quarta-feira, 30 de junho de 2010

A CAMA E O SALÃO

Suba então
Suba agora
Do dia que definhou lá fora
Da noite que morre do outro lado de tua pele

Teus olhos com sede de fogo
Filmando só esse brinquedo bobo
Esse velado sufoco
Dessa gente que aceita tão educadamente tamanho desconforto

Teu grito!
E agora?
Já nem pedem tua presença à mesa
Rabiscam teu rosto na foto
Apagam tua voz dessa estranha música que voa
E que tanto os incomoda
Pois sabem que nem podem mais pegar tua selvagem alma

No salão despenca suave a poeria agora
Os tacos nem mais tremem à pressão das solas
O balcão está seco
O ar descarrega-se do hálito de pinga

Em tua cama tudo morno e quieto
Tudo ontem e sempre
Um século atrás e amanhã também
E ainda tem
Depois de tantos giros do teu coração ao redor da lua
No teu pensamento mais fundo
Aquela mulher quando dorme toda tua
Faz você perdoar as mancadas inevitáveis deste mundo

sexta-feira, 25 de junho de 2010

SONHO VIGARISTA

Amarrei minha sorte à saia de um sonho leve
Eu sabia do riso
Sabia dos olhares da lua
Meu corpo entregue e meu peito sempre na rua esperando o fogo daquela hora

Num nome a febre mais deliciosa
No peito o que nem a morte devora

Mas veja só como se dar é mesmo algo tão singular
O sonho nem era sonho
Fez-me um estranho à minha própria vista
Um fantasma vigarista
Que disse do fundo do seu coração vermelho me amar
Mas quando acreditei nunca mais tive coração para dar

terça-feira, 22 de junho de 2010

CARECER

Nestas que me ofereces eu vou me manter em paz
Silêncio e distância
Careço, careço sim
Mas não do que julgam teus números na ponta de uma caneta
Teu peito de pés inchados e asas atrofiadas
Teu infame discurso de soprar veneno
Tuas frases fedorentas

Careço do que não se inventa
Do que não se atentam os dedos enquanto trepam com as cédulas
Do que não existe na particular comodidate de uma vida muito bem avaliada
O descaso com culpa para o vento
A âncora onde se amarram os beijos... as noites verdadeiras...
Pra que morram nessa geleira escura que adorna teu peito

Careço do que tu careces
E que apesar das minhas chulas preces
Negamos um ao outro com a tranquilidade dos mortos

segunda-feira, 21 de junho de 2010

DANADA

Fique quieto em tua saudade
Fique quieto e calmo
Não gaste farpas de palavras com esses
Nem querem saber de você na casa das almas engomadas
Nem querem saber de você na prisão onde a canção escapa
Linda e viva
Pois já é livre feito que é a roupa de tua alma
Nem podem saber de você pois eles nem sabem que existe tanto mais que dos olhos escapa
E que existe uma beleza fértil e sem preço
Sem desconto de 10%
Então calma
Nem querem saber de você
E isso é uma puta sorte danada!

terça-feira, 15 de junho de 2010

NOSSO TEMPO

O que será que pensam de nós os bilhetes esquecidos pelas gavetas?
Será que dança sobre a pia o copo quando eu ainda não voltei pra casa?
Quando a minha estrada é o nível amarelo de um copo de cachaça
Que uso feito uma borracha pra apagar teu nome dentro de mim

Será que riem ou que choram as estrelas quando falo sozinho minhas doideiras?
Quando eu canto baixinho essa tristeza
Quando eu subo pelas escadas os andares do meu peito
Andar por andar
Tantas portas fechadas e apenas a mesma chave
E você sabe
Ah, você sabe

O que será que pensam de nós os confetes amanhecidos da quarta-feira?
Será que sussuram a nossa vida às serpentinas aterrizadas na sarjeta?
Quando a minha casa é teu sorriso fotografado naquele tempo
Picado em pedaços soltos nalgum vento mas todo inteiro aqui dentro

Será que você me vigia pra garantir que eu não escapo do teu esquecimento
Ou me guarda com afinco pra lembrar que deve me esquecer um dia desses...
Antes do fim do nosso tempo?

quarta-feira, 9 de junho de 2010

AS COISAS NO LUGAR


Chego inteiro em teu olhar

Chego pra pôr as coisas no lugar

Chego e de tanto eu te sacar você aperta teus olhos

Pra saber que estou em teu quadril

Em tua nuca nua

Na rodovia de tuas costas

O conforto de tuas ancas

Tuas nádegas se debatendo em mim

Você aperta teus olhos pra saber que do teu coração eu jamais fugi