quinta-feira, 15 de maio de 2008

SE

Se toda a minha vida estivesse aberta à minha consciência
Dos recantos passivamente esquecidos nas estantes de minha memória saltariam as imagens
As vozes vertendo frases
Os cheiros
O gosto salgado da torrente de lágrima quando alcança o canto da boca
A quase dor abdominal de cair na gargalhada
Os nãos e os sins
As gripes
Os gols
Os amigos que a vida engoliu em algum lugar
Eu poderia olhar para o mapa do meu espírito e dizer:
Eis o mar onde sou meu quando dessa terrinha me perco
Eis o céu onde eu desmaio
Eis a lua que no sono eu ganho e de sonhar-me liberto me vicio
Mas mais ao escuro, longe do meridiano que pulsa
A sala vazia
A sala que escola torta construiu dentro de mim
Onde sou quieto, calado
Onde não sonho
E onde me dano ao usar o pomposo terno

RÁDIO

A tarde já vai passar?
A tarde da minha vida?
Eu quieto fronte à vista
Vendo esse estranho pela minha casa perambular

E quando eu terminar de contar essa história quem irá notar?
O centavo esquecido no bolso da calça de ontem
O sopro do vento que entra por baixo da porta
O arranjo na política de supermercado
A bobagem cultivada na televisão
O barulho da chuva e quando acaba
Quem irá notar?

Então já vai passar?
A tarde da minha vida?
Sem que eu aprenda que preciso desligar o rádio e cantar a minha canção