quarta-feira, 7 de outubro de 2009

ACABOU

Acabou na boca
Acabou na geladeira
Na água que despenca do chuveiro
No ângulo da ladeira
Na fantasia exasperada de fevereiro
Acabou o ano inteiro


Acabou no quarto
Acabou na gaveta
No cheiro secreto da roupa dobrada
No asfalto da Anchieta
Na cama que agora acorda arrumada
Acabou sem dizer nada

No copo que madruga sobre a pia
Nos viadutos da cidade
Na ignorância de quem nem sabia
No trânsito desta tarde

Acabou nas mãos
Acabou nos anéis
No café amargo da manhã com pressa
No bilhete no bolso da sessão das dez
No circular que demora mas ainda passa
Acabou sem fazer graça

No escuro do armário
No vazio confessionário
No entulho das gavetas
No barulho das cornetas
Num andante pinéu
Num olhar estanque no céu
E tudo mais que existe por aí
O que eu ainda nem vi
E se no mundo afora já foi o fim
Por que não acaba também dentro de mim?

Nenhum comentário: