quarta-feira, 31 de julho de 2013
Fui Eu
Eu
Ascendi teus olhos no hora dura
Suspendi teu riso àquela altura
Onde o canto dos teus grilos se calava
Fui Eu
Eu
Vesti tua alma com fel e doçura
Dei-te a janela da tua bela loucura
Onde habita o ofício dessa tua alma
Fui Eu
Fui Eu, fui Eu
Teu pai e tua mãe
A tua derradeira escola
Fui Eu, fui Eu
Quem te ensinou
Mais vale as costas do amor
Que do mesmo uma esmola
Eu
Queimei o cobertor que te engana
Mostrei o frio que a mentira não profana
Onde o coração forte resiste teimoso e fundo
Fui eu
Eu
Tirei teu sono pra te dar a estrada
A companhia de uma lua ensolarada
Onde plantei os sonhos que tu sonhas
Fui Eu
Fui Eu, fui Eu
Tua puta e tua dama
A fornalha do teu coração
Fui Eu, fui Eu
Quem te ensinou
Mais vale o adeus do amor
Do que o seu olá por pura educação
Postado por Beto Renzo às 17:48 0 comentários
quinta-feira, 25 de julho de 2013
Transbordado
Sabe isso?
A métrica academicamente permitida
A gente vestida de santo antes mesmo de um milagre
A frase pronta e desinfetada
Politica e falsamente correta
A celebridade instantânea e oca
A música intelectualizada e fedida
Que senta sobre o seu rabo sem sair da toca
A música prostituída e cheia da grana
Que arrebata a burrice tão em alta
Sabe isso?
Que causa ânsia aos meus olhos
Que causa enxaqueca aos meus ouvidos
Sabe?
A Pinacoteca e seus fantasmas soberbos
A foto da bunda daquela
Que parece aquela que parece a outra
Que parece a louca vontade por qualquer tolo clique
O ibope
O hit
Tanta erudição
Tão pouca alma
Postado por Beto Renzo às 14:35 0 comentários
quinta-feira, 18 de julho de 2013
Respiração
Havia uma garota que chamava a minha atenção. Eu a perseguia com meus olhos timidamente quando ela aparecia pelo meu boteco preferido. Ela tinha algo singular. Sim, é algo simples de se dizer sobre qualquer desconhecido, mas ela realmente tinha.
Eu não fazia idéia do que era. Não era tesão ou apreciação por um padrão de beleza.
Certa vez, numa das noites por lá, alguém disse que a cerveja não estava devidamente gelada. Ela fez então uma cara: A cerveja está como deve ser.
Lembrei então imediatamente de minha avó. Era isso. Minha avó sempre teve um humor simples e forte. Era uma força encantadora, algo que eu vi em pouquíssimas mulheres. Ela tinha aquilo. Enfim.
Eu do alto de umas oito cervejas resolvi fazer um elogio: Você sabia que me lembra a minha avó?
Ela então mudou de rosto. Fez uma cara de ofendida e aquilo que eu admirava desapareceu.
É foda. O primeiro quintal que as palavras habitam, quando alguém despenca da boca o que pensa sem respirar numa pausa, é o quintal dos absurdos. O mais foda é que pode ser um absurdo lindo ou um absurdo tenebroso.
Ela ficou puta, imaginando que eu estava destilando algum tipo de piada.
Eu estava bêbado demais e falei tudo rápido demais. Acho que eu não esperei a razão que viria depois de uma simples respiração.
Postado por Beto Renzo às 20:23 0 comentários
sexta-feira, 12 de julho de 2013
Tão Longe
Eu vi de perto
Eu estava tão longe
Aquela gente tosca
Aquela procissão triste e turva
Sabiam da letra mas não da alma da canção
Cuspiam sorridentes o discurso pronto
E os dentes branqueados na clínica
E a etiqueta das roupas rasgadas
Juravam uma única felicidade absoluta
Mostravam com orgulho sua própria prisão
E o riso era pautado no tom da moda
E o amor tinha preço e tamanho
Vi que então secavam o rosto
Apontavam neles uma lágrima púrpura
E não entendiam de nada
Da lágrima
Do gosto de sal
A possibilidade do novo era pra eles uma dor absurda
Eu vi
Eu que era o triste
O que não pertencia à sala alguma
Eu já em outra parada
Chorei de alívio
Eu estava tão longe
Postado por Beto Renzo às 13:48 0 comentários
Sei Não
Uma vez
Sei não
Sabe?
Sabe onde o beijo é menos ácido e mais irmão?
Uma vez eu vi meu pai jogando futebol
Uma vez eu ouvi o Toquinho tocando violão
Abri a janela porque a chuva era bonita
Abri meu peito porque a moça era bonita
Uma vez eu vi o sol apagar em pleno dia
Uma vez eu tomei café sem pressa alguma
Fiquei quieto e a casa estava vazia
Fiz barulho pra noite não me abandonar
Sei não
Sabe?
Sabe onde o sono é mais breve que uma ilusão?
Uma vez eu tomei conhaque antes da escola
Uma vez estava frio e eram dois sob o colchão
No coreto da praça dormia o Tobias
A ferrugem ficava tão bonita no portão
Uma vez o piano tinha cheiro de fantasmas
Uma vez os sonhos pingavam do meu suor
Vi a diáspora das formigas na cozinha
Vi a menina que fingia que não me via
Sei não
Sabe?
Sabe como é ser adulto e ter uma criança no coração?
Postado por Beto Renzo às 13:34 0 comentários
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