domingo, 28 de fevereiro de 2010

SONHO NOVO


Hoje e só por hoje
Aposento você de mim
Do quarto íntimo da minha alma
Apago teu nome das cartas
Das horas sem sono
Desarmo tuas vigarices de orgulho
Entendo que te falta o alívio do perdão
Esse teu medo de entender que sou o dono do teu coração

Que parta agora o meu olhar
Longe e sem dona
Sem memória
Sem a história
Os papéis rasgados feito meu peito
Os segundos inchados feito meus olhos
Hoje
Amanhã eu reservo de você um sonho novo

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

CANÇÃO DE NINAR DO PEITO OCO



Como alguém que caminha pelo ar
Tendo o telhado como o asfalto
E o céu como o teto do quarto

Será que sabe o que vai acontecer?
Será que sabe o que temos que perder pra ganhar o próprio coração?

Deixo o pedaço melhor do meu só pra você
Na vitrola que você não pôde ouvir
No sol da tarde de mil novecentos e oitenta e oito

O que procura em meu bolso?
Procure nos meus olhos


Como quem desvia de um olhar
Fazendo uma piada à mesa dos amigos
E guardando a lágrima pra hora de dormir

Será que me viu desgrudar as calçadas?
Será que me viu rabiscar uma casa com o tijolo que sobrava no quintal?

Abro mão do meu coração e te dou
Pra que preencha esse oco no seu peito
Pra que ele bata por nós dois... por mais um tempo

domingo, 21 de fevereiro de 2010

BOTA O CHINELO (MARCHINHA)


Bota o chinelo Vininha
Que a gente vai passear
A lua diz que quase era minha
A tristeza que acabei de jogar

Bota o chinelo Vininha
Bota a voz pra cantar
Mesmo que a lágrima venha
A gente vai botar pra quebrar

Amor não é só ilusão
Meu peito não é só contra-mão

Bota o chinelo Vininha
Que a gente vai se esbaldar
Todo o céu dessa noite se assanha
Pois já foi o tempo de chorar

sábado, 20 de fevereiro de 2010

AQUELE SONO


Tenho no bolso as portas de casa
E no peito uma fotografia
No riso uma saudade difusa
Nas mãos aquela alegria

Tenho nos olhos um baita abraço
E na boca o banquete da tua vontade
No corpo o teu alvoroço
Na voz a nossa saudade

E como é que me escapa?
Como é que você me escapa?

Devolva-me aquele sono.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

APANHAR É PRECISO

Está aqui e ali
Tão perto com seu odor de vida
Tão certo com seu sabor de bem
Mas essa gente faz que nem sente
Faz que nem desaprende das tortas palavras no manual dos tristes
Numa artrite de sentimentos que primeiro gela a alma
E depois mostra os dentes

Seguem elegantes e sorrindo
Numa revoada capenga
Que mergulha em câmera lenta
Até esborrachar cada um em si mesmo

Eu aqui e ali
Só apanho
Apanho pela coragem que ofereço
Pela risada de que me atrevo
Pelo amor fora de contexto que eu busco e juro um dia alcançar
Apanho
O coração remendado
Trapo de farrapo de meus batimentos
Mas todo alma
Intacta e bela
E assim
Fora dessa panela de medo
Ei de herdar enfim o meu simples e merecido aconchego

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

AGUENTA


Aguenta que já vai amanhecer a quarta-feira
A gente se judiou a noite inteira
Eu tive até a tua mão
Eu tive até o teu olhar
Quando você partiu faltou também me levar

Aguenta
Aguenta que não demora mais
O beijo que a gente teimou em deixar pra depois

NEM FICO

Já é a dobra da madrugada
Agora o que sobra daquele sol
É o cheiro de fel que levo no meu coração

Segue o seu jogo vão
Sua sacola cheia de não
Tudo pra mim
Tudo que um dia eu ei de botar um fim

Já é a sola das palavras
A gente fala agora o que a boca nega
E o olho pega e confessa o que a alma quer

Segue o seu jogo de doer
Seu abraço na contra-mão
Tudo pra mim
Tudo que um dia eu ei de botar um fim

Nem fico
Vou embora por aí se esse é o único jeito que tenho
Pra dizer que não esqueci

Já é a quina da vontade
Agora a saudade saiu pra cantar
Que o sol é o altar onde deixo flores pra você

Segue o que a gente vê
O que a gente prevê
Tudo pra mim
Tudo que um dia eu ei de botar um fim

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

UM SANTO QUALQUER


Não perca o seu tempo em me esquecer
Siga quase bem
Diga bem alto que tudo é tão melhor
Que o sol dos teus dias ficou maior
E quando a noite chegar procure lá
E peça segredo aos teus olhos

Não gaste o seu tempo pra me esquecer
Seja quase alegre
Conte que a minha febre te deixou
Que minha imagem fluorescente te abandonou
E quando a noite chegar procure lá
E peça segredo aos teus olhos

Mas peça a um santo qualquer
Pra não me ver por aí
Pois nessa hora
Teus olhos hão de te trair

Teu peito há de sucumbir
E tremer
E querer
Tudo aquilo
Isso que você inventou ter fim

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

É POR ISSO


O amor é maior que você
Maior que a tua casa
Que a tua rua
Que o teu bairro

É maior que a lua
Que o sistema solar

E teima só em morar no coração
Que cabe dentro de você

É por isso que dói
E é também por isso que algumas vezes somos pessoas melhores

Algumas vezes

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

SURPRESA


Vi você
Estúpido e com medo
Estático e sem jeito
Contido num frasco de analgésico
Incabível dentro do seu peito
Sem a possibilidade de um dia morrer
Pois não estava vivendo

Vi você
Chorando tuas besteiras
Mimado de esmolas
Ilhado de olhos cheios de pólvora
Correto para o abate
Um sorriso de trocados

Mas pra minha surpresa
Em você o escuro que já quase parece posto
É digerido por uma nova manhã
Uma nova
Com ranhuras de respeito
Mas nova e bela
Que da janela do sol a vida atira-se para o teu colo
Teu novo peito confortado e confortável
E você deixa de ser algo
Esquece de ser alguém
E passa a ser alma