domingo, 30 de outubro de 2011

CAL

Nem vê nada agora
Nem se arruma num sofá
Nem esconde o corpo dentro da roupa
Nem almoça e nem sente fome
Nem mente
Nem sangra ou solta uma gargalhada
Nem dança
Nem machuca
Nem trepa e nem separa
Nem chora
Nem nada
Nem engana isso que existe antes de tudo aqui ter um nome

Eu, antes afogado de tudo
Desafogo qualquer mágoa estando agora guardado dentro de mim
E nessa monção fresca que lambe a cidade
Onde assentam seus barulhos depois da chuva
Voam comigo meus mais sinceros absurdos

A cal da casa da esquina que nunca foi terminada
A paz de não saber de nada
O trem feito uma linha no horizonte que às duas me chamava
Passava, passava
Eu tinha a escola na manhã seguinte
Tinha que desaprender da gente que sou
Que nasci
E que me culpam por eu ser
Humano e errado
Vergonhosamente feliz e livre
Desorientado num coração sempre com fome de tudo
Daqui e dali
E de você... Sempre.

2 comentários:

Monstrinha disse...

Que poema lindo!
Acho que desprender-se de si mesmo é o maior sonho de quem vive com a alma perturbada pelas próprias ideias e ideais.
E "a paz de não saber de nada" é um talento natural das pessoas felizes! Mas só que quem não sabe de nada, normalmente se contenta com o nada. aí é que está a dificuldade!

Beto Renzo disse...

Monstrinha... bota dificuldade nisso. Um beijo pra você.