domingo, 31 de março de 2013

REFÚGIO DE UM CORAÇÃO LOUCO


Olá
Eu respiro dentro de você
Batendo
Vivendo o que você vive
Eu sinto
Eu sou o que você sente
Eu sou a sua estranheza
A loucura que você não é capaz de esconder
Não é capaz de mentir num riso medido
Num suposto caber no mundo
Desculpa
Eu sou teu céu e teu fundo

E quando te jogo aqui do lado do que eu preciso
Você se ausentas de tudo
Eu sou insaciável de ti
Sou faminto das coisas que eu quero que você veja
Sou o que te faz estranho
O que te faz sozinho às vezes
O que te desperta do marasmo
Isso que te acolhe
Isso que te bagunça
Que te põe no colo
Numa tristeza só tua
Só minha
Numa alegria sem legenda
Nossa alegria

Sou tua calma
Tua busca por justiça
Não a coisa dos homens
Não coisa alguma
Mas o sentido
A tua verdade
Tua mágica
Essa que eu guardei na tua infância
E que me pedes quando do mundo se cansa
Quando do mundo some

Te absolves da imensidão dos teus olhos
Te absolves de ver... Te absolves de mim
Que eu não sou nem pior nem melhor
Sou apenas você

terça-feira, 26 de março de 2013

PRA CASA


Depois que te deixei
Depois de todo esse tempo
Os anos que comem qualquer milênio
Os dias que calo mas que não esqueço

Você volta já criança feita
Tão sábio fazendo careta
Tão jocoso com o que é sério
Eu te abraço do outro lado do espelho

Espero teu perdão
Teu sorriso e um conselho
Pra ver se ainda dá tempo
Pra me vestir de você antes da festa final

Deipois que te calei
Depois te tanta certeza
A Cachaça
A barba e o cabelo
O amor calculado e cheio de medo

Você volta já tão pequeno
A dança toda desengonçada
A bola dente de leite
Eu te acho agachado em meu peito

Respiro teu sono
Teu exército e um fantasma
Me esqueço da hora marcada
Me esqueço em teus olhos pois não sei mais nada

Me avisa quando vamos pra casa
Me avisa quando vamos pra casa
Não há nenhuma mala a ser feita

quinta-feira, 21 de março de 2013

AINDA TEM JEITO


Vá lá
Eu sei que me atrasei pra voltar
Eu sei bem
Me atrasei em guardar o nosso tempo
E se chove aqui nesta hora?
Chove lá, do lado de lá do que eu me lembro?

Vá lá
A noite agora é perder o sono
Faz tempo
O sonho é o portão da casa que eu esqueço
E agora que já é tarde?
Onde a gente vai tão tarde da noite se já é ontem?

E aquele machucado no teu joelho
Aquele bilhete escrito em vermelho
O vinho do teu avô no quarto dos fundos
O poema escrito com tijolo
A tampa do dedão
Aquele fantasma que te contou tantos segredos
Onde ele foi morar?
Foi tudo vão?
Ou é só essa puta saudade de um bom fevereiro?
Vá lá
Ainda tem jeito

sexta-feira, 15 de março de 2013

NU

Fui até o último degrau
A escadaria abandonada
Nada das antigas crianças que por ali voavam
Nada do olhar flamejante que eu escondia
Mas a fagulha da minha alma
A fagulha nos âtomos de minha abandonada lágrima
É estranho encontrar Deus sem estar nu

Fui até o último telhado
O verão ensolarado de mim
Qualquer dúvida secava à sombra dos meus heróis
Qualquer monstro dobrava ante os olhos dos meus pais
E a fagulha do que sou
Nem criança ou homem ou nada
Meu lugar

Labirinto de existir
Estou nu quando Deus vem me buscar

terça-feira, 12 de março de 2013

Ressaca

Quando então eu jaz naúfrago de mim
Juravam o tempo, o mar, o sal e o iodo...
Todos
Que meu coração dormia enferrujado
Esquecido no lodo
Um fantasma abissal
O espectro afinal do meu riso agora alvejado

Só que escapam dos olhos opacos
O movimento da minha alma
A dança onde a minha desobediência me salva de ser fácil
De ser nulo

Tolos
Não há pra eles em minha alma mais espaço
Nem há nada meu que eles tenham realmente roubado
Eu vou ainda
Eu vou
Acima dessa ressaca enfeitada