudo
É preciso me perder por algumas horas do dia
Pra que a alegria seja renovada


Não importam os olhos
Se eram verdes, castanhas ou raiva
Todas elas naufragaram
Procuravam a calmaria da piscina rasa

E eu sou o mar de ressaca

segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Quebra-cabeça

Sei que você não entende nada
Sei da zona que eu sou
Você sempre tão bagunçada
Com o trabalho que eu dou

O dia até que é bom pra mim
Até que é bacana fingir não ter dor
Mas quando me arde o peito assim
A noite sempre é meu amor

Eu tenho uma insônia que é de sonhar
Um teco de alma que não sabe dormir
Meu coração triste só sabe cantar
Meu coração triste só sabe sorrir

Eu sou distraído se a moça passar
Um lobo sem casa se a lua subir
Meu coração alegre só sabe chorar
Meu coração alegre só sabe cingir

Sou feito da sobra do amor que passou
Sou o amor numa esquina esperando um sinal
Eu sou a timidez que me maltratou
Hoje eu sou é só carnaval