quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

UMA CARONA

Como é rezar?
Eu sempre andei quieto
Eu sempre me achei solto quando trovejava
E aquela gente toda da chuva se escondia

Qualquer santo me olhava e já sabia
Que eu nem lá estava?
Eu nem lá vivia

Quão enorme foi então a tua teimosia em me buscar
Em me querer
Em me jurar o que hoje não se jura por aí todo dia

Como é rezar?
Eu sempre fiquei na minha
Eu sempre guardava no meio dia a luz da lua
A luz da lua
A vontade nua em mim
Sem a mentira que conta essa puta chamada Apatia

E hoje quem vem me buscar?
Quem vai me levar?
Pra lá
Pra lá
Pra onde onde a solidão já me conhecia

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

CASARÃO

Ei, casarão
Como é que vai você?
Não faça cara de espanto, não
Aqui dentro eu ainda posso te ver

Ei, casarão
Onde é que a gente foi se perder?
Fantasiado de silêncio e solidão
Do nosso barulho eles não tem como saber

Ah, eu ignorei você
Ou não
Foi quando eu tinha fome da fome que iria ter
Foi quando eu pensei do amor saber
Antes de pegar fogo na minha cama
Antes de Juliana
E só Juliana

Ei, casarão
Como é que vai você?
Teus fantasmas leem minha mão
Tua sombra não me assombra
Minha sombra
Minha dona, cadê?

Ei, casarão
O que um coração sacana ainda pode aprender?

Ah, eu esqueci você
Ou não
Foi antes da esquina do teu fim
Foi antes da virada que guardei em mim
Antes de ter tanta distância na minha cama
Antes de uma estrada longa e turva
Chamada Juliana

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

MAIS TARDE

E já vem o fim da noite
E no começo de mim
Arde um fogo sem senhor
Que não ousam os de boa educação
Os de postura intacta
Os que não ficam de pileque
Os que não choram esparramados pelo chão
Os que não gargalham desengonçados

Queima as minhas desculpas
As minhas mentiras
As ranhuras do meu coração
As armadilhas da minha covarde razão

Me pergunta sem vergonha
Como quem, da minha alma, um segredo roubou
Quantas Marias a vida já te trouxe e te arrancou?
Quantas noites tirastes de ti pra viver o amor que você sempre sonhou?

E já vem o dia breve
Meu coração por aí
O mundo eu abandono num sono químico
Na pílula
Na prece que não termino

Mais tarde eu amo de novo
Acordo e uivo
Mais tarde eu sou leve
Eu sou do mundo de novo