sexta-feira, 29 de abril de 2011

VENTANIA

Corria os olhos por toda a sala
Ela era a dona das suas coisas
A dona do mundo
Um mundo sem qualidades pois todas as qualidades nela se aglomeravam
Um mundo mole
Magma que ela moldava conforme a sua vontade
As suas verdades mais mentirosas

Eis que então
Um vento a desafiou
Um vento fora dos seus planos
Jogou o queixo à frente
E com as pernas e os braços pôs-se a correr pela casa até a janela
Escancarou-a como uma deusa em sua ira

Lá fora estava Ele
O vento que ia e vinha de todas as ruas
De todas as noites possíveis
De todas as magias improváveis
De todos os milagres inacreditáveis

O vento a conhecia em sua escureza de certezas confortáveis
O vento era seu dono sem usar de força
Sem apontar-lhe sequer o dedo
Feito um veneno irresistível
Feito aquilo que existe antes mesmo do mundo

Tinha nela carinho e revelia ao mesmo tempo
Brincava com ela
Fazia brotar dentro dela ressacas e calmarias
Revoluções e confrarias
E ela finalmente
Despida de imprestáveis qualidades
Viu-se mulher
Viu-se entregue
Viu-se minha
Visto que era eu quem sobrava aquela ventania

Um comentário:

Anônimo disse...

Viajando huuuhuuuu Nos brilhos dessa moreana amanheci no verão... cada vez mais descassetado da cabeça... Maldita flor de trobeta me pirou de vez... by Ventania