quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Cicatriz

É garoa ou é choro?
É a vontade da tua noite me levar?
Não respondo mais
Não te namoro mais... faz tempo...
Ah, que saudade eu vou deixar

É garoa ou é choro?
É a tua alma querendo me adotar?
Não me entrego mais
Não te aproveito mais... faz tempo...
Ah, que saudade eu vou deixar

E se um dia alguém olhar cada átomo teu
Tristeza, alegria...
Madrugada, correria e concreto
Onde estará a cicatriz que eu vou deixar no seu peito?

domingo, 7 de outubro de 2018

Beto

Que tal abrir de novo a janela e puxar o ar ?
Que tal trocar o punho cerrado por um abraço ?
Minha alma desesperadamente pede por isso...
Pede por essa desintoxicação...
Vou tirar esse sobretudo odioso... e me vestir de Beto de novo.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Abrigo

Pedras
Nada mais do que pedras
E muito mais do que isso

Fritando no sol da minha infância
Minha alma na dança da vida
Sem a migalha dos falsos risos
Sem jamais do medo ter bebido

Pedras
Nada mais do que pedras
E muito mais do que isso

A privacidade onde o bom sonho habita
O buraco negro para o paraíso
O que eu buscava além dos cristais?
O que eu sabia que hoje já tenho esquecido?

Mas surge enfim o veneno furtivo
Com uma mão estendida oferecendo a modernidade como cura
E com a outra assaltando teu rubi vivo
Inundando teu sono de podre bebida
Botando os pesadelos para matar a sede no teu silêncio aflito

Só não aperte os olhos
Não, não aperte teus olhos
Atrás de ti teu exército caminha
Pois mataram teu sorriso do lado de fora
Mas não alcançaram a criança que ainda te abriga

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Ainda Volto

Eu fecho os olhos pra te alcançar de novo
Meu rosto é triste mas ainda cheio de esperança
Meus dedos não te tocam
Mas em meu peito tua leveza e teu cheiro de risada

Minha voz sem ritmo e também sem desespero
Entro por essa porta e àquelas tardes estou de volta
Na mesma casa as paredes rabiscadas
E finalmente minha alma se joga na sua loucura preferida

Ainda volto
Eu apenas fecho os olhos
Ainda volto pra perder toda essa tralha
Sempre e sempre mais leve
Até soltar minhas amarras

Eu fecho os olhos e teu sino chama alto
Meu rosto é moço mas já fechado feito um forte
Em minha boca o silêncio é o que se nota
Mas em meu peito as palavras nascem cheias de força

Numa mesa daquela velha e perdida escola
Meu nome escrito com uma dor ainda fresca
Minha alma... apenas uma ambição...
O papel... o rio tórrido que ainda descreve a minha estrada

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Anedota pra sair de fininho

Diluído num minuto cansado
A porta do mundo fechada
É só o meu peito
É só no meu peito

Num segredo que sopra o vento
A educação que foi treinada
E tudo tão feio
E tudo tão feito pra durar só o tempo da foto

Que pecado eu fui cometer quando tive medo
Jogar os olhos por cima do muro
Assumir a guerra interior
E ao abrir de novo os olhos
Ver o corpo apartado da órbita deste mundo

Vou com calma ser absurdo
Vou com calma ser o chato em silêncio no canto da festa

É o que resta posto que o mesmo vinho já não me deixa mais bobo
O mesmo vinho já não me torna irmão dos vampiros sem rumo

Eu não posso fugir e nem quero
Já não tenho casa no mundo
Meu telhado é aqui dentro

Diluído num segundo cansado
O sono é o privilégio que eu não tenho
É só o meu peito

É no meu peito o lugar que ainda não compreendo

sábado, 2 de junho de 2018

Natal

Existe um lugar tão pequeno
Cheio de gentinha tão pequena
Com um vazio tão grande
Onde o cheiro de futileza se espalha
Onde a vida alheia é o esporte
Onde o louco é falso... e bobo... e burro...
Pois não é louco... é um trouxa de sarjeta
E a conversa tão fácil
E a covardia tão dócil
E a caixinha de desculpas sempre toca
Pronta pra brilhar a cada vômito

Esquecem que ser homem é ser criança e não moleque
Pois o caráter ali apodrece com a idade
E já faz algum tempo
Que do fedor já estão acostumados
De fato é de dar pena
De longe eu me sinto agraciado

Eles se seguram no buraco da lama
Se abraçam e se afundam
Pra garantir que todo mundo se lambuze
E nas placas platinas
Os sobrenomes já estão enferrujados

No calendário das tragédias anunciadas
Esses bostas fazem fila
E choram na cabeceira do caixão
Pois é mais fácil o choro que a luta
E pro coração pequeno a vida é feito a televisão
Esse coração uva passa

Tratei logo de pular fora
Não quero que me achem simpático
Não lá
Nunca mais

Mas me dói ver quem eu amo perdido por aquelas bandas