segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

QUINQUILHARIAS

Se eu fosse mais moço que a lua
Eu saberia do mundo
Eu saberia alimentar todo o mar
Com isso do meu rosto

Se eu fosse tão louco quanto o céu
Eu viveria no teu armário
Eu esconderia os encantos do dia
Embaixo do meu chapéu azul

Vou girar enquanto esqueço
Até cair de bêbado
Até que eu obedeça meu coração

Até lá a gente se vê
Para um sim ou para um não

Se eu fosse mais moço que a lua
Eu guardaria as ruas
Eu guardaria essa doce estima
No bolso do meu paletó

Vou girar enquanto esqueço
Até voar de bêbado
Das quinquilharias do meu coração

Até lá a gente se vê
Pra um sim
O que mais então?

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

E DEPOIS


Vem sem medo de doer
Está tão longe de nós qualquer falsa razão
A noite chegou
Vamos nos engolir dentro da escuridão

Vem sem medo de acabar
Está tão bom agora que estamos à vontade
A lua brotou
Eu só quero te dar o meu coração

E depois...

Vem sem medo de rir
Já ventou sobre o nosso colchão
A porta fechou
Vamos caber num só lado da cama

Vem sem medo de amanhã
Está tão lúcido o sonho que nos estende a mão
O olho fechou
Eu só quero te dar o meu coração

E depois...
E depois...

JAMAIS ESQUECER

Um dia lá onde eu sempre vou
O gosto então vai clarear
O riso então vai levantar da cama e passear em mim

Um dia lá onde eu sempre vou
O choro vai sossegar
Vai sentar-se ao céu pra sonhar o que vem de bom amanhã

E descida nesta cidade
Você vai se perguntar por que dobram o dorso das flores quando o vento passa
Você vai arriar tua alma das pernas pra assim me buscar

Aqui onde eu sempre vou
Eu vou te esperar

Um dia lá onde eu sempre vou
A mão então vai equalizar
A juventude e a idade sentarão juntas no mesmo lugar

Um dia lá onde eu sempre vou
A chuva vai sossegar
Deixa brotar o que eu guardei no teu coração
Deixa brotar o que eu guardei no teu coração

E descida nesta cidade
Você vai saber do que eu vivia louco pra confessar naqueles dias de confusão
Você vai arriar tua alma das pernas pra assim me lembrar

E eu jamais vou esquecer

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

QUANDO EU POSSO COMEÇAR


Mais um sorriso ao fim do dia
Mais uma luz pra se apagar
Mais um filme bem baixinho
Mais uma pílula pra dormir

E amanhã também
Amanhã também

Mais uma noite de quinta
Mais um trago de pinga
Mais uma bossa pra cantar
Mais uma saudade pra chorar

Mais uma festa pra fingir
Mais uma menina pra beijar
Mais uma vez voltar pra casa
Mais uma pílula antes de deitar

E amanhã também
Amanhã também

Mais um feriado e estamos aí
Mais um trago noutro bar
Mais um porre no carnaval
Mais uma quarta-feira pra dormir

Mais um dia numa sala qualquer
Mais um tapinha nas minhas costas
Mais um café às nove da manhã
Mais uma vontade de cair no colo dela

E amanhã também
Amanhã também

Se um riso pode resolver
Me conta quando é que eu posso começar

TÉDIO


O que te emenda
O que te tira o sono
O que te liberta da mesquinhez do anúncio?

O que te acalma
O que te ganha
O que te falta quando o dia acaba na tua cama?

O mundo todo dopado da luz da TV
Vagalumes parados esperando a licença pra morrer

O polegar para um amigo
O anular para aquele anel
O indicador primeiro
E o médio pra dizer adeus de tudo isso

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

QUALQUER DIA


Qualquer dia um pedaço de riso
Um sopro de alívio logo após a placa de aviso

Qualquer dia um espasmo num livro
Um comprimido pra sorrir na canção que eu lavro

Qualquer dia um centavo esquecido
Um abraço guardado no armário e o seu juízo ácido

Qualquer dia eu lhe digo o que o seu peito já sabe
Qualquer hora eu minto menos do que eu preciso neste lugar

Qualquer dia um sonho lotado
Um vapor que vai subindo de um copo cansado

Qualquer dia um olá sem convite
Uma parede tatuada com meu nome em grafite

Qualquer dia um sereno abandono
Um cobertor onde a manhã esquece de seu dono

Qualquer dia eu lhe digo o que o seu peito já sabe
Qualquer hora eu minto menos do que eu preciso neste lugar

Qualquer dia eu nos teus olhos
Um pouco da chuva passada pendurada nuns galhos

Qualquer dia a gente podia
O pulmão do vento bombeando o que já não doía

Qualquer dia quem diria
No final de dezembro alguém nos sorria

Qualquer dia eu penso se pra isso tem jeito
Qualquer dia eu penso se pra gente tem jeito

EU QUERO SABER


Passeava ali
Sem nada pra querer
No céu eu via um fim
O mundo era pra mim
Mas o que foi você fazer?

Passeava ali
Sem nada pra perder
De dia eu cantava
De noite eu gargalhava
Mas o que foi você fazer?

Passeava ali
Dormia feito um nenê
O sol pra mim sorria
A lua não me conhecia
Mas o que foi você fazer?

O céu nem tem mais fim
O mundo roubaste de mim
O dia me esqueceu
A noite me bebeu
O sol nem mais me vê
A lua só fala de você

Por que é que você foi isso fazer?
Conta que eu quero saber

FESTA NO CEMITÉRIO

E assim
Meu corpo em pé
Rígido no meio desta ruidosa sala
Essa gente morta que pensa estar vivendo
O coração se jogando no abismo
Todo dia
Na hora certa
Com cinco minutos de perdão para qualquer atraso

E assim
Meu olhar aqui
Disperso nos olhos deles
Esperando que um dia acordem da pane
O pesadelo cheiroso e sereno
No talão
No shopping
Enquanto pagam a alma com seus cartões de crédito

domingo, 13 de dezembro de 2009

TUDO

A brisa que te beija
O olhar das estrelas
Nem perto pra gente pegar
Nem longe pra gente esquecer

O café de um agora
O tecido sem calor do sofá da sala
Uma bala
Uma fala que a gente ainda pode usar

O mar quieto
O caramujo que lambe a rocha
Nada que eu diga agora
E tudo
E longe
E muito
E tudo que os que dormem talvez levem embora

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

NESTA MANHÃ


Fechou o tempo
As gotas flutuam com o vento
Molham os cabelos
Os ombros
Os segredos que a praça escutou
O tempo fechou

As crianças não mais em fila na escola
As mentiras brilham em pixels
A solidão ludibria em tela plana

E onde foi rolar aquele anel de ouro?
O tempo fechou
O peito espreita seu dono antes de dar-lhe o devido socorro

Fechou o tempo
As gotas passeiam feito borboletas
Enferrujam os portões
Os faróis
Os pensamentos que o balcão guardou
O tempo fechou

A saudade viaja o centro numa sacola
As mentiras afiam seus pentes
A solidão habita um teco de silício

E onde foi parar aquele anel de ouro?
Foi o anel
Ou nossos dedos que se perderam?

UM FINO


Ah que nem sabe de mim
Essa sim que me quer mas esconde
Guarda bem quieta esse onde
Onde? Onde?
Quando?

Sobre a sua cabeça eu me deixo voando
Num fino
Num canto só meu onde eu atino com Deus

Ah que nem sabe mim
Há que me levar assim
Sempre bem posto doido e esquecido dentro do seu peito

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

ELA SORRIA

Afogo os olhos num fundo preto de café
Do tempo agora eu perco a chave
A vida é sempre a mesma tarde de oitenta e nove
A vida é sempre a festa nos teus olhos tristes

Atolo o peito num cheiro verde de cloro
Do chão agora eu perco o passo
A vida é só a mesma risada perto das onze horas
A vida é só toda a saudade que não cabe nas cartas

Isso aí vai passar
Feito as costas do sol
Feito os seios da lua
Feito essa luz calma e muda
Que sopra o machucado sem a gente perceber
Vai passar

Avanço a mão sobre um pensamento
A maciez nula de quem partiu
A vida é sempre a mesma chave perto da porta
A vida é sempre a nitidez no teu barulho

Adianto a alma pra depois das onze horas
O coração queimando gasolina
A vida é sempre tanta hora antes do fim
A vida é sempre o que está entre o não e o sim

E se mesmo assim faltava algo dentro de mim
Naquela hora Ela sorria

domingo, 22 de novembro de 2009

SINCERIDADE

Não tenho nada de especial. Nenhum dom que me faça brilhar no meio da escuridão.
Só tenho insônia. Não durmo... não me sinto confortável pra dormir no tempo de todo o mundo.
Não tenho fórmulas matemáticas para a juventude. Não tenho os segredos deste planeta... nem sei como viajar através do universo.
Sou um nômade dentro de mim mesmo. Vago de ponto a ponto da minha alma... sem a certeza de que ela me pertence... sem entender ao certo o que é a alma.
Não sei ao certo quem eu sou. Não consigo prever o futuro das pessoas.
Não sei os números da mega-sena.
Não sei cozinhar para demais pessoas.
Não sei do amor. Desse não sei mesmo.
Só sei disso...
Quando as linhas se arrumam e me arrumam.
Quando a hora esquece de mim.
Quando a vida é preto no branco... eu me alavanco e parto daqui... parto de mim... da minha estupidez... da minha mediocridade.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

IMPRESSÃO TUA

Diz que com tua boca deixa a minha alma nua
Sabe pouco de mim se nem passeia comigo na lua
Impressão tua
Tanto caso pra isso
Teu pacote onde eu fico vai além
Eu só preciso é de alguém que me queira bem
Certo, meu bem?

Faz com tua fórmula a matemática de uma vida
Sabe pouco da minha se tem a tua tão apressada
Impressão tua
Tanta voz pra isso
Teu carimbo em meu peito doído
Eu só preciso é de um tempo aqui com meu mundo caído
E está tudo certo de novo

terça-feira, 17 de novembro de 2009

ÀS COMPRAS


Atenda aos anseios à mesa
O que a velha escola te oferece como viver
Tem sido assim tua certeza
Segue adestrado com o que a tv vem dizer

Compre a mágoa da estação
Fique rindo sem entender
Passe a vida no teu cartão
É assim que gente fina tem que fazer

A alegria é invenção
Na fotografia o riso é um borrão

Satisfaça o seu egoísmo
Tudo que te faz não olhar pra si mesmo
O tempo é o juízo
Que te pega um dia quando tudo está calmo

Compre o amor num mercado
Pague a igreja e a festa
Invente o nome do pecado
De quem não faz parte da lista

O mundo é grande então
Mas é menor que a paz de um coração

E quanto ao o teu coração?
Me diz

Qual o preço à vista?
Quanto custa um sim e um não?
Qual o preço da vida fajuta?
Qual é o tamanho do teu coração?

DE ALGUM LUGAR

Deita teu corpo em teu deserto particular
O encaixe dos tacos de madeira
O teto brando vigiando tuas coisas
A garrafa vazia de um dia qualquer
A sequência de números num papel

A cidade estica as costas pra se espreguiçar
A gente em choque de ver você gargalhar

Há algo que só você sabe
Há algo que só você percebe

Deita teu corpo em teu deserto azul
A calça esquecida fora do lugar
A janela vestida da luz que passa
A pílula solitária no frasco de dormir
A ave pendurada no fio de alta tensão

A cidade é só um teco do que sai de você
A vida é a dança que você quer reinventar

Há isso que te cabe
Há isso que te cabe

Toque fogo com teus olhos até a onde tua vista alcança
Toque fogo com teu peito até onde a tua alma voa

E quando for a hora de sossegar
Quando o endereço for o último daqui
O último dessa vez de passear
Vou rir de tudo isso de algum lugar

domingo, 15 de novembro de 2009

LOUCA


Passei os olhos por aí pra ver esse caso acabar
Passei os olhos por aí pra recobrar o meu ar

Um começo de tarde
Um farol, um até
Um coração que arde
Na contra-mão da pouca fé

Um quintal na saudade
Um beijo na face
Um palavrão com vontade
Pra quando a dor me esquece

Tem sido tão calmo aqui na falta que você faz
Tem sido tão calmo aqui no prenúncio dessa paz

Um doce na boca
Uma asa nos pés
A vontade até rouca
De gritar sua vez

Um descaso pra isso
Um espasmo no riso
Um lugar que eu peço
Quando me encontro no gozo

E tudo
E tudo isso

Passei os olhos por aí pra me esvaziar de você
Passei os olhos por aí pra me renovar de você

Uma ressaca, um trovão!
A endorfina, o quadril
Uma ressaca, um não!
De mim o que você ainda não viu

Gosto solto na boca
Gosto solto na alma
Será o amor uma louca
Que te ferra e te salva?

Será você essa louca?
Será você essa louca?

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

IGUAL DIFERENTE

Gente subindo e descendo a rua
Gente com riso pra tudo
Gente com horror do mundo
Gente com o peito oco
Gente com a cabeça na lua

Gente calada dentro do elevador
Gente escrevendo uma carta
Gente tomando café
Gente gelada fazendo conta
Gente chorando por amor

Gente discutindo alto o futebol
Gente falando no telefone
Gente dormindo no sofá
Gente jogando na mega-sena
Gente lendo mentira no jornal

E a gente onde fica no meio disso tudo?
Onde a gente belisca o nosso próprio absurdo?

Gente descendo e subindo a rua
Gente sem riso pra nada
Gente conformada com o mundo
Gente com coração profundo
Gente que manda foguete pra lua

Gente que conta piada no elevador
Gente escrevendo um email
Gente tomando cachaça
Gente no bar perdendo a conta
Gente feliz por amor

Gente sussurrando se foi gol
Gente cara à cara pra dizer
Gente trepando no sofá
Gente pegando o metrô
Gente limpando a bunda com jornal

Gente tão igual
Tão diferente

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

BEM VESTIDA

Oi
Eu só passei aqui pra sumir
Nem tenha um presente pra mim
Nem tenha pressa em usar esse adeus guardado em teu bolso
Você até pode usar qualquer palavra do teu cardápio
Quando o silêncio te visitar mais rápido
A poltrona da sala terá um calafrio só de lembrar da zona que eu fiz

Oi
Eu só passei aqui pra sumir
Nem tenha perguntas pra mim
Nem tenha uma frase pronta pra consertar o racho em meu coração
Você sabe pouco das esquinas do teu ouvido
Quando o silêncio te revistar sem pudor
O desenho dos teus olhos vai ficar de mal humor

Mas por aí a gente se vê

É mesmo estranho assim
Na boca o não
Na alma um estrondoso sim
Você até fica despida das tuas roupas
Mas nunca fica pelada de mim

Oi
Eu só passei pra sumir
Tenha essa lágrima esperando por mim
Tenha esses tapas esperando pra descansar no meu peito
Você até pode vestir o teu vestido de esquecer
Mas é que aqui sou eu, meu Bem
Aqui sou eu, meu Bem

É PRA DEPOIS

Ficou pra lá
O que há pra dizer?
O que há pra guardar?
O que há pra sonhar de nós dois?
O abraço é pra depois
A saudade é pra agora

Ficou pra lá
O que é um segundo?
O que é o mundo?
O que é uma vida pra consertar um engano?
Segura que a ladeira é funda

Mas tem algo aí
A gente espera aquela a porta se abrir
E o outro surgir trazendo sol
Lua e carnaval
Isso é pra depois
Isso é pra depois

Ficou pra lá
Que palavra vamos usar?
Que mistura vamos fazer?
Que lugar vamos guardar pra quando a gente envelhecer?
Solta que a alma vai embora nós achar por aí

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

NAQUELE DIA AQUELA NOITE


Naquele dia quando passou
Rasgou a couraça de aço que trancava a voz
Sem usar de força
De músculo qualquer
Oras menina com seus segredos
Noutras poucas mulher com seus anseios
A endorfina louca flutuando nas veias
E o corpo divorciado de seu peso

Beliscaram-se os sérios
Quando viram que do fundo da noite andarilha
Brotavam vagabundas idéias
Tão lindas que a lua ascendia com seu riso de ponta-cabeça

Derramava seu brilho sobre a gente
Aquela noite os tristes de tão adultos se esconderam em suas igrejas
Enquanto as crianças riam
Esticando os braços
E a lua pescava uma a uma
E em pouco tempo deram cria as estrelas do céu

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

FABRIZIA


Foi assim sem querer
Que aquele tempo passou
Que a nossa voz ecoou naquele quarteirão
O bairro todo uma nação
De meninos e meninas esparramados pelo chão

Foi assim sem apitar
Que aquele recreio acabou
Que tivemos receio de rabiscar um desenho
No espelho um estranho
Que mantinha no rosto o mesmo olhar castanho

Sabia que eu gostei de você?
Um amor sem carne
Só a alma feito uma escada
A vontade de brincar juntos a vida toda

Foi assim sem palavra
Que a tarde ficou veloz
Que a noite ganhou luz sem ter estrelas
Na tv cresceram as telas
E a imaginação deu lugar às certezas tolas

Foi assim sem perceber
Que depois a gente cresceu
Que a gente se esqueceu pela vida afora
O mundo inchou lá fora
E o bairro se esconde num fundo do peito agora

Mas eu lembrei que gostei de você
Um amor sem dor
Sem corpos a se pegar
E a gente pescando pipas pelo ar

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

COMO?


Como se sente a vida?
A saudade
A despedida
O amor
A dor
Tristeza e Alegria
Dúvida e certeza
Medo
Coragem
Peso
Leveza
Como se sente que se vive de verdade?
Que quando a morte pedir a mão
Sem pestanejar vai-se numa paz
Pois nada ficou para trás
Como?

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ACABOU

Acabou na boca
Acabou na geladeira
Na água que despenca do chuveiro
No ângulo da ladeira
Na fantasia exasperada de fevereiro
Acabou o ano inteiro


Acabou no quarto
Acabou na gaveta
No cheiro secreto da roupa dobrada
No asfalto da Anchieta
Na cama que agora acorda arrumada
Acabou sem dizer nada

No copo que madruga sobre a pia
Nos viadutos da cidade
Na ignorância de quem nem sabia
No trânsito desta tarde

Acabou nas mãos
Acabou nos anéis
No café amargo da manhã com pressa
No bilhete no bolso da sessão das dez
No circular que demora mas ainda passa
Acabou sem fazer graça

No escuro do armário
No vazio confessionário
No entulho das gavetas
No barulho das cornetas
Num andante pinéu
Num olhar estanque no céu
E tudo mais que existe por aí
O que eu ainda nem vi
E se no mundo afora já foi o fim
Por que não acaba também dentro de mim?

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

BANDIDO

Vem até aqui
Vem e se entrega
Deixa eu bater a carteira do teu coração
O dia é uma televisão
A noite é um cinema
A tua dor esfarela na palma da minha mão

Vem até aqui
Vem e se ajeita
Deixa eu roubar o foco do teu olhar
A noite é o corpo a suar
O dia é só saudade
O teu riso fica comigo pra quando eu voltar

Sem que você saiba
Sem que você veja
Eu pego pra mim o que sobra de você

Vem até aqui
Vem e se aceita
Deita tua alma na imensidão do meu colo
De dia o teu corpo é o que falo
De noite o teu corpo é o que faço
A tua paz é o regaço que resta da gente depois

Sem que você peça
Sem que você negue
Eu pego pra mim o que sobra de você

Tua dureza pelo ar
O meu choro tão fechado
Diz pra mim o que é o rochedo sem o mar?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

PASSEIO



Despe-se a cidade da pouca luz
O sol detrás de um céu nublado
Acanhado diz adeus

Deita à sombra das coisas
As avenidas
As buzinas
As passadas desordenadas nas escadas do metrô

Que vento pode correr as vias até você?
Que grão de garoa pode sussurrar meu nome em teu ouvido?

Escondo dentro de mim tuas estrelas
A paz é uma solitária beleza
Cercada de feiúra

Desliza à cor das almas
Os viadutos
As cervejas
A arrogância elétrica das torres sonolentas

Que saudade pode furar tuas paredes?
Que vontade pode embriagar teus cães de guarda?

Então eu passeio
Eu passeio
Vê se nalguma esquina você me espera

Reclamo o sabor de uma alegria
Um metro quadrado de vida
Como um abrigo

Dança ao perdão da chuva
Os semáforos
As vitrines
Os copos desalinhados no balcão do boteco

Quem sabe a gente se acha de vez naquele dia?

Então eu passeio
Eu passeio
Vê se nalguma esquina você me pega

COR DE SAUDADE

Não quero nada teu
Tua postura
Tua certeza
Mimada, errada e miúda
Tua voz
Teus dedos que apontam
Teu orgulho e medo
Medo
Medo
E medo...

Não quero nada teu
Tua perfeição
Tua sala
Arrumada, quieta e morta
Tua cama
A chama do teu isqueiro
Tua vida programada
Medo
Medo
E medo...

Nem quero teu perdão
Nem quero tua lágrima
Você chora sorrindo
E segue
Indo
Indo
E indo bem raso dentro do teu peito

Não quero teu consolo
Quero morrer no meu mundo aqui dentro
E hei de nascer aqui dentro de novo
E hei que querer tudo de novo
E hei de buscar no mundo de novo
Você

Pois do filho que a gente ainda não teve
Eu sei que os olhos têm cor de saudade

TODO ERRADO


Sou todo errado meu Bem
Na manhã que explode no relógio da matriz
Na caminhada aflita da gente que se tromba
Na quietude de quem cala uma dor
Na calma doentia de quem aceita a alma enrolada em arame farpado

Sou todo errado meu Bem
No medo de ouvir o que a lua diz
Na postura adestrada de quem não zomba
No peito cego diante de uma flor
Na cama arrumada onde a cabeça repousa sem ter ao menos sonhado

Sou todo errado meu Bem
No manual que essa gente usa pra ser feliz
Na educação em ter no peito uma tumba
No coração que nunca chora um amor
No refrão que a multidão decora pra deixar a vida de lado

Sou todo assim
Esse rascunho da vida certinha
Essa história fora do contexto sem começo nem fim
Mas advinha meu Bem
Sou todo errado pra te amar como ninguém!

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

E UM DIA

Descole tua tosca diversão
Um passeio pela tua conversa fiada
Um drinque da tua alma miúda
Eu deixo que abuse um pouco do meu tempo
Tente o tom do meu canto
Só um pouco antes que eu te negue atenção

Descole tua morna ilusão
Tenha o cuidado de não ficar ao meu lado
Tenha o cuidado de guardar distância de mim
Você não agüenta o tranco de ser livre assim

Descole tua tosca diversão
A cara enfiada nas letras de um jornal
A frase da tua mentira matinal
Eu seguro em tua mão pra você atravessar a lua
Mas a volta é só tua
E você teima sempre se esborrachar no chão

Descole tua morna ilusão
Decore a tua vida com teus móveis
Teu armário
Teu controle remoto
Teus brincos dóceis
O estofado de couro
Teu carro veloz
O relógio de ouro
Tua anestesia em alta definição
Teu cartão sempre à mão
E um dia nada que tenha feito rir o teu coração

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

TUA ROUPA


Teima
Teima até quando eu deixar
Até que o mundo acabe
Até que a vida tombe
Na mentira espessa e breve que você tentou contar

Teima até quando eu quiser
Até que as flores morram
E outras novas subam
Sem que suas cores balancem quando o carnaval vier

Eu queimo em você
Desse fogo você não se poupa
Quando o labirinto castanho dos meus olhos vem tirar tua roupa

Teima
Teima até quando eu mandar
Até que tua paz desmonte
Até que a lua desbote
De tanta vigia tua tentando no céu me encontrar

Eu moro em você
Isso você não arranca à tapa
Então espera comportada que prometo tirar a tua roupa

ATÉ LÁ, ATÉ NÓS

Vê lá que agora a luz colocou o pijama
No escuro da tua casa o meu fantasma
Chove o que era o meu corpo no teu lençol
Ferve a minha voz dentro de você feito anzol
Fisga o sereno da rua
E derrama bobagens da minha boca na nuca tua

Você me rabisca com cor de mágoa
Guarda pedras nos bolsos da tua calça
Quando será que vou passar pela sua rua?

Você afoga meu gosto num café
Queima meus beijos dentro de você
Quando será que vou adoçar a tua amargura?

Quantos quilômetros dentro do peito a gente guarda?
Quantos anos passam numa única madrugada?

Vamos ver isso depois
Até lá, Até mais
Até lá, Até nós

terça-feira, 15 de setembro de 2009

O CARNAVAL JÁ VAI CHEGAR



Olá Oteb
Fiz agora um quintal pra você brincar
No pescoço a companhia de um santinho
Na alma a cicatriz daquele mudo carinho
Mas agüenta
O carnaval já vai chegar

Olá Oteb
Fiz agora um céu pra você se balançar
Lá se vai o barco na enxurrada da rua
Lá se vai o retrato se pendurar na lua
Mas agüenta
O carnaval já vai chegar

O carnaval já vai chegar

Olá Oteb
Fiz agora um café pra você acordar
No bairro não há mais bancos de jardim
No sono não há mais lugar pra mim
Mas agüenta
O carnaval já vai chegar

Há algo teu em algum lugar
Uma paz repentina
A luz que vence a cortina
Há algo teu em algum lugar
Serpentina! Serpentina!

Olá Oteb
Fiz agora um drinque pra você mergulhar
A tristeza agora é uma educação
A tristeza agora é só educação
Mas agüenta
O carnaval já vai chegar

O carnaval já vai chegar

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

A MADRUGADA QUE EU DOU DE PRESENTE

Vago na bruma do apartamento
A hora escorreu pelas calhas
Embebedou-se e não deu as caras
Os tacos em retângulos brotam pelo chão
Um enxame de estrelas vem dormir na minha mão
Vão-se os fantasmas dançar no firmamento

Largo no céu hoje o riso do meu coração
Sobem até aqui os contos do paralelepípedo
Escapa das árvores um cochicho ávido
No jardim do museu a quadrilha das flores se contorce
A água esverdeada engole as gostas que a chuva tosse
Fosse a calma uma almofada despida de ilusão

Segue ela
A sua espera é uma carta com letras de fogo
Que confessa
Nem mirrada nem espessa
A manhã tóxica que não engasgo
Feito que um fantasma agora eu também sou

Eu também vou
Pela janela meus olhos feito borboletas
Caçam a moça visitando portas
Frestas
Ruas secretas
Ela em seu sono nem pressente
A madrugada que eu dou de presente

Faço a festa no dorso do apartamento
O vapor do café escapa
Sobe as escadas do ar da sala
Na fotografia as cores já roncam o seu sono
Quinze andares abaixo um carro espera seu dono
Pleno de si o silêncio trinca-se no soluço de uma moto

Segue ela
O meu rosto é o que teima seu olhar caprichoso
Que suporta
Que è a derrota
Da manhã tóxica que não uso
Feito que um fantasma agora eu também sou

Eu também vou
Pela janela meus olhos
Meus braços e ombros
Minha alma que deságua
E ela em seu sono nem pressente
A madrugada que eu dou de presente

PEGO DEPOIS

Fique com as fotos
Com as toalhas
Com o gosto de nunca mais
As migalhas
As muralhas
O meu nome na sola dos teus pés

Fique com os pratos
Com as paredes
Com as cortinas na tua cor
As nossas tardes
Nossos alardes
Apague do corpo o meu suor

Que seja tão bonito assim
Que a tua vida tenha mil sóis
Mas esse em teu peito que espera por mim
Eu passo pra pegar depois
Eu passo pra pegar depois

Fique com a prata
Com teu trago
Com teu humor todo confuso
O estrago
O amargo
Minha boca embebedando teu juízo

Fique com o carro
Com o cobertor
Com o rosto maquiado de alegria
O tremor
Engasgue o amor
Com as mãos dadas ao vento todo o dia

Que seja tão calmo o céu teu
Que o mundo acredite no que você diz
Mas esse em teu peito que é todo meu
Eu passo pra pegar depois
Eu passo pra pegar depois

Fique com a cama
Com as gavetas
Com o tempo parado na garganta
Tranque a alma
Viva o coma
O olhar cativo de mim quando a lua é alta

Sinta a falta
Sinta a falta e espere
Tranque tuas portas com rebeldia
Não desespere
Eu destranco você um dia

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

ENTÃO DESÇA


Desça mais um pouco pra se sujar
O cargo almejado
Um aumento de salário
E mais um pedaço de você fuzilado

Mas desça

Desça mais um pouco pra se acabar
No fosso da alma
No sonho bobo dos coitados
E lá se vai mais um pedaço de você

Mas desça
Insista
Tenha força de vontade
A vontade do edifício
Que no fim do dia você terá o carinho do seu novo automóvel

Desça
Insista
Logo a moda perdoa o que você ouviu de mim
E coloca um neon no seu riso chinfrim

Desça

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

LADO A LADO


Correr para o trabalho
Chegar em casa

Vida prática
Sonhar outro mundo

Aceitar a tempestade
Capa de chuva

Sol e azul
Lua e estrelas

Cama quentinha
Garoa, garoa!

Suco de uva
Café sem açúcar

Vestido azul
Calça surrada

Amor! Amor!

Lista do supermercado
Poema no guardanapo

Lado direito da cama
Qualquer lado

Cor do esmalte
Brilho dos olhos

Roupa suja
Apenas roupa

Festa de casamento
Envelhecer juntos

Lixo reciclável
Violão

Amor! Amor!

Sumir pra lá
Sumir pra cá

Saudade! Saudade!

Quando?

CINZAS

Vá lá
Desgruda o cimento do teu hálito
Eu quero ver você ali
Onde é terno qualquer cômico gosto de inverno

Desusa a gravidade que carrega o coração para o fundo
Um fundo
Sufoco abissal
Língua de veneno que diz coisas sobre você

Mas o que importa a placa de pare dos peitos ocos?

Vá lá
Enfeita de sol o caminho menos usado
Eu quero levá-lo por aí
Onde é anêmico o brilho da mandíbula de aço

Como é sobrevoar o mundo?

Destampar o fundo da gente com sua boca?

Como é que acomoda o adeus dentro de você?

Eles querem saber
Mas é tão difícil o que fazes tão fácil

Vá lá
Guarde a febre
Das cinzas daqueles abraços que hoje pairam ao teu redor

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

ÁBACO

O CEP pra carta chegar
O total a se pagar
A data que dói
A validade do já foi

O código de assinante
O placar do jogo de ontem
A placa do automóvel
O que falta do aluguel

O CPF que não escolhi
O tempo que eu esqueci
O segredo do cadeado
O desconto do supermercado

O ID do usuário
Os códigos do mostruário
A senha do email
O telefone que me veio
E que eu doidamente deixei partir

Quantas calorias pra sorrir?
Quantas risadas pra mentir?
Quantos milheiros pro muro que me divide entre a paz e o que sou aqui?

Quantos dígitos na conta corrente?
Quão branco o teatro dos dentes?
Quantas bocas pra que eu me machuque mais e mais
Até me casar com a tristeza daqui?

Eu errante em algum lugar de mim
Eu errante em algum lugar de mim

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

JÁ FUI

A lua hoje se mandou daqui
Nem esperou por mim
A rua despida é quem me sorri
Enquanto se cobre com a garoa fina

E eu? Onde eu?

Quem sabe um ticket consolação
Quem sabe um dia desses
A pílula de prender as asas no chão
Imaginação chinfrim

Será que eu tomo?
Será que eu esqueço de mim?

A lua hoje desprendeu do alto
Jurei colar com cuidado
Na janela o céu é o mesmo retrato
Que eu sufoco nos copos de café

Um breu...
Sem tristeza pra nós no cardápio de hoje

Tosse um sorriso
Gira em seu eixo
Nessa eu não caio não
Compra um sonho com o cartão de crédito
Eu tchau!

A lua hoje se mandou daqui
Fui eu quem a levou pra lá
Abre a gaveta
O porta-maluquices

Já fui... Já fui

Um breu...
Sem tristeza pra nós no cardápio de hoje
Sem um abraço também
Agora o sono se pendura no feixe de luz do televisor
E vou

sexta-feira, 31 de julho de 2009

UMA VISITA

Olhei
Janela órfã
Luz azul
Acho que é televisão
Um espectro a sapatear aqui dentro de casa
No rótulo da cachaça uma boa pequenina
Uma esquina perdida no teto
Eu lá em cima olhava a visita
E o espectro se esticava no colchonete da sala
_Ei! Esse é o meu lugar!

HOJE EU VOU DORMIR

Hoje eu vou dormir com o sol sem tua mão irascível
Soprando baixo uma marchinha de carnaval

Descansa o pingado no balcão do botequim
Eu vou, eu juro, eu sei que é assim

Você vigia os copos que amanheceram na pia
Na frívola manhã do teu cansado dia

Frio
Um bocado

Eu à solta por aí na torrente das veias desta vida
Eu vou, eu juro, eu sei que você me respira

Eu guardo de você uma dança a dois na Xavier de Toledo
Eu guardo de você uma dança a dois quando a gente não tinha medo

Hoje eu vou dormir com a tua teimosia me beijando
Ainda tenho a fotografia que ainda não tiramos

Você não tinge com esmalte colorido as suas unhas
Espalha o cheiro do teu cabelo pelas avenidas

Eu
Um coitado

Hoje eu vou dormir com aquela mesma pergunta
Eu vou, eu juro, eu sei que é você

Eu guardo de você uma dança a dois na Xavier de Toledo
Eu guardo de você uma dança a dois quando a gente não tinha medo

quinta-feira, 30 de julho de 2009

AQUELES DIAS

Pensava que havia uma vela
Na curva onde eu devia entrar

Teimava na febre do sonho
Deixava o mundo todo pra lá

Feria minha alegria
A tinta guache que derretia quando chovia no quintal

Nem existia o meu bem
Nem existia um boteco e tal
Eu nem sabia que você vinha pra depois dizer tchau

Pensava o céu numa avenida
Enquanto não tocava o sinal

Tingia o fel da sala quieta
Nos meus fantasmas a diversão

Guardava minha alegria
Pra tarde inteira que me esperava do outro lado do portão

Nem existia você, meu bem
Eu sorria sem preço algum
Eu nem sabia que você vinha pra depois a solidão

Era um dia sem pressa alguma
Do muro de casa eu general

Então do outro lado do mundo da minha rua
Você afinal

Meus olhos disfarçavam no céu
Meu coração te olhava
E voava
Voava e então aqueles dias partiram dentro de mim

terça-feira, 28 de julho de 2009

MADRUGADA ME CAI BEM


Madrugada
E a insônia já se faz
A saudade nem dorme mais

Dedo no interruptor
Finda a luz
A quietude me conduz pra ancorar no fundo de mim
Esse amor
Náufrago da tormenta dentro de nós dois

Madrugada
E a insônia já me cai
Coração já pegou um trem

Pra lá
Pra cá
Pra onde a gente não se encontra mais

Dedo no interruptor
Nasce a luz
A feiúra reluz no branco que segue o resto das cartas
Esse amor
Louco da bagunça dentro de nós dois

Madrugada já se faz
Madrugada já se faz
Madrugada já te traz
Madrugada já me cai tão bem

quinta-feira, 23 de julho de 2009

CHUVA E OLHOS


E depois que choveu
Só os dorsos dobrados se protegendo do frio
Como quem carrega um sonho no peito
Um segredo nos seios

Depois que choveu
Atravessam a paulista
Rijos na faixa mas fora de fila
Como uma enxurrada de almas viúvas
Um cemitério de estrelas

Quem permite a si mesmo um pouco do seu próprio tempo?

Só que no caminho dos olhos
O fim do túnel somos nós mesmos

E depois que choveu
Só os telefones vibrando no fundo dos bolsos
Pra avisar que o congestionamento é agora o nosso bem comum

Depois que choveu
Enquanto o frio na calçada distribui seus beijos
A gente inventa uma desculpa pra se perder
A gente bem que tenta

Mas como é que se escapa da vontade que nos acorrenta?
Menina, como a gente escapa do amor que nos esquenta?

E no caminho dos olhos
O fim do túnel somos nós mesmos

quinta-feira, 16 de julho de 2009

AQUILO ISTO

Que envelheça
Desbote e desça do alto das falsas certezas
O mundo automático das coisas
Do caráter medido no limite do cartão de crédito
Da catapulta que arremessa o peito contra os espinhos
O mundo gigante e fraco das mentiras com selo de garantia

Ali pensam que vivem os mortos-vivos
Tão bem nutridos de toda essa porcaria

Tiram da gaveta e vestem um sorriso antes de sair de casa
E juram que são aquilo que nada sabem
Aquilo que não os encontra de braços abertos quando voltam pra casa
Aquilo que se conquista ao entender-se conquistado
Aquilo que o dinheiro não paga
Aquilo que o sucesso desconhece o gosto
A fala

Aquilo
Isto que eu sinto
Quando teu coração acelera esperando que eu passe

quarta-feira, 15 de julho de 2009

CHOVE BEM

O mundo segue feito um trem vazio
Aqui onde não pertenço a ninguém
O que se passa dentro de mim
Não escapa até você
Não é visível à tua retina

E pra você eu desapareço em algum lugar
Nem vê que vivo passeando dentro de você

Fez sol ou fez frio?
O que divide a linha dos copos de cerveja onde o silêncio é a certeza
Do muito que eu quero te dizer?

E o mundo segue feito um triste trem
Aqui onde não sou de ninguém
O que se consagra dentro de mim
É uma beleza que teu coração nem conseguia prever

Pensa que isso pode morrer?

Olha ali... Além da cortina do salão do teu bem estar de isopor

Sou eu a chuva que vem

quarta-feira, 17 de junho de 2009

OUTRA QUALQUER

Assim sem avisar
Junto do dia
Quando calmo e certo o sol subia
Ela escolheu o medo
Recolheu sua folia
E do fundo do meu peito resolveu se mudar

Onde não há viver
Onde não há descanso no doer
Segue a gente
Miúdos pelo mundo
Nossos corpos separados
Nossas almas agarradas... tristes e cheias de tudo

Deve haver mais ar
Deve haver mais céu
Pra que eu possa voar e deixar de ser teu

Ou então
Tens de ter mais coragem
Tens de ser mais mulher
E não me perder pra uma outra qualquer

quarta-feira, 3 de junho de 2009

O TEMPO QUE LEVA PRA ISSO

Faço agora sem adorno nos gestos
Do quente do café que toca a boca
O calor trocado
O canto lacrado
Dos loucos que percorrem soltos
A madrugada que os arranca da forca

E assim passa o mundo
Esse cinema no olhar
O coração grita no fundo
A quietude do mar

O rosto rijo na fila
A dor contida dentro do terno
O vazio do que a TV fala
As línguas de inverno

A paciência da flor
A timidez de um amor
Que passeia dentro da gente
Sem a chave da porta que mantemos fechada

Faço agora sem cores de fogo
Da imensidão deste meu peito
Um olhar desperto
Um quarto secreto
Onde se estende sem fôlego
A fotografia do meu afeto

E assim muda o mundo
Esse pincel no olhar
O amor dorme no fundo
A paciência do mar

E lá se vão as montanhas
Em grão de areia se transformar

Fica então a saudade sem relógio
Que não sabe que já passou da hora de se calar

quarta-feira, 20 de maio de 2009

AQUI AINDA É NOITE


Não vá mais
Perca o véu dessa correria louca
Vista nada
Olha o céu
A garoa está solta

Nem faça do tempo a desculpa
Pra você partir assim

Lá fora o trânsito
O túnel alagado
O metrô lotado

Aqui dentro é você agarrada a mim

Não vá mais
Perca-se nos cômodos do meu peito
Vista calma
Corte os nós
Nesse vazio dê um jeito

Nem faço da culpa a desculpa
Pra desistir assim

Lá fora o dia
O dia
O dia

Aqui dentro a noite só sai de casa
Quando está acompanhada de mim

segunda-feira, 18 de maio de 2009

COM CALMA E UM SORRISO

Estranho
Da vontade de chorar veio a paz
Do lamento veio o silêncio

Quem define até que ponto da estrada a dor nos acompanha se não nós mesmos?

Veio
Um presente invisível
Um perfume rarefeito
E respirei tão fundo
Que até minha alma ficou perfumada

Veio então a hora do vento
Do tempo soar o fim da festa
E duma fresta de olhar
Eu assisti
Eu ainda assisto
Ao longe
Esse presente me acenar

Veio
Um incêndio invisível
Um fogo feito aconchego
E larguei-me tão fundo
Que o meu coração ainda queima

Com calma e um sorriso
Dia após dia
Século após século...

quinta-feira, 14 de maio de 2009

VOCÊ VAI EU FICO

Você sai bem de manhã
Me sobra o jornal
E algo bobo na tv que eu deixo sem som

E agora?
E quando voltar?
Terá outra cor de esmalte nas unhas?
Cabelo solto...
Eu preso no teu passear pelo apartamento

Você sai bem de manhã
Me sobra uma criança no peito que reclama:Que chato trabalhar! Quero brincar...

E agora?
E quando você chegar?
Faço da minha alma o meu país
Do meu olhar o meu exército
Pra você pensar que há algo mais em mim a conquistar

terça-feira, 21 de abril de 2009

MACHUCADO


Eu sei mais de você do que pensas
Vá logo bem pra lá
Anestesiar o teu coração com a razão dos duros
Dos covardes
Abanar o machucado que deixei em você
E que ainda não confessa
Que sou eu quem você quer pra assoprar

Vá logo bem pra lá
Balançar a cabeça dizendo que um novo chegou
Que a paixão te ganhou
E mesmo os dias à tua frente serão mensageiros meus
Dizendo a você pra me procurar
Pois saudade tamanha
É sombra do amor que levas pra lá e pra cá

Eu nem sei mais de você
Tenho que te esquecer
Vou inventar outro alguém pra anestesiar o meu peito
Hoje duro e covarde
Avisar teus sentidos que me socorras do abismo
Que é viver sem você

Finjo te esquecer
Finjo que somos amigos
E o que está no fundo de mim eu sufoco comigo
Pra te dar um pouco de sofrer
Pra você merecer
O coração que me fala
Que saudade tamanha
É a sombra do amor que levo pra cá e pra lá

segunda-feira, 20 de abril de 2009

ENTÃO SOSSEGA

Sossega
A dor é lenta mas sossega
Meu coração sangrou na rodovia
Atropelado por você
Teu silêncio
Teus olhos me engolindo
Teu carinho me evitando
Até o vento parou na Anchieta
Então sossega

Sossega
A saudade é foda mas sossega
Minha boca nem mais te chama
Feito que te fazes de surda
Pro perdão
Pro calor que eu tenho
Pro abraço que ofereço
Mas que morre já quando imagino
Então sossega

Sossega
De manhã os olhos reclamam
Molhando as mangas da camisa
Puxei bem fundo
O ar
O sono que não tive
O mundo que me esquece
O desconforto tomou teu lugar na cama
Então sossega

Nem a casa nem a grana
Nem um capricho meu
Por que inventa tantas estradas entre a gente
Se meu corpo é viciado no teu?

A conta que se levanta
Pra repartir em dois
Em mil
Em mil
Amor
Amor
Que se dane o tempo... Você vai saber

Eu só quero a tua alma colada à minha
Mas hoje nem é ainda o dia
Da nossa imensa euforia
Então sossega enquanto eu digo adeus

segunda-feira, 13 de abril de 2009

FICA QUIETA


Aquieta o corpo no sofá
O controle atende à sua mão
Meio sono
Meia luz
Televisão
Meia boca
Na meia luz a solidão

Desfila o olhar nas coisas da casa
O silêncio até tem o gosto da canção
Meio solto
Meio longe
Furacão
Meio tonta
Na boca espreme meu nome em vão

Fica quieta
Quando acordo teu coração
Teima quieta
Quando acordo no teu coração

Ajeita a alma em teu corpo
O travesseiro atende à sua mão
Meio turvo
Meio muda
Televisão
Meia boca
E na boca a minha visão

Fica quieta
Quando acordo teu coração
Teima quieta
Quando acordo no teu coração

Fica quieta
Mesmo quando finge que não

sexta-feira, 3 de abril de 2009

DIZ VOCÊ

É tão engraçado saltar entre as pedras
Um arranhão a mais
Um desperdício a menos
O que você sabe mesmo
É que o espinho algumas vezes pinta as unhas de vermelho

Posso rir então
O que é que tem?
Posso rir pois eu já chorei
Agora de quem é a vez ?
Diz você

É tão escancarado todo esse veneno
Um sorriso ao acaso
Um dia a gente se entende
O que eu carrego mesmo
É toda a cor do silêncio calmo que a dor não agüenta

Pode ser então
O que é que tem?
Pode ser o tempo errado
Afinal o que é querer bem?
Diz você

terça-feira, 31 de março de 2009

CARTÃO POSTAL


Pra onde vai que se afasta tanto?
Essa gente espanta em olhar
Essa gente observa pela fresta de verdade
Diz

_É que já vai chover e a gente não quer se molhar

Eu sei, eu sei
Nem é a primeira vez
Nem é a última
Nem é desta vez
Será que eu ligo mesmo quando será?

Pra onde vai que flutua tanto?
Essa gente estampa o medo
Essa gente amarra os pés à calçada do bairro
Diz

_É que já vai chover e a gente não sabe despencar

Eu sei, eu sei
Nem é a primeira vez
Nem é a sua
É a minha vez
Olha lá como eu caio do céu bem devagar

Olha como dói tão devagar
Feito um veneno que tenho que tossir aos poucos
Até sair tudo

Pra onde vai que se afasta tanto?
Essa gente cala pra esperar
Essa gente nem tem pernas pra chegar
Diz

_É que já vai chover e a gente não quer incomodar

Eu sei, eu sei

Essa gente espera
Diz
_Mande um postal de lá! Mande um postal de lá!
_A gente quer saber como é se molhar

segunda-feira, 30 de março de 2009

SALTO ALTO


Posso até ser estranho à tua comportada apatia
Uma chuva e a tua sala
A solidão esfarelada e úmida da qual tenta se proteger
Mas é onde estou

Posso até passar por desafortunado para você
A lua e teu secreto quintal
Onde fui eu quem te ensinou a passear
Pra chorar às vezes algo bom

E quando a música quebrar
Quando a música quebrar o teu salto alto
É que estou por aí
E você quer saber

Posso até passar por um melancólico sem razão
Uma noite e a tua casa
A solidão cheia de fome batendo à sua porta
Pra onde você vai correr?

E quando a música tirar
Quando a música tirar o teu salto alto
É que estou por aí
E você quer saber de mim

Uma chuva
Tua casa
A lua e teu secreto quintal
Esta noite e a tua casa

Pra onde nós vamos correr?

Então até parece que eu esqueci você
Uma manhã e o teu rosto
O tempo doído em fila depois da pílula anestésica
Mas a música está aqui
E é onde estou

quinta-feira, 26 de março de 2009

O MERCADO DO AMOR

Isso é cruel
As regras
A lista de deveres
As mentiras que temos de ter anotadas
Pois qualquer sentimento verdadeiro pode apagá-las
Revelar a sua natureza vazia
Seu gosto de isopor

Qual é o termômetro do seu coração?
Sexo
Comodidade ou outra ilusão?

Isso é cruel
As metas
A lida sem paixão
A vaidade que compramos no plano da televisão

Qual é o preço do seu coração?
O vestido
O anel e outra ilusão?

Como então eu fico com o teu coração
Se em troca eu só posso te dar o meu?

segunda-feira, 23 de março de 2009

MEU CONFORTO

Que venham as pedradas
Famintas pelo meu peito
Com precisão milimétrica
Mas com a incerteza de quem eu sou
Explodirão em minha pele cheias de medo
Que me acertem
Uma após a outra
Brilhará a vertente de lágrimas no meu rosto
Mas como sol depois da tempestade absurda
Surgirá meu sorriso
Feito um abraço fraterno no horizonte do mundo
Um reflexo do meu coração

É nele onde mora o meu conforto

quarta-feira, 18 de março de 2009

NÃO ME AME


Guarde o conselho que agora eu vou te dar
Não me ame nem pense em me amar

Eu não valho a pena
Eu não valho o dilema de comigo se ocupar
E ver desmoronar a plástica verdade das cortinas de seda
Ver morrer o sentido do mármore na varanda da casa
A inutilidade dos vastos quartos
Das caras salas vazias
Da prataria lacrada
Da fonte onde ninguém se esbalda
Pois o que te cerca é o que pra mim te torna menor
E menor
Do que a verdadeira imensidão do que é o amor

Guarde a palavra que agora tenho que usar
Não me ame nem tente me amar

Eu não valho isso
Eu não valho a contramão do que acreditas
E o saber que a qualidade da etiqueta é ouro de tolo
Saber da também tolice no mais puro tostão de outro
Da imundice moral do restaurante caro
Dos canalhas bem vestidos
Do jornal mentiroso
Da tristeza travestida de riso na fotografia
Pois o que colecionas é pra mim o que te faz miúda
E miúda
Frente à verdadeira generosidade do que é o amor

Guarde a verdade que agora tenho que usar
Não me ame nem diga me amar
O amor não é isso no seu bolso que você tenta me dar

A LUZ DO TEU QUARTO

A tua distância não merece meu crédito
É um atalho
Um refúgio na poltrona da vida mofada
A tolerável monotonia

Eu peguei um resfriado
Eu passeei pelo bairro enquanto chovia
A rua estava vazia
E dentro de mim
Você se recolhia às suas frases cromadas

A tua distância não merece meu crédito
É um atalho
É um bilhete perdido no armário
A covarde monotonia

Aí onde você está
Nem calor
Nem frio no estômago
Nem o corpo a tremular frente ao tato do outro

Aí onde você está
A luz do teu quarto tem hora marcada pra se apagar

domingo, 8 de fevereiro de 2009

ESTRAGO


É estranho ver
A chuva caindo agora
A chuva traz tanta paz depois que se chora
É como sentir um carinho no rosto
Um cafuné
Aquele abraço que flutua na ciranda do tempo
O cheiro

Esse é mesmo o maior pedaço meu
A assinatura que ficará cravada
Invisível
Na lápide desta minha vida

O veneno que é também alimento
A prisão que é um planeta imenso
Essa minha solidão que é uma multidão dentro do meu peito

Do lado de fora de mim
Aqui pra você
Eu faço tudo errado
Eu estrago os jardins pomposos
Estrago os prédios restritos
As empresas sérias
A televisão
A área vip

Eu estrago tudo com estes meus olhos
Eu não gosto de mentira
Eu choro e você me acha triste
Mas é só porque não faço do conformismo a desculpa pra ficar em cima do muro

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

E UM POUCO DE SOM

Um céu nublado nos olhos
Um sol na fotografia
Uma pilha de contas antigas
A semana retrasada impressa num jornal

Pupilas acessas
Férias desta vida
Um instante apenas
O carinho agora sou eu sozinho e o lençol

Um café
Uma anfetamina
E um pouco de som

E o melhor de mim eu não soube te mostrar
O melhor de mim eu deixei você levar
Pra abrir depois

Um céu nublado bem ali
Um farol solteiro
Uma esquina bêbada
Aquele jardim agora viúvo de nós

Vertigem do reto
A casa bem vazia
Um instante apenas
A ciranda de estrelas com seu cachecol

Um café
Uma anfetamina
E um pouco de som

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O RESTO É FILME


Bem que acreditava em estórias de amor
Jurava um dia viver uma
A minha
Balela da baixeza estética das pessoas ocas
Não existem estórias de amor
Existe o amor

Vezes tosco
Corcunda
Dorso de um terreno pantanoso

Vezes gostoso
Sim
Vezes em paz

Ou mar revolto de dedos e vozes
Desenhando os defeitos do outro ao mundo
Aos vizinhos
Aos amigos e inimigos

Vezes um doce
Olhos da criança vigiando o pai

Crescer maior que mundo
E morar apertado no peito de seu dono

Vezes sábio
Passo tranqüilo de mãos dados com o tempo
Sem pressa ou receito de deixar de existir aos poucos
A face limpa de uma manhã sem correria

Vezes um tolo
Ansioso em saber o que não vale a pena
O que não vale queimar com a linha da vida

Estória de amor
Só estética dos ocos

Amor
Vistoso e desengonçado
Riso e choro
Choro
Riso

Isso que é bom ou ruim
Nos faz renascer um pouquinho diferente
Dia seguido dia
O resto é filme

sábado, 17 de janeiro de 2009

NO SEM SAÍDA


Meu coração foi passear
Do lado de lá do sol
O teu farol de grana não via
Não sabia o que Deus sonhou pra nós


E se doía quando eu fazia
Com a verdade uma carta pro tempo guardar
Pra você ler depois

Nem sufoco eu sentia pois
Eu já estava livre quando ia me deitar

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

TINTA NO PAPEL


Sufocado
De uma tristeza sem certeza
De ser triste por estar certo o bem que eu deixo de lado
Ou errado por não guardá-lo só pra mim

E vai assim
Feito um barco flutuando o céu
Devagar se perde da minha vista
Pra depois eu deixar alguma lágrima
Com a tinta no papel

É pra você, meu bem
É pra você que deixo o meu bem
Pode levar, vai

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

COMIGO

Deixa isso aqui comigo
Feito um bebê a ser guardado
Feito um espaço de tempo a ser velado
Quando passarem os dias
As tuas risadas
Dirá tranquilamente ao mundo
Que fui apenas uma tarde
Fui apenas e nem mais que isso
E mais nada

Quanto da nossa voz
Gastaremos com o que a gente não fala?
Quanto é que eu te devo
Da minha alma rica e solitária?

Então deixa isso comigo
Que eu tomo conta
Como quem cuida de uma lágrima quando a vida quase nos escapa

Deixa isso aqui comigo
Feito um lembrete na porta da geladeira
Feito um brinquedo que a criança só olha
Quando seguirem os dias
As tuas lombadas
Dirá abertamente ao mundo
Que fui apenas uma tarde do lado de fora
Mas em teu peito uma tarde que nunca mais foi embora

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

HOJE É DIA

Você pode estrebuchar em tua cama
Esparramar os pensamentos pela casa
Navegar com o ponteiro do relógio
Segundo após segundo
Pode chorar
Rir
Depois chorar outra vez

Se a tristeza não dá sono
Deixa-a em casa
E vá passear
Por isso
Hoje é dia

Você pode vasculhar a caixa de cartas
Bisbilhotar as entranhas digitais atrás de um vestígio de amor
Mas o que foi que você ainda não percebeu?

Pena de si mesmo é um auto-desprezo

Se a tristeza não dá sono
Deixa-a em casa
E vá se procurar por aí
Por isso
Essa noite é dia
Hoje é dia

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

COMO POSSO DIZER?

Como posso dizer o que vejo?

O despojo que eu era para os teus olhos
Rejeitou
Nem fez questão
Agora então quer me falar de dor?

Nenhum rancor ficou
Nem uma fagulha daquele amor
Foi como você plantou
Ventou, ventou
Ventou-me pra onde agora estou

Surpresa?
Que nada!
Olha pra lua
Lá eu escrevi a lápide do que você matou

Como posso dizer como foi?
O esbulho que tua mão não ousou
Esqueceu
Nem guardou uma frase
Agora diz que me descobre naquela canção?

Nenhuma noite restou
Nem uma lágrima sobrou pra hoje
Dei-te quase todas
Nem viu, nem viu
Nem viu-me expelindo o amor

Dei-te quase todas
Só guardei umas poucas
Para o Vininha levar depois