terça-feira, 27 de maio de 2014

Um Dia (Há tempo ainda)

Você me pergunta qual é a minha alma
E eu noutra onda olhando lá fora
Não sei de que tempo eu vim pra essa hora
Não sei como não escutas a lamúria das portas

Não sei quantas cores tocaram meus olhos
Nem sei dos tratores que aplainaram meus sonhos
Eu vivo no mundo de uma antiga criança
Eu rio e choro numa mesma lembrança

Você me dá nomes sem saber como eu chamo
Você me coloca a tua camisa de força
Um terno alinhado
Uma gravata estranha
Você precisa é sair dessa cama

Você me pergunta qual é a minha alma
E eu só te olho enquanto me basta
Eu sou a pergunta que um dia você ainda sonha

Eu sou a resposta pra essa tua pergunta

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Trincheira

Deito aqui por um tempo
O corpo luminoso exausto
Espancado pelas gravatas que eu usei
Espatifado pelas questões modernas

Nessa guerra de coitados
Bombardeiam meu menino com cafezinhos
Com risos polidos
Com a civilidade dos chacais

Deito aqui
Espero aqui o meu carnaval
Pra arrancar de mim a fantasia liberal
Desfantasiar-me de homem moderno

Outro Eu

Então eu cheguei aqui
Estacado dentro de mim
Eu e você
Confinados neste planeta confuso
Espalhados dentro dessa alma estranha

Eu olho para teu passado
E você me olha numa delicada raiva
A saudade que me derruba
A vontade que nubla quando te encontro no espelho

Teus olhos
Os meus olhos
Meu choro
A grandeza da tua coragem pra me dar um sorriso
Pra me dar uma gargalhada de presente

Eu te busco
Eu não te esqueço
E também não te alcanço
Hoje pelo menos

O amor que eu teimo em recusar
Que penso em não merecer
O amor que é uma conquista tua

Quando sou você
Quando não minto de ser um outro eu

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Selfie

Lá vai você
Não sei
Não vejo
Eu sinto
Eu minto pra mim que não me faz falta

Tomo meu trago sem pressa
E depois canto baixo

Lá vai a noite
Eu rio
Eu danço
Eu solto minha alma em algum abraço

Tomo outro trago sem culpa
E depois canto baixo

Quem foi que inventou o atraso quando o peito é o ponto?
Fica essa gente assim feito bobo

Com um riso no rosto com gosto de choro

terça-feira, 6 de maio de 2014

Mãe

Olhei fundo as vidas no teu olhar
Fui por aí querendo te imitar
E fui trancado como um dos teus loucos
Quando não jurei a reza dos santos ocos


Lavei meus olhos com o meu choro
Guardei meu sono de tanto apuro
E me alimentastes também com abandono
Pra que eu pudesse ser então o meu dono


Não entendo tua letra
Nem entendo teu rosto
Se é sorriso
Se é careta
Na sarjeta do meu ser
Quando sou filho de algum sonho teu
Quando sou a alma que você me deu


Não entendo teus bilhetes
Nem entendo teu silêncio fundo
Mas eu sei dos teus olhos que me seguem quando estou solto pelo mundo

Ontem é hoje

O sol já sobe lá fora
E o menino sente alívio ao deitar
Seu sono sem demora
Seu coração é o tesouro pro homem que ele jura se tornar


Um dia…
E onde eu estou agora?
E onde está você, meu sábio de olhos certeiros?


Ali tão perto o mundo inteiro
São tantas palavras nos seus dedos
São tantos refrões escancarados
Como se a vida fosse fevereiro


E o que mais?
Ah, por favor
Volta pra aqui dentro do meu peito


O sol já sobe lá fora
E eu sinto frio ao me deitar
Meu sono sem minha hora
Meu coração é um lugar que eu teimo em não visitar


Outro dia…
E onde ele está agora?
E onde eu estou, meu sábio de olhos certeiros?


Aqui tão longe do mundo inteiro
Sou tantas palavras nos meus dedos
Sou tantos refrões não terminados
Como quem espera por um fevereiro


E o que mais?
Ah, por favor
Volte a viver dentro do meu peito

quinta-feira, 1 de maio de 2014

Ana

Eu observo algo meu
Feito quem olha uma nuvem passar
Querendo segurar o que se perdeu
Revendo o filme da vida num olhar

Eu observo algo meu
E sou tão bom em não dizer
Se foi saudade que me bateu
Se foi o meu dom em se perder

Por aí
Por aqui
Onde quem me salva é só você